domingo, março 23, 2008

Dominical - Costa Rica

Após três noites em Zancudo, uma praia da província de Puntarenas, no sul da Costa Rica, o surfista brasiliense Carlos Leite e sua namorada decidiram seguir para Pavones. A menos de 20 quilômetros de Zancudo, Pavones é uma praia mundialmente conhecida por suas longas ondas para a esquerda. Há quem diga que é uma das ondas mais longas do mundo, já que, com a ondulação certa, seria possível surfar por uma distância de até 800 metros antes da espuma se quebrar contra a areia da praia.

O casal se deparou com um primeiro inconveniente: deixar Zancudo. Tão difícil quanto chegar à praia ainda pouco explorada turisticamente, sair também exige certa logística. A única opção para ir a Pavones, por exemplo, é acordar cedo, apanhar o ônibus que parte para Golfito às 5h45, descer em Conte, no meio do caminho, e apanhar um outro ônibus que, se tudo der certo, só passa ao meio-dia. São no mínimo seis horas esperando à beira da estrada.

Leite não sabia disso até chegar ao mercadinho de beira de estrada de Conte. A perspectiva de esperarem sentados em um banco de madeira desestimulou o casal e assim que surgiu o primeiro ônibus dali para qualquer outro lugar, Leite não pensou duas vezes em apanhá-lo, sem saber muito bem onde seria o tal lugar.

Ainda no Brasil e com base no que eu havia lhe contado de minha viagem de um ano e meio atrás, Leite planejara conhecer Pavones, onde não estive, para então seguir para o Parque Nacional Manuel Antonio, já no Pacífico Central. Diante da dificuldade para seguir o roteiro que havia estabelecido, ele decidiu que o melhor a fazer seria ir direto para Manuel Antonio. No entanto, a falsa idéia de que viajar por um país pequeno como a Costa Rica é fácil ainda o trairia uma segunda vez neste dia.

Carregando mochilas e prancha, Leite e sua namorada tiveram de apanhar mais dois ônibus para, seguindo as instruções que recebiam no caminho, se afastar do litoral em direção a cidade de San Isidro, de onde, enfim, conseguiram tomar um ônibus para voltar ao litoral. Após quase doze horas sacolejando por estradas em sua maioria não-pavimentadas, o casal não agüentava mais o calor. Assim, ao ver a placa indicando a praia Dominical, Leite ignorou meus comentários negativos sobre o local e se apressou a convencer a namorada de que o melhor a fazer seria passar a noite ali e seguir viagem em um ou dois dias.

Desceram do ônibus desorientados e cansados. Tanto que esqueceram de sua regra número um, ou seja, jamais se hospedar, comer ou comprar qualquer coisa sem antes pesquisar outras opções. A diária nem era tão mais cara, mas o quarto era horrível, pequeno, abafado. Sequer comportava uma cama de casal.

Foi o primeiro sinal de alerta quanto à ganância com que alguns exploram o turismo na Costa Rica. No mínimo, cada dois quartos daquela pousada deveriam ter dado lugar a apenas um. Por sorte, o cansaço era tanto que ambos dormiram sem sequer ligar para o calor. Pela manhã, a primeira coisa que fizeram foi acessar este blog para checar onde eu havia ficado em 2006.

Ao se transferirem para o Tortilla Flats, não apenas economizaram dinheiro como ocuparam um quarto maior, de frente frente para um dos locais mais procurados para a prática do surf em toda a Costa Rica.
A bem da verdade, o Tortilla Flats foi construído em plena areia da praia, o que a alguns mais sensíveis poderia ser o segundo sinal para o pouco caso de alguns em relação ao meio ambiente.

Pelo que Leite me contou, Dominical mudou desde que estive lá. Surgiram novos e sofisticados restaurantes, alguns hotéis de médio porte, lojas e até uma cafeteria. O clima de surf point, no entanto, segue intocado. Surfistas de todo o mundo se reúnem na praia, principalmente em frente ao Tortilla, aguardando pela maré certa para surfar. E onde há surfistas, há garotas, que acabam por atrair outras pessoas. Neste caso, quase todas falando em inglês.

Também continuam lá a área de camping diante da praia, os hippies vendendo artesanato, as iguanas e, nos finais de semana, os outsiders, os travestis e rastas que vêm de São José para curtir a liberdade da praia.

Dominical, como tantas outras praias da Costa Rica, do Brasil e de todo o mundo, é um exemplo de como o surf pode incrementar a economia de um local, mas também trazer, infelizmente, a especulação imobiliária e, na maioria dos casos, a degradação da própria praia.


Pessoalmente, não gostei das poucas ondas que surfei em Dominical. Leite parece ter gostado menos ainda. Além de ser o lugar de onde menos trouxe fotos da sua viagem, o brasiliense confessou ter entrado no mar uma única vez nos dois dias que passou por lá.

“Foi uma merda. Eu acordava cedo, ia checar as ondas e elas estavam relativamente grandes e fechando”, me disse Leite já de volta ao Brasil. “Eu esperava a maré baixar, as ondas diminuíam um pouco, mas continuavam fechando. E mesmo não estando tão grandes, elas quebravam com força suficiente para, num vacilo, quebrar minha única prancha”.

Na manhã em que se aventurou a surfar, Leite disse ter pegado poucas ondas nas quais não tenha completado o drop já em meio à espuma. E embora tenha visto alguns poucos surfistas surfando bem - a maioria apenas remava até o outside e permanecia sentada esperado por uma onda que abrisse -, ele experimentou a desagradável sensação de ser arrastado pela correnteza quando a maré começou a baixar. Após tomar na cabeça toda uma série fechando que quase lhe arrancou a prancha, Leite se convenceu de que os meses longe da praia, em Brasília, sem surfar, o tinham deixado despreparado para encarar Dominical.

quinta-feira, março 20, 2008

Playa Zancudo - Costa Rica

Ainda nao sao sete horas quando o surfista brasiliense Carlos Leite se levanta da cama. Leite ouve do quarto da pousada, a 50 metros da praia, o barulho das ondas quebrando. Ele pensa que, naquele ponