segunda-feira, dezembro 22, 2008

O MALA DO ANO

Embora a idéia não seja original, a iniciativa do jornalista Ricardo Kotscho de promover entre os leitores de seu blog (colunistas.ig.com.br/ricardokotscho) uma eleição para escolher os malas deste ano que se encerra é, no mínimo, divertida. Pena que a votação termina hoje (22).

Como, neste caso, o voto não é secreto, "darei publicidade" ao meu:

"Se, ontem (21), até o ombudsman da Folha de S.Paulo reclamou da presença excessiva do excelentíssimo ministro Gilmar Mendes no jornal, quem sou eu para não reconhecer-lhe o mérito de ter sido o “mala do ano”. E olha que, a meu ver, ele ganhou da Maísa, do SBT. Páreo duro…"

Até o momento, pesquisas de boca-de-urna indicam que Mendes tem forte chance senão de ganhar já no primeiro turno, levar a disputa para o segundo turno, superando assim fortes candidatos como Lula, Maísa, Galvão Bueno e Luana Piovani.

sábado, dezembro 20, 2008

Um tapinha global, ao vivo, não dói?

Eu queria ver se o repórter Márcio Canuto, da TV Globo, teria coragem de dar um tapa na cara, ou uma sapatada que fosse, no George W. Bush.



Imagino o seguinte diálogo entre Canuto e Bush:

_ (repórter) Eis aqui o fanático presidente norte-americano. Presidente, invadir o Iraque para defender os interesses imediatistas da indústria petrolífera ou manter o emprego na Casa Branca para um Republicano?

_ (Bush) Combater o terrorismo.

_ (repórter) E os custos? E os mortos de ambos os lados? Os prejuízos econômicos e ambientais?

_ (Bush) Foda-se

- TAPA NA RUBRA FACE PRESIDENCIAL -

_ (repórter) Que é isso, cowboy? Tenha calma, rapaz. Tenha calma. Você está impossível. Ficou entusiasmado demais - diz o repórter enquanto, agarrado ao texano, tenta lhe dar uns cascudos, no que é interrompido por ágeis mariners que o imobilizam com uma chave-de-braço.


Reconhecendo a dificuldade de alguém se aproximar do já ex-presidente norte-americano, eu ficaria satisfeito se Canuto empregasse essa sutil técnica da arte de interrogar, digo, de entrevistar - desenvolvida por agentes do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) - com Daniel Dantas, Paulo Maluf ou Darly Alves da Silva, este último condenado por ter encomendado a morte de Chico Mendes. Imagina a reação.

Só uma ressalva: O repórter semifosco soube por fontes seguras que, indiferente à ética jornalística, a mãe do rapaz esbofeteado aprovou o corretivo aplicado pelo repórter. Não bastasse abandonar o emprego e gastar toda a rescisão para ir de Fortaleza ao RJ assistir a um show, o garoto ainda renega a todo o esforço materno para lhe dar educação e fala um palavrão na tv, ao vivo. "Isso é coisa que se faça. O que os vizinhos vão pensar. Que a mãe não educou. Esse menino não se criou na rua, não".

TOM e JERRY

A BBC chancelou e o Estadão reproduziu:

Ratos são suspeitos em incêndio que matou 100 gatos

Fogo destruiu um abrigo para animais perto de Toronto, no Canadá.

"Ratos podem ser os culpados por um incêndio que matou quase 100 gatos em um abrigo para animais perto da cidade de Toronto, no Canadá.

O fogo também matou três cachorros e alguns ratos que esperavam adoção.

O relatório inicial sobre o incidente diz que ratos ou camundongos teriam roído a fiação elétrica do teto do prédio, o que teria causado o incêndio.

"É triste e irônico que ratos tenham provocado as chamas que mataram os gatos", disse o porta-voz do abrigo Sociedade Humanitária Ian McConachie.

"Infelizmente, os ratos também devem ter morrido no incêndio."

O fogo causou um prejuízo de US$ 250 mil (R$ 600 mil) e o incidente ainda está sendo investigado pelas autoridades canadenses.

Ao todo, apenas nove cachorros, dois gatos e um rato foram retirados com vida do prédio em chamas.

Eles foram mandados para outro abrigo, enquanto a sede da Sociedade Humanitária na cidade de Oshawa é reconstruída com a ajuda de voluntários. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC".

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Comentários (01)

Paladino Semifosco - A imprensa mundial tem a obrigação de acompanhar o desenrolar das investigações. Além da fumaça e do cheiro de churrasco, muitas dúvidas continuam pairando no ar.

Antes de mais nada, os investigadores devem evitar prejulgamentos, buscando identificar se os responsáveis pelo incêndio eram ratos ou camundongos, evitando assim que inocentes sejam criminalizados por algo que não cometeram. Um equívoco de tal natureza, além de lançar o descrédito sobre a Justiça, tende a reforçar velhos preconceitos contra minorias já bastante perseguidas.

Também resta saber se as autoridades canadenses pedirão o indiciamento dos responsáveis pelo incêndio que vitimou tantos pobres animais, entre eles alguns ratos órfãos já bastante maltratados pela má sorte e que morreram antes de verem realizado o sonho de encontrar uma família para chamar de sua.

Por fim, cabe a dúvida se os responsáveis por tocar fogo na palhoça serão indiciados. E, se forem, se responderão a crime culposo (sem intenção de ferir ou matar) ou doloso (intencional). Foi um crime premeditado, um múltiplo assassinato que deu errado, ou uma tentativa de suicídio que fugiu ao controle?

Qualquer que seja o caso, prevejo que a defesa deverá sustentar que seus clientes são inimputáveis por o crime ter sido motivado pela fome.



quarta-feira, novembro 19, 2008

Mídia e Operações Policiais: quem não está confuso não entendeu nada

O que fala às câmeras criou as revistas Veja (terá algum arrependimento?), IstoÉ, Quatro Rodas e os jornais da Tarde e da República. Atualmente, é diretor de redação de CartaCapital. Em suma, o jornalista Mino Carta não fez pouco pelo jornalismo tupiniquim, mas deve escapar à “honra” de ser biografado por Pedro Bial que, por razões óbvias, prefere Roberto Marinho.

Já o autor do artigo abaixo, Ricardo Kotscho, trabalhou nos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e Jornal do Brasil, entre outros, ao longo de mais de 40 anos de profissão. Ligado ao PT, ou, na verdade, a Lula, a quem conheceu ao cobrir o movimento sindical e as greves metalúrgicas durante a década de 1970, assumiu a Secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência da República durante o primeiro governo do ex-metalúrgico. Deixou o cargo ainda durante a primeira gestão, antes que irrompe-se, em 2005, a chamada “Crise do Mensalão”.

No que pese o que alguns podem classificar como “falta de isenção” e outros como “consciência de classe”, não dá para não prestar atenção quando esses dois analisam o papel desempenhado pela mídia brasileira e os efeitos desse comportamento sobre a sociedade.

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O preço da propina: R$ 18 milhões para juízes, políticos e jornalistas

Hoje (18), os jornais publicam o preço da propina paga à suposta rede de corrupção que protegia o banqueiro Daniel Dantas nas atividades criminosas de que é acusado: R$ 18 milhões

Ricardo Kotscho - http://www.revistabrasileiros.com.br/secoes/balaio-do-kotscho/noticias/235/


Sem muito alarde, depois de semanas dedicando os espaços nobres do noticiário à discussão sobre os métodos adotados pelos investigadores, hoje (18) os jornais publicam o preço da propina paga à suposta rede de corrupção que protegia o banqueiro Daniel Dantas nas atividades criminosas de que é acusado: R$ 18 milhões.

Pelos bilhões envolvidos nestas atividades, sei que esta quantia é troco de táxi, mas pode explicar muita coisa estranha na cobertura do caso. Quem fez esta constatação não fui eu, mas o bravo colega Luciano Mendes Costa, em seu comentário no programa de rádio do Observatório da Imprensa.

A revelação da quantia investida para conquistar os corações e as mentes de juízes, políticos e jornalistas, publicada pelo jornal "O Globo", foi feita pelo delegado Carlos Eduardo Pelegrini Magro, um dos responsáveis pelo inquérito que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, durante reunião de três horas com a cúpula da Polícia Federal, no dia 14 de julho.


Mino Carta e a "mídia nativa" (I)



Para o delegado Magro, que diz ter apreendido na operação bilhetes e informações digitalizadas num laptop, detalhando o esquema de propina, as críticas à investigação são "uma reação do crime organizado". Sobre os jornalistas, segundo ele, consta no organograma: "A gente contrata o Mangabeira [Unger, atual ministro de Assuntos Estratégicos] para chegar aos meios de comunicação".

Na mesma linha, Amaury Portugal, presidente do sindicato dos delegados da PF paulista, disse durante a abertura do congresso nacional da categoria, em São Paulo, que o crime organizado se infiltrou em todos os poderes.

"A Polícia Federal é um dos alvos disso. Nós, que conhecemos a instituição, sabemos que o que está colocado na imprensa não procede", afirmou Portugal à "Folha", a respeito das suspeitas de que houve grampo ilegal contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.

Mino Carta e a "mídia nativa" (II)



A reação dos delegados da Polícia Federal se deu na mesma segunda-feira em que os advogados de Dantas sofriam três derrotas na Justiça: o juiz De Sanctis foi mantido no caso pelo TRF e, além disso, foram negados dois habeas corpus que pretendiam anular a ação penal e os inquéritos policiais.

Parece que os advogados do banqueiro tentam controlar todo o processo, vetando juízes, anulando inquéritos, escolhendo políticos mais simpáticos à causa ou até indicando quais jornalistas devem ou não fazer a cobertura do caso. Podem até não conseguir, mas estão no papel deles de tentar. Resta saber como cada um cumprirá seu papel nesta história.

Mino Carta e a "malta infecta"




* (Para quem ver exagero nas afirmações acima, sugiro uma análise crítica das últimas edições de Veja e a leitura atenta da matéria "Opportunity diz que crise global prejudica mais que a Satiagraha" (acesse-a clicando aqui). Leia e depois me responda: quem são os generosos concorrentes do banco de Daniel Dantas que disseram ao repórter da Folha que a redução do valor do patrimônio líquido do Opportunity em consequência da operação policial e da crise financeira "não pode ser considerada inteiramente negativa"? Os mesmos "inimigos colecionados ao longo de 14 anos" a quem "avalistas internos" (??) do banco acusam de "contribuir financeiramente para a operação Satiagraha? Contraditórios eles, não?)

sábado, novembro 15, 2008

Sábado, 15 de Novembro de 2008

Após duas merecidas semanas de férias, volto a atualizar o playlist com as músicas que me ajudam a tornar a rotina menos semi-fosca. E depois de três relações (veja posts anteriores) com o que curto entre os "estrangeiros", nada mais justo que celebrar esse feriado apenas com canções nacionais.

Abaixo, música brasileira para dançar.

Musica Para Dancar Brasileira

quarta-feira, novembro 05, 2008

A Família Schürmann do Surf

Em outubro, a revista Fluir, publicação especializada em surf, completou 25 anos remando em meio aos tubarões e águas-viva do mercado editorial brasileiro.

Para comemorar o feito de uma turma de amigos “que sonhava em criar uma revista de surf” em uma época em que o esporte ainda não se profissionalizara, os repórteres perguntaram a 25 das pessoas mais influentes do setor quais são os seus sonhos enquanto surfistas.

As respostas variaram desde ser campeão mundial e viver profissionalmente do surf até surfar ondas perfeitas em praias com fundo de coral artificial ou piscinas com ondas. Uma boa parte, no entanto, não fugiu ao óbvio: poder correr o mundo atrás das melhores ondas com apenas alguns poucos amigos.

Contemplando (ou alimentado) tal fantasia, a revista trouxe como brinde o mais recente vídeo (Nalu) do freesurfer e big-rider Everaldo Pato.

Freesurfer é o sujeito talentoso e sortudo que, mesmo patrocinado, não tem que disputar campeonatos, bastando-lhe viajar (com parte das despesas pagas), pegar as melhores e mais vistosas ondas e possibilitar que a logomarca do patrocinador apareça bem em fotos e vídeos. Já big-rider é o cabra “hómi”, muito “hómi”, capaz de se atirar em ondas de cinco, seis metros, e que, em condições especiais, podem atingir o dobro disso.




No vídeo, ficam evidentes as razões porque o catarinense Pato é dos mais destacados big-riders do país. Talento e fissura, muita fissura para surfar em ondas de todos os tamanhos e tipo de formação e temperatura. Mas o interessante mesmo é a forma como o vídeo se relaciona com o tema central da edição de aniversário da Fluir, os tais dos sonhos.

Narrado a partir do ficcional ponto de vista da filha de Pato com sua esposa Fabiana Nigol - a pequena Nalu, do título, foi concebida durante as andanças do casal pelo globo -, o vídeo demonstra uma originalidade que transcende os habituais vídeos de surf.

Da mesma forma que Fábio Fabuloso (uma cinebiografia do paraibano Fábio Gouveia), Nalu atende às expectativas de surfistas que esperam ver Pato em ação, dropando as maiores ondas do planeta, mas também envolve quem não distingue Teahupoo de Paúba.

Para estes, o foco é deslocado para a história de um rapaz carismático e simples que, tendo um sonho, abriu mão de estabilidade, conforto e segurança para concretizá-lo. Do surfista que, fugindo aos estereótipos, casou-se e passou a viajar acompanhado pela esposa. Da garota que, insatisfeita com a rotina das grandes cidades, decidiu se aventurar e seguir ao lado do homem que ama e com quem teve sua filha, que já começa a viajar junto com os pais e seus amigos “malucos”.

Satisfeitos também devem ter ficado os patrocinadores de Pato, felizes de ver suas marcas associadas à idéia de que não há satisfação maior que a realização de um sonho.

domingo, novembro 02, 2008

Atores de Macapá lutam para atrair público e fazer teatro de qualidade

Macapá - Distantes das Regiões Sul e Sudeste, onde se concentram a maior parte da produção teatral brasileira e os principais agentes incentivadores das artes, atores macapaenses lutam contra as adversidades para fazer teatro de qualidade na “Capital do Meio do Mundo”. Embora o número de jovens interessados em teatro cresça ano a ano, Macapá ainda não conta com um único curso de graduação em artes cênicas. A falta de espaços para ensaiar e se apresentar é outro dos problemas enfrentados pelos interessados em montar um espetáculo.

Além disso, se quiserem assistir a qualquer peça de algum importante grupo teatral, os macapaenses têm que viajar para outros estados. “Nunca tivemos a oportunidade de assistir a um José Celso Martinez Corrêa, a um Antunes Filho ou a um Gerald Thomas. O que vêm são os grupos globais, um teatro de riso fácil e que tem platéia certa. Poucos grupos de teatro contemporâneo vêm a Macapá”, reclama o ator Paulo Alfaia, dizendo que a exceção são as companhias e atores que viajam o país como atração do Palco Giratório, um projeto do Serviço Social do Comércio (Sesc).

Atualmente, os mais de 300 mil moradores da capital dispõem de apenas dois espaços cênicos. Um é o Teatro das Bacabeiras. Além dos 705 lugares na platéia, o teatro conta com salas secundárias projetadas para abrigar oficinas e os ensaios de espetáculos. Boa parte dos eventos oficiais realizados em Macapá ocorre no Bacabeiras, que também é disputado por empresas interessadas em promover eventos.

O outro local destinado às encenações teatrais é o chamado Teatro Porão do Sesc Araxá. “Isso aqui era um depósito de lixo e nós decidimos transformá-lo num teatro de arena improvisado”, explica Alfaia. Além de atuar, ele dirige a única peça teatral (Bent, escrito pelo dramaturgo norte-americano Martin Sherman, retrata à perseguição nazista aos homossexuais na Alemanha da década de 1930) em cartaz durante a semana em que a reportagem da Agência Brasil passou na cidade.

Envolvido com teatro há mais de 20 anos, Alfaia diz que há poucos exemplos de atores que vivem exclusivamente das artes cênicas na cidade. Segundo ele, é muito difícil atrair o público, ainda pouco acostumado com o teatro. “É muito difícil viver de arte em Macapá. Todo o elenco tem outras atividades e a única instituição que nos dá apoio é o Sesc [Serviço Social do Comércio]. Buscamos apoio de políticos, de universidades, mas acabamos tendo que tirar dinheiro de nosso próprio bolso para produzir o trabalho da forma que queremos”, queixa-se.

Diretora-adjunta do Centro de Educação Profissional de Artes Visuais Cândido Portinari, unidade de ensino mantida pelo governo estadual e única a oferecer um curso gratuito para os interessados em se iniciar no teatro, Rosana Olívia Souza aponta duas razões principais para as dificuldades do teatro macapaense.

“Falta apoio dos empresários. Eles poderiam investir e apoiar o que é feito na cidade”, diz Rosana. “Além disso, as pessoas aqui não estão habituadas a valorizar nossos artistas, a pagar para assistir a um espetáculo teatral local. Temos peças de qualidade, mas nem mesmo as de maior sucesso local conseguem sobreviver apenas da bilheteria”, assinala a diretora.

Segundo Rosana, entre crianças, jovens e adultos, a Cândido Portinari atende cerca de 40 estudantes de teatro. O centro profissionalizante também mantém cursos de artesanato e de artes plásticas. Esse último, informa Rosana, também beneficia as artes cênicas, já que capacita profissionais que poderão trabalhar com a confecção de cenários e figurinos. “Precisamos que as pessoas vejam nas artes não apenas uma forma de entretenimento, mas também uma profissão”.

Para Alfaia, no entanto, atrair o público macapaense exige peças bem feitas e diversificadas, o que exige investimentos públicos e privados nos grupos e atores. “Temos que nos preocupar com a formação de platéia. Não dá para dizer que o macapaense não tem o hábito de ir ao teatro, porque ele só passará a frequentar um se houver uma produção cultural local. Para isso, precisamos de incentivo”, defende o ator, que diz já ter encenado peças para apenas duas pessoas, mas reconhece o esforço da Secretaria Estadual de Cultura.

“Mesmo assim, acho que é mais difícil fazer teatro em Macapá que no restante do país. Nas Regiões Sul e Sudeste, as instituições dão mais apoio às artes. Não apenas as instituições governamentais, mas também os empresários, por meio da Lei Rouanet. Aqui esse apoio não chega. Que eu saiba não há qualquer grupo beneficiado com a Rouanet”, diz Alfaia, que foi um dos ganhadores do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, com um espetáculo de outro grupo. A peça, segundo ele, ironizava o consumismo exacerbado.

sábado, novembro 01, 2008

Um "Segredinho" Escondido no "Meio do Mundo"

“Não vendemos nada além de sorvetes”, alerta Winter Júnior, como quem não soubesse que sua sorveteria, a Jesus de Nazaré, além de muito freqüentada pelos macapaenses, já se tornou ponto turístico obrigatório para quem visita a capital do Amapá.

Há 37 anos a família de Júnior vive dos sorvetes feitos com frutas e matéria-prima obtidas na própria região. Araçá, taperebá, tapioca, cupuaçu, bacuri, murici, capim santo, gengibre e jaca são alguns dos mais de 40 sabores à disposição da clientela que inclui deputados federais pelo Amapá e tripulantes de companhias aéreas. Gente que sempre dá um jeitinho de levar um isopor de sorvete para Brasília ou para suas casas.

O campeão de vendas, diz Júnior, é o chamado Marabaixo, feito com castanha do Pará, doce de cupuaçu, coco, e um “segredinho” que os proprietários não contam a mais ninguém. E olha que, de acordo com Júnior, não lhes falta generosidade para ensinar sua arte. Até mesmo em Brasília já existe uma sorveteria muito famosa cujo dono aprendeu as noções básicas do ofício na “capital do meio do mundo”.

Segundo Júnior, ainda que alguns membros da família tenham decidido diversificar os negócios abrindo estabelecimentos de outros tipos, a Jesus de Nazaré segue funcionando como quando seu pai a inaugurou. “Não servimos qualquer tipo de cobertura porque achamos que isso seria um crime. O que queremos é tirar a essência da fruta. Meu objetivo é que, quando você experimentar nosso sorvete, sinta estar comendo a fruta gelada”.

Os sorvetes não levam conservantes e são feitos em uma quantidade suficiente apenas para o dia em que são feitos. Portanto, quem chegar tarde corre o risco de não conseguir experimentar o Marabaixo. Cada bola – seja no copo, seja na casquinha – custa R$ 4.

Sorveteria Jesus de Nazaré - Rua Leopoldo Machado, 737

sexta-feira, outubro 31, 2008

Teatro Macapaense

foto: divulgação
Hoje (31) é o último dia para quem estiver por Macapá conferir que na "capital do meio do mundo" também se faz teatro de qualidade. O grupo Os Desclassificáveis encerra a temporada do espetáculo Bent, no Sesc Araxá, às 20 h. Ingressos a R$ 5.

Escrita em 1979 pelo dramaturgo norte-americano Martin Sherman, a história trata da perseguição nazista aos homossexuais à partir da segunda metade da década de 1930.

quinta-feira, outubro 30, 2008

UM LUGAR BONITO


As placas de sinalização indicam que, oficialmente, a edificação construída no século XVIII se chama Fortaleza de São José. No entanto, desde a reforma que consagrou o local às margens do Rio Amazonas como motivo de orgulho dos macapaenses, todo o entorno da fortaleza passou a ser chamado popularmente como “Lugar Bonito”.
O Parque do Forte, realmente, está muito bem cuidado. A fortaleza em si também está em bom estado de conservação, sendo um dos principais atrativos turísticos da capital amapaense.

Além disso, a brisa e a umidade fluvial são motivos a mais para que macapaenses de todas as idades e classes sociais que buscam refúgio contra o calor “do meio do mundo” (Macapá é cortada pela linha do Equador) se espalhem por bancos e pelos jardins que cercam a fortaleza.

terça-feira, outubro 28, 2008

Naked Lunch Amazônico

Não, não é. Se você, como eu quando me deparei com esse bicho em uma das ruas de Macapá, estiver pensando que isso é um besouro, quero dizer-lhe que não, não é um besouro.

Eu não usei qualquer alucinógeno durante minha estadia em Macapá (AP). Nem mesmo a famosa gengibirra eu experimentei. Talvez por isso essa coisa não tenha chegado a conversar comigo. Mesmo assim, a partir do depoimento de macapaenses que viram essas fotos, posso lhe assegurar que isso é uma barata. Uma barata d´água. E as fotos falam por sí: uma barata d´água maior do que uma caneta. Alguém me disse que "ah, mas essa deve ser filhote". Outra pessoa me disse que ela voa. E uma terceira que sua "picada" provoca febre. A partir daí, passei a dormir com as janelas fechadas.

Ainda bem que a idéia de que há cobras rastejando pelas ruas das cidades da Amazônia não passam de "folclore", fruto da ignorância. Basta que haja baratas desse porte capazes de voar.
(Não entendeu o título deste post? Não sabe o que é Naked Lunch? Clique aqui. Aqui ó! )

segunda-feira, outubro 27, 2008

SANTOS?

Não. Macapá.


Porque, diferentemente da cidade paulista onde todos os canais "correm para o mar", na capital amapaense essa água suja e fétida vai poluir o Rio Amazonas.

sexta-feira, outubro 17, 2008

O que Obama diz ouvir e o que os eleitores tiveram que escutar

Só o tempo dirá se Barack Obama será, se eleito, capaz de minimizar os efeitos da atual crise mundial para a economia norte-americana e, ao mesmo tempo, aplacar a antipatia que os Estados Unidos alimentaram junto a boa parte da comunidade internacional durante os últimos oito anos.

Em relação ao Brasil e a América Latina, especialistas afirmam que o democrata tende a ser tão protecionista quanto qualquer outro presidente norte-americano foi ou será. Entretanto, uma coisa é fato: Obama é pop.

Filho de um imigrante queniano e mulçumano, o candidato nasceu no Havaí, viveu alguns anos de sua infância na Indonésia e, de volta aos EUA, estudou na prestigiada Harvard. Durante a campanha presidencial, no entanto, alegou não ser mulçumano e evitou ressaltar o fato de poder se tornar o primeiro negro da História a governar a maior potência mundial. Além disso, também não costuma falar sobre a controversa questão da anexação, em 1898, do arquipélago havaiano pelos EUA.

Com seu histórico, Obama parece ter reacendido em boa parte do eleitorado as esperanças sobre a terra “das Oportunidades” ou “Promissora” . Sua campanha foi exitosa ao associá-lo à mudança com que sonha parcela dos norte-americanos e do resto do mundo após oito anos de gestão Bush Jr.

Somados todos esses fatores e considerada a estratégia de sua campanha, Obama atraiu o apoio de músicos, atores e artistas em geral. Além de reforçar sua imagem de sujeito “cool”, as celebridades com certeza lhe trarão votos preciosos.

O cd lançado por seu comitê para arrecadar fundos para sua campanha contou com nomes de peso da música e virou um sucesso na internet. Músicos do peso de Sheryl Crow, Lionel Richie, Adam Levine (do Maroon 5), Stevie Wonder, John Mayer, Jill Scott e outros cederam suas canções para que Obama recolhesse alguns dólares com a venda de Yes, We Can: Voices of a Grassroots Movement.


Obamas Music

Eu, no entanto, acho que o cd não está à altura das músicas de que Obama diz gostar durante entrevistas sobre o assunto. Portanto, tomando por base as entrevistas que o candidato concedeu às revistas Rolling Stone e Blender, preparei um playlist com “as canções do Obama”. Somei às músicas citadas pelo democrata algumas que foram gravadas por artistas entusiasmados com sua candidatura.

À Blender, Obama apresentou a seguinte relação musical: Ready or Not (Fugees); What´s Going On (Marvin Gaye); I´m On Fire (Bruce Spingsteen); Gimme Shelter (Rolling Stones); Sinnerman (Nina Simone); Touch the Sky (Kanye West); You´d Be So Easy to Love (Frank Sinatra); Think (Aretha Franklin); City of Blinding Lights (U2) e Yes We Can (Will.i.am, do Black Eyed Peas).

À Rolling Stone, Obama destacou o quanto gosta de Bob Dylan e de Bruce Springsteen. Também disse gostar de jazz. Em outras entrevistas, ele citou a obra de Louis Armstrong. Como não mencionou uma música em particular, escolhi uma de que gosto muito e que, se fosse o coordenador da campanha, diria ser oportuna: We Have All The Time in the World. Quer uma mensagem mais esperançosa que essa para vender para o eleitorado.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Toca o play!

Demorei a atualizar a parada de sucessos semi-foscos, mas eis, ao lado, minha segunda tentativa de bancar o dj.

De Stevie Wonder à Amy Winehouse, procurei unidade em The Jacksons Five, Outkast, Macy Gray, George Clinton e dois rappers da chamada "old school": o forte apelo dançante da música black.

E, ao final, ainda há um link para minha primeira experiência com o imeem (#01). Só rock.

Semana que vem, na sexta (17), tem o #03: Obama´s Music. E o atual playlist é transferido para aqui abaixo.



)

sexta-feira, outubro 03, 2008

Impressões de um semi-fosco numa cidade classe média

O bar do Hotel Acácia não funciona. Há tempos que nenhum hóspede pedia um vinho por aqui. Daí o gerente ter se esquecido de mandar os funcionários atualizarem os preços.

Treze reais por uma garrafa de tinto de La Rioja, Argentina, foi a melhor coisa que encontramos em São Caetano do Sul (SP) - minto, há também uma boa pista de skate em frente ao terminal de ônibus, no Centro -, cidade com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país e apenas 15 quilômetros quadrados. De resto, nada digno de nota.

Compreensível. Quem viaja para a “melhor cidade do país” e se põe a procurar cortiços não deve mesmo esperar o sono dos justos. Como punição, coube-me carregar o insustentável peso de um notebook que não tem dúvidas e que se nega a me revelar onde se esconde a interrogação. O celular que trouxe comigo só faz chamadas de emergência. Para o caso de eu precisar acionar a polícia ou o SAMU sulsaocaetanense. E meu cartão do banco também não funciona. Ou seja, viajei mil quilômetros para exercitar o desapego.

Leio que os “eleitores de São Caetano do Sul não se iludem com ações populistas”. Bom isso, né. Assim eu fico mais tranqüilo. Porque embora a prefeitura tenha reconhecido que a cidade tem sim cortiços, ninguém soube me apontar um. Agora, a cidade tem eleitor classe média. Ah, isso tem. Do tipo que toma vinho a R$ 13. O que eles sabem da vida eu ainda não descobri.

segunda-feira, setembro 29, 2008

A Cauda Longa**


Viva a tecnologia! Graças às novas ferramentas tecnológicas que, como o imeen (http://www.imeem.com) ampliam as possibilidades de produção e de compartilhamento de conteúdo, o escriba resiliente agora é, também, um dj semi-fosco. Toda as semanas, de preferência às segundas-feiras, vou procurar listar aí ao lado dez das músicas que tenha ouvido e gostado durante a semana. Se quiser, você ouvirá mais de meia-hora de música sem intervalos comerciais. Se não quiser ou não gostar da "programação", você pode ir a internet e montar sua própria parada de sucessos. De graça.

Nesta primeira experiência, baixei algumas músicas apenas para ver se a ferramenta iria funcionar bem no meu blog. Deu certo.








(** O livro A Cauda Longa (Ed. Campus, 229 pág) foi publicado nos EUA em julho de 2006 e é o resultado de um detalhado estudo desenvolvido por Chris Anderson, editor-chefe da revista Wired, que analisa as alterações no comportamento dos consumidores e do próprio mercado a partir da convergência digital e da Internet. Trata-se da teorização de um fenômeno já existente e em virtuosa ascensão na indústria do entrenimento, que tem gerado um movimento migratório da cultura de hits para a cultura de nichos, a partir de um novo modelo de distribuição de conteúdo e oferta de produtos.

Antes da Internet, a oferta de produtos era feita única e exclusivamente através de meios físicos: um produto físico, distribuído através de um modelo de distribuição físico, exposto em lojas físicas, que atendiam os consumidores de determinada região. Nesse modelo, os custos de armazenagem, distribuição e exposição dos produtos são muito altos, o que torna economicamente viável apenas a oferta de produtos populares, para o consumo de massa. E é justamente por isso que crescemos acostumados a consumir um número reduzido de mega-sucessos; pop stars, block busters etc. Um varejista tradicional, que tem custos fixos altíssimos para manter sua loja aberta, não tem espaço nas prateleiras para ofertar um produto que não venda pelo menos algumas dezenas de exemplares todo mês. Essa é a cultura de hit.

Com o surgimento do mundo virtual, estamos cada vez mais transformando em bits o que antes era matéria. E é justamente o rompimento das barreiras físicas que torna possível a criação de modelos de negócios de Cauda Longa, em que a oferta de produtos é praticamente ilimitada, uma vez que os custos de armazenagem e distribuição digitais são infinitamente inferiores. Produtos economicamente inviáveis no modelo de hit encontram no meio digital seus consumidores. Por sua vez, os consumidores que antes tinham acesso a um número reduzido de conteúdos, passaram a ter uma variedade quase que infinita de novas opções. E passaram a experimentar mais, consumir produtos que até então desconheciam. É essa variedade e essa nova experimentação que proporcionam as alterações no consumo tradicional (Não é à toa que a geração da Internet é menos fiel às marcas e mais predisposta a consumir novos produtos).

O que antes era um mercado ignorado, não só passa a ter valor como vem crescendo a cada ano. Peguemos como exemplo o mercado de músicas digitais. Somadas, todas as centenas de milhares de músicas menos populares, de bandas menores ou desconhecidas no mainstream (novos nichos), cujas faixas vendem apenas alguns downloads ao ano na iTunes, já representam um volume de vendas equivalente ao dos poucos hits produzidos para vender milhões de unidades. - fonte: Wikipédia)


sexta-feira, setembro 26, 2008

UM BRASILEIRO EM PARIS foto: Caetana

No afã de noticiar o bom desempenho do surfista guarujaense Adriano Mineirinho no circuito mundial de surf (post abaixo), o blog deixou de creditar a agilidade jornalística de nosso correspondente globetrotter Carlos Leite. Foi ele quem, por e-mail, nos contou as boas novas. Diretamente da terra de Jean-Paul Sartre, Pasteur, Jean Renoir e de Jordy.

De passagem pela França, o surfista prego brasiliense viu nosso conterrâneo brilhar nas ondas de Hossegor. E numa demonstração de que surfista não é alienado, Leite visitou Paris, chegando inclusive a dar três voltas ao redor da Torre Eiffel. Perguntado sobre a emoção de ter estado em um dos mais conhecidos cartões-postais mundiais, Leite foi suscinto. "Falta uma feirinha com barracas de sururu, açaí e de pastel e caldo de cana como as que a gente encontra na Torre de TV, em Brasília".

Leite só diz ter ficado eufórico ao se dar conta de que a bonitona que dirigia o carro que quase o atropelou era ninguém mais do que a atual primeira-dama francesa. "Ela olhou esse latino estuporado junto à calçada e eu tive certeza de que era a Laura Pausini".

quinta-feira, setembro 25, 2008

UM BRASILEIRO NA ELITE DO SURF

Você viu? O surfista guarujaense Adriano Mineirinho obteve o terceiro lugar no Quiksilver Pro France 2008, oitava etapa do campeonato mundial de surf, o chamado WCT.
Como? Você não soube? Ah, a maioria dos ditos “jornalistas esportivos” da mídia brasileira também não, ocupados que estão com o que classificam como os “esportes populares”, ou seja, aqueles em que o dinheiro investido por patrocinadores é altíssimo, tal qual a popularíssima Fórmula 1, muito praticada em nossas estradas.

Com os pontos conquistados na etapa encerrada ontem (24), na praia francesa de Hossegor, Mineirinho passa a ocupar o quarto lugar do ranking mundial, 242 pontos atrás do terceiro colocado, o australiano Bede Durbidge. Como uma das três etapas que faltam para o término do circuito acontecerá no Brasil, Mineirinho tem grandes chances de repetir ou superar o feito do cabofriense Vitor Ribas, que, em 1999, terminou em terceiro lugar no ranking.

O campeão de Hossegor foi o também australiano Adrian Buchan. Em sua primeita vitória no WCT, Buchan superou o octacampeão mundial Kelly Slater. Com o segundo lugar, o fenômento norte-americano está prestes a erguer o título de campeão mundial pela nona vez. Para tanto, basta que ele termine em nono lugar na próxima etapa do circuito, que acontecerá nas pesadas ondas de Mundaka, na Espanha. Caso contrário, o WCT deve mais uma vez ser definido em Santa Catarina.

sábado, agosto 23, 2008

Sábado, 23 de agosto de 2008

Quando os beats se tornaram os tais?
(Primeira parte)

Coincidências. Mexendo em meus livros, saquei algo de literatura beatnik, o que me fez lembrar de que, por volta de 1992, fui com uma antiga namorada ao cine arte de Santos (SP), onde assistimos ao Almoço Nú, de Cronenberg (post abaixo).

Era a segunda vez que íamos ao cinema e não tenho dúvidas de que, após meu convite para vermos Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, (nos revezamos nos cochilos!), as alucinadas cenas com máquinas de escrever que se transformam em baratas devem tê-la feito pensar se aquela relação não estaria fadada ao fracasso.

Enfim, dois ou três dias depois desse “revival”, eu andava pelos corredores atulhados das Lojas Americanas do Brasília Shopping à procura de um açucareiro de vidro, com tampa de rosca e provavelmente importado da China, quando me deparei com uma cópia de Almoço Nú, em DVD, na bacia das almas, ou seja, em meio às promoções de R$ 9.90.

Comprei na esperança de assistir com minha atual
namorada, que não mostrou qualquer entusiasmo. Mais velho e escaldado pela experiência, achei melhor não insistir, afinal, a relação vai muito bem, obrigado.

Sábado, 23 de agosto de 2008

As primeiras reações à obra beatnik

(continuação do post acima)


Esta semana, ao passar por uma banca de jornal do Centro de São Paulo, a capa do livro Quando eu era o tal – minha vida na Jack Kerouac School, de Sam Kashner, chamou minha atenção. Há algum tempo eu andava querendo lê-lo e inclusive cheguei a sugerir que me dessem como presente de amigo-secreto. Isso enquanto ele estava caro. Agora, como não o ganhei, achei melhor não perder a oportunidade de adquiri-lo por...R$ 9.90.

Na mesma noite, em um quarto barato da Avenida São João, ouvindo os atuais “junkies” viciados em crack uivarem na cinzenta noite paulistana, comecei a ler sobre a experiência de Kashner como primeiro “aluno” da Jack Kerouac School of Disembodied Poetics, um curso de literatura criado em 1975 por Allen Ginsberg e um professor de meditação budista tibetano, onde “lecionavam” Burroughs, Peter Orlovsky, Gregory Corso e outros.

Apesar dos vários erros de edição (atenção, editora Planeta) e da impressão de que Kashner, um autor semi-desconhecido norte-americano, parece querer `aparecer na foto´ ao lado de alguns dos mais significativos escritores das últimas décadas (Kerouac, apesar da obra irregular, sem duvida o é, graças a On The Road), o livro traz algumas observações interessantes, desconstruindo ou pelo menos rearranjando o mito sobre esses homens, então famosos e velhos.

De qualquer forma, todo esse blá-blá-blá é só para eu citar uma das passagens que mais me impressionaram nas cem primeiras páginas: a repercussão do lançamento dos primeiros livros desses autores, no final da década de 1950.

“Aprendi que Allen tornou-se o mais notório poeta da América enquanto estava fora do país, na metade dos anos cinqüenta. Ele visitava Burroughs em Tanger, no Marrocos, quando ficou sabendo que [o editor e poeta] Lawrence Ferlinghetti e o gerente da livraria City Ligts [que pertencia a Ferlinghetti] haviam sido presos por vender Howl [Uivo e Outros Poemas] para dois policiais à paisana após ter sido acusado de `promover obscenidades´ ao usar o Correio norte-americano para enviar cópias do livro a diversas celebridades”.

“A União Americana pela Liberdade Civil então viu uma oportunidade de gerar um caso importante para a Primeira Emenda, fazendo barulho pela liberdade de expressão. Ferlinguetti contratou um time de advogados de primeira e foi à júri no verão de 1957. Allen pensava não ter qualquer chance e permaneceu longe durante todo o julgamento, viajando pela Europa”.

“Peritos literários foram chamados para testemunhar a favor do livro e Ginsberg teve o raro privilégio de ter seu poema chamado de `grande´e `importante´ durante o julgamento. Para mim [Kashner] soou como se o julgamento, em que foi inocentado, tivesse sido a melhor coisa que poderia ter acontecido a Allen e aos beats. Isso os tornou famosos”.

“Nessa mesma época, On the Road [Pé na Estrada] foi publicado, mas Kerouac nunca se recuperaria daquele prazeroso acontecimento. Diferentemente de Allen, a fama não lhe caiu bem. No final, ele quase não teve tempo de se acostumar a ela. Se o romance tivesse sido publicado seis anos antes, quando foi escrito, poderia ter passado despercebido, mas o julgamento da obscenidade de Howl colocou um holofote nos beats. Mesmo assim, ninguém poderia ter previsto o tipo de sucesso que On the Road teria no outono de 1957 – o resenhista do jornal The New York Times comparou-o a O Sol Também se Levanta, de Ernest Hemingway”.

“Jack disse que se sentiu paralisado ao ler a crítica e o telefone não parou de tocar por anos. O romance ficou na lista dos mais vendidos por onze semanas. A Warner Bros. comprou os direitos para filmagem e Marlon Brando queria interpretar Dean Moriarty [Neal Cassady, o parceiro de viagem de Kerouac]”.

“E então foi a vez de Bill Burroughs, que após ter tentado trabalhar como detetive particular, garçom, exterminador de insetos e ter chegado a agir como um criminoso, falava sobre o enfado criminoso. A mesma editora City Lights recusou-se a publicar Naked Lunch, que foi então publicado em pequenas revistas e periódicos onde Ginsberg tinha alguma influência. Em 1958, a Chicago Review publicou nove páginas e então os funcionários da Universidade de Chicago se recusaram a publicar o resto do romance, descrito por um jornalista como “uma das maiores enganações de lixo impresso que eu já vi circulando publicamente”.

Funcionários da Chicago Review se demitiram e começaram suas próprias publicações. Ginsberg, Orlosvky e Corso participaram de leituras de poesia para arrecadar recursos para uma nova publicação em que pudessem terminar de publicar Naked Lunch. A primeira tiragem saiu em março de 1959 e foi imediatamente confiscada pelo Correio de Chicado como material obsceno, mas um ano depois um juiz absolveu o romance.

O editor da editora Olympia, de Paris, que mesmo tendo publicado Henry Miller havia recusado os originais do livro de Burroughs mudou de idéia diante da publicidade espontânea gerada pelo processo e ofereceu ao autor um contrato de US$ 800. Quando o livro finalmente saiu, não conseguiu uma única resenha em jornais ou revistas e Burroughs teve de se passar por crítico, escrevendo com outro nome sua própria resenha.
Em 1962 a obra seria republicada pela Groove Presse. Escritores como Norman Mailer e Nenry Miller se entusiasmariam com o romance, arrumando-lhe um lugar no panteão literário como uma espécie de obra-prima do grotesco. Uma viagem de canibalismo, violência homossexual, enforcamentos e ejaculações, o livro seria mais uma vez banido, desta vez em Boston. O caso chegou à Corte Suprema de Massachusetts e a maioria dos jurados votou que Naked Lunch não era obsceno.

Esta foi a última obra literária a ser retida por um órgão do governo. Allen Ginsberg nos contaria em classe, descrevendo o efeito do livro para o mundo nos anos 1960, que a “palavra havia sido liberada”. Para o poeta, isso era mais importante que o Dia D. escrevendo com outro nome sua pras e Burroughs teve de se fazer de cruando o livro finalmente saiu, nis do livro de Burroughs

quarta-feira, agosto 06, 2008

Quarta-feira, 6 de Agosto de 2008


ALMOÇO INDIGESTO

Quando assumiu o desafio de transpor para as telas dos cinemas o romance Almoço Nú (Naked Lunch), de Willian S. Burroughs, o mais alucinado entre os escritores beatniks, o cineasta David Cronenberg (1943) já havia se tornado mundialmente conhecido por Scanners (1981), A Hora da Zona Morta (1983) e A Mosca (1986).

Bastariam esses três títulos para que o canadense inscrevesse sua obra entre os mais polêmicos e, porque não dizer, bizarros filmes fantásticos. No entanto, com Almoço Nú – que no Brasil recebeu o horrível título Mistérios e Paixões -, Cronenberg queria provar ser capaz de filmar uma história considerada impossível de ser filmada.

Na hora de adaptar a obra de Burroughs, Cronenberg se deparou com o desafio de tornar crível as alucinações de Bill Lee, um escritor que “desistiu de escrever por considerar a atividade muito perigosa”. Após algumas prisões por uso de drogas, Lee – alter ego de Burroughs, vivido pelo Robocop Peter Weller – arranja um emprego como exterminador de insetos, dividindo seu tempo entre matar baratas e discutir literatura com seus dois únicos amigos (uma referência aos escritores Jack Kerouac e Allen Ginsberg [correção: segundo Sam Kashner [Quando eu era o tal – minha vida na Jack Kerouac School – Ed. Planeta], na segunda metade dos anos 1950, Burroughs recebeu em Tânger, Marrocos, a vista de Allen Ginsberg e Peter Orlovsky, e não de Kerouac. No post acima, as reações à Almoço Nú e outras obras beats há 50 anos]).

A coisa desanda quando sua esposa, interpretada por Judy Davis, se torna viciada no veneno que Bill utiliza para matar os insetos. Estimulado pela mulher, que descreve o “barato” provocado pela substância como “bastante literário”, Lee toma seu primeiro pico. E logo, como Joe, está viciado.

A partir daí, o escritor começa a ter alucinações em que é perseguido pela polícia por assassinar sua esposa à maneira de Guilherme Tell, ou seja, praticando tiro ao alvo. Lee vê máquinas de escrever se transformando em baratas que falam e que lhe desvendam um esquema internacional de tráfico de uma substância alucinógena obtida à partir da carne de um inseto brasileiro.

Das conversas com as estranhas criaturas que vê nas situações mais inusitadas, Lee crê ter sido escolhido para ser um agente responsável por se introduzir em meio à corporação criminosa, reportando seus planos. Tudo isso pontuado por sua atração por um escritora que lhe lembra a esposa morta (vivida pela mesma Judy Davis) e as dúvidas sobre sua própria sexualidade.

Este, ao lado de Rock Horror Show, sobre o qual ainda pretendo escrever, ocupa papel de destaque dentre os filmes mais estranhos que já assisti. Minha cópia em DVD eu comprei em uma Loja Americanas, por R$ 9,90.

terça-feira, julho 08, 2008

Terça-feira, 08 de julho de 2008

Não nos deixemos enganar pelo sorridente senhor ao lado, um polemista. Antes de participar como autor convidado da Festa Literária Internacional de Parati (Flip), o colombiano Fernando Vallejo concedeu uma entrevista que motivou membros de uma comunidade virtual dedicada ao encontro literário a discutirem um eventual boicote à mesa onde Vallejo debateria com o holandês Cees Nooteboom o incerto tema “Paraíso Perdido”.

Entre declarações ácidas, como a afirmação de que as estatísticas revelam que o Brasil já supera a Colômbia de dez anos atrás em termos de violência, e a defesa do controle da natalidade pelos governos, Vallejo atraiu a antipatia de muitos ao dizer que a ex-candidata à presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, libertadas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc, havia buscado seu próprio sequestro ao ir à região dominada pela guerrilha.
“Ingrid é uma pessoa feia e conseguiu o que queria, estar nas manchetes. Uribe também. E as Farcs são um bando de narcotraficantes assassinos. Não entendo por que as Farcs, que já causaram tanto dano à Colômbia, a soltaram. Não serviram nem para mantê-la presa”, disse o escritor, antes de afirmar que preferia que Betancourt tivesse permanecido presa. “Nos livraríamos de mais uma praga do país. A família ainda inventou que ela estava doente, e eu a vi hoje muito sã nas fotos, rosada. São mentirosos, eles e toda a classe política”. Cees Nooteboom

A sugestão de boicote à participação de Valejo não pegou e, às 19 horas do sábado, tanto a Tenda dos Autores, quanto a Tenda da Matriz, de onde o público assiste aos debates por telões, estavam lotadas. E, para mim, a conversa entre o colombiano e Nooteboom acabou sendo a melhor de toda a Flip. Junto com a mesa que reuniu o brasileiro João Gilberto Nool e a cineasta argentina Lucrecia Martel.

Antes mesmo de ler a referida entrevista publicada pelo O Globo eu já havia comprado um livro de Valejo, A Virgem dos Sicários. Pelo pouco que li, ele merece ser reconhecido por outros fatores que não por suas polêmicas declarações.

sábado, julho 05, 2008

Sábado, 05 de julho de 2008

Em termos de popularidade, já é possível apontar o quadrinista e escritor britânico Neil Gaiman como a grande estrela desta sexta edição da Festa Literária Internacional de Parati (Flip).

Hoje (5), dia em que também estiveram no centro do palco da Tenda dos Autores o angolano Pepetela, a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, o psicanalista e ensaísta da Folha de S.Paulo, Contardo Calligaris, o norte-americano Richard Price, o romancista italiano Alessandro Baricco, o holandês Cees Nooteboom, o colombiano Fernando Vallejo e o dramaturgo inglês Tom Stoppard, Gaiman foi o mais assediado pelo público em busca de autógrafos.

Após o término do debate com Price (mediado por Marcelo Tas), Gaiman passou cinco horas - sim, cinco horas - autografando exemplares não apenas do já clássico HQ, Sandman, mas também de seus romances.
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Houve quem entrasse na fila mais de uma vez apenas pela oportunidade de se aproximar do autor que, ao lado de Alan Moore, ajudou a revitalizar os quadrinhos durante a década de 1980.
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O fato acabou criando uma situação no mínimo constrangedora para Price, que deixou a mesa de autógrafos ao fim de dez minutos, enquanto uma fila enorme se estendia pela Praça da Matriz. Horas depois, Baricco e Calligaris concluiriam seu debate, autografariam seus livros, deixariam o local e Gaiman permaneceria ali, atendendo fans de todas as idades. Só deixou a mesa porque desde o início, já havia avisado que não perderia a palestra de Stoppard, marcada para as 19h.

Durante a palestra, em que falou sobre o processo de criação de histórias em quadrinhos, a importância dos diálogos em seus livros e as diversas formas com que sua obra é recebida em diferentes países (na Polônia, por exemplo, disse Gaiman, ele primeiro se tornou conhecido por seus livros de ficção. Só então surgiu os poloneses passaram a se interessar por Sandman e por suas outras histórias para HQs), o autor contou um episódio que deixou claro o grau de devoção a que chegam alguns de seus fans.

"Gosto bastante quando vejo um fã tatuado com um de meus personagens", explicou Gaiman. "Mas, certa vez, em Los Angeles, durante uma tarde de autógrafos, um cara pediu para que eu autografasse embaixo de uma tatuagem em seu braço. Eu peguei a caneta e autografei. Passado algum tempo, eu continuava assinando livros, o sujeito voltou, apanhou a fila e, na sua vez, parou na minha frente. Ele tinha tatuado meu nome por cima da assinatura que eu fizera horas antes. Ainda dava para ver o sangue escorrendo. Aquilo não foi legal".

sexta-feira, julho 04, 2008

Sexta, 04 de julho de 2008


Ninguém toca no assunto, mas lógico que há um outro bom motivo para aceitar o convite para participar da Flip, não? Melhor dizendo, ontem (3), o jornalista e escritor Xico Sá sugeriu que há um certo estímulo etílico a turbinar a tertúlia literária. Não à toa, em séculos passados, parati era sinônimo da melhor cachaça produzida no país.

Sexta, 04 de julho de 2008

Como em Porto Seguro (BA), na Flip também tem "pipoca", ou seja, a turma que acompanha a "festa" do lado de fora dos cordões, de graça.

No caso da festa literária, as cordas carnavalescas são substituídas por assépticas e frias grades de metal que isolam a chamada Tenda da Matriz da principal praça da cidade.

Quem se dispõe a gastar R$ 8 pode acompanhar sentado, por três telões e com direito a fones de ouvidos, as palestras que ocorrem a cerca de 200 metros dali, na Tenda dos Autores, onde os ingressos custam R$ 25.

Lógico que a economia tem inconvenientes. Este ano, por exemplo, a organização do evento dificultou a vida dos pipocas, levando a grade até o limite da área coberta. Por sorte não choveu, mas, à noite, o sereno pode incomodar as mães que acreditam que a friagem seja maléfica. Além disso, certas mesas mais concorridas exigem que o interessado chegue mais cedo a fim de conseguir um lugar de onde consiga ver e ouvir as palestras. Foi o caso de hoje, com a mesa que reuniu a cineasta argentina Lucrecia Martel e o escritor brasileiro João Gilberto Noll.




quinta-feira, julho 03, 2008

Quinta-feira, 03 de julho de 2008



Começou ontem (2), com uma palestra do crítico literário Roberto Schwarz, a Festa Literária Internacional de Parati, Flip. Em sua exposição sobre o romance Dom Casmurro, publicado em 1889, Schwarz, um dos maiores especialistas na obra de Machado de Assis, falou sobre a evolução da leitura e da análise crítica dos livros do escritor, tido, por muito tempo, como um autor "conservador", já que "sua ironia" teria sido de difícil apreensão para a crítica da época.


Na sequência da palestra de abertura, que lotou a tenda da Matriz, de onde é possível acompanhar, por telões, as palestras que ocorrem na Tenda dos Autores, houve shows do cantor paratiense Luiz Perequê (acompanhado por uma excelente banda) e de Luiz Melodia.














domingo, junho 29, 2008

Domingo, 29 de junho de 2007

Do Estadão, sobre o "festival" bancado pela Motorola. Cheguei ao Parque do Ibirapuera sem conhecer nenhuma das três atrações internacionais.


SÃO PAULO - E o parque virou um verdadeiro 'Indierapuera'. Cerca de 4 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, foram na tarde de ontem ao Parque do Ibirapuera para o Motomix Rokr Festival, que destacou esse ano as bandas inglesas Fugiya & Miyagi, The Go! Team e a canadense Metric. Parecia que, para cada 10 indies, havia um cão na coleira pelo parque. Muitos espectadores aproveitaram a tarde quente e tranqüila e montaram piqueniques com cangas no gramado entre o Museu Afro e o Planetário. Outros andavam de bicicleta entre o público.

Os shows começaram já com um público expressivo, às 15h, quando tocou a banda brasiliense Nancy, mas quando estava no palco, por volta das 18h40, a banda inglesa The Go! Team já tinha a praça à sua frente completamente cheia para seu concerto.

Os ingleses do Fugiya & Miyagi iniciaram o show pontualmente às 17h, tocando Ankle Injuries, de um set de 12 canções. Fortemente influenciados pelas bandas alemãs do krautrock, especialmente Kraftwerk e Can, o quarteto britânico dá à sua mistura também um tempero de eletropop dos anos 80. É uma banda orgânica, com apenas um teclado à frente e guitarra, baixo e bateria dominando a cena. Terminaram ovacionados pela platéia, tocando alguns dos seus hits (se é que têm hits): Photocopier, Chicker Bocker e, para finalizar, Electro Karaokê (no qual o nome da banda, Fugiya & Miyagi, é repetido como um mantra, lembrando uma versão dance de We are the Robots, do Kraftwerk).

Mais performática, a banda The Go! Team, conterrânea do Fugiya & Miyagi (ambos são de Brighton, Inglaterra) começou um pouco mais tarde seu show com The Power is On. Liderado pela cantora Ninja, de origem africana (que, falante e elétrica, lembra uma espécie de Preta Gil gringa), o grupo mostra também uma alternância nos vocais - as entradas das cantoras nisseis de vozes estridentes (Kim Fukami e Kaori Tsuchida) e o nome do grupo que os precedeu fazia pensar que a escalação tinha a ver com o centenário da imigração japonesa. Parece às vezes lembrar uma mistura do Pizzicato Five com o Belle & Sebastian.

The Go! Team, que é liderado por Ian Parton (ele formou a banda em 2004, depois de compor as canções do grupo no computador), foi formado como num encontro às cegas: os músicos foram recrutados às pressas para abrir um show do Franz Ferdinand. Com uma abordagem cartunística, mais uma boa dose de colagens pós-modernas (sua linha de frente parece também a do Cibo Matto, da cantora americana Yuka Honda), a banda fez a noite ficar mais dançante. A banda tocou duas músicas novas e vários hits, como Keys to the City e Everyone's a vip to Someone.

A banda que encerraria a noite seria o Metric, grupo canadense liderado pela bela cantora Emily Haines. Eles pretendiam tocar seus grandes hits, como Monster Hospital e Empty.

terça-feira, maio 13, 2008

Terça-feira, 13 de maio de 2008



Uma das poucas pessoas coerentes do atual governo, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, acaba de renunciar ao seu cargo. A iniciativa de Marina causou enorme alvoroço, não só em Brasília, mas em todos os veículos de comunicação. E, com certeza, ainda irá repercutir mundo afora.

domingo, maio 11, 2008

Santa Cruz de la Sierra, 07 de maio de 2008

(I) Consulta popular sobre autonomia de Santa Cruz opõe nascidos no estado mais rico da Bolívia e migrantes que buscam melhores oportunidades de vida

fotos: Marcello Casal / Agência Brasil

À frente do movimento autonomista que ganhou forças após a chegada, em 2006, do índio aimara Evo Morales à presidência da Bolívia, Santa Cruz foi a primeira província (estado) boliviana a consultar sua população a respeito do estatuto autonômico que grupos de oposição ao governo federal pretendem ver implementado.

Em toda Santa Cruz, a votação ocorreu no dia 4 de maio. Outros três dos nove estados bolivianos também já agendaram as datas para realizar semelhantes consultas. Em Pando e Beni a votação está prevista para ocorrer no próximo 1 de junho. Já em Tarija, a consulta deverá acontecer no dia 22 do mesmo mês.

Na prática, os estatutos autonômicos são espécies de Constituições estaduais que, em vigor, delegariam mais poderes aos governantes locais, hoje, resumidos nas figuras dos prefeitos (governadores) e alcaides (algo como os sub-prefeitos de algumas capitais brasileiras).

Em Santa Cruz, 85,5% dos votos válidos aprovaram a autonomia. Ocorre que, segundo a própria Corte Departamental Eleitoral de Santa Cruz (responsável por organizar a consulta a pedido do prefeito de Santa Cruz, Rubén Costas, sem o aval do Conselho Nacional Eleitoral, que declarou a iniciativa inconstitucional), enquanto 14,4% dos eleitores habilitados votaram contra o estatuto autonômico, o índice de abstenção chegou a 37,9%.

Como tinham estimulado os cruzenhos a não comparecerem às urnas para que não validassem uma consulta que não fora convocada pelo Congresso Nacional e que organismos internacionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA) não reconheciam como legítima, os líderes da campanha contra as mudanças contabilizam os quase 38% de ausentes aos que rechaçaram o estatuto autonômico votando pelo “não”. Com o resultado, sustentam o que Morales classificou como “um fracasso rotundo” da campanha autonomista. Juntos, os votos no não e abstenções totalizam 52,4% dos votos.

De qualquer forma, os números só comprovaram a divisão da sociedade cruzenha, o que, por sua vez, seria um indício do que está ocorrendo em maior ou menor grau em toda a Bolívia.

Em Santa Cruz, os que votaram a favor da proposta de autonomia criticam o que classificam como excessivo poder de La Paz, capital do país. Em sua quase totalidade, se opõem ao governo de Morales e às mudanças estruturais que este propõem, como a reforma agrária. Alegam ser favoráveis à descentralização das decisões políticas e econômicas como forma de permitir que os estados decidam onde e como investir os recursos a que têm direito.

Para os que se opõem ao estatuto, a iniciativa visa desestabilizar o governo de Morales e significa, na prática, uma quase declaração de independência. À frente deste grupo estão os chamados “massistas”, integrantes ou simpatizantes do partido de Morales, Movimento ao Socialismo (MAS).

Estes afirmam que os estados não podem assumir a competência exclusiva por temas como educação, saúde, segurança pública e até a prerrogativa de aprovar convênios internacionais. O ponto mais controverso, no entanto, é a possibilidade de os governantes estaduais administrarem os recursos naturais existentes em seus territórios e a propriedade da terra, estabelecendo o tamanho, características e parâmetros de cumprimento das funções econômica e social da terra.

Um dos líderes do movimento pró-autonomia, o fazendeiro Branco Marinkovic negou a intenção de separar Santa Cruz do restante do país e de enfraquecer politicamente a Morales. “Este nunca foi um movimento pela independência do estado. E não tem nada que ver com o governo de Morales. Este é um processo de muitos anos e que chegou ao seu ápice agora, mas que poderia acontecer com qualquer outro presidente”.


Possível candidato da oposição à Presidência da Bolívia e presidente do Comitê Pró-Santa Cruz, Marinkovic está entre os homens mais ricos do país. Ele diz a verdade quando alega que o movimento pela autonomia dos estados vem de longa data. Razão pela qual os próprios massistas defendem a autonomia. Para eles, no entanto, essa não deve servir para reforçar o poder amealhado pelas elites tradicionais. Nos panfletos que distribuía para convencer as pessoas a não votarem pela autonomia defendida pelo Comitê Pró-Santa Cruz e pelo governador, o grupo defendia a “autonomia legal e para todos”, sugerindo que somente a promulgação da nova Constituição tornará isso possível.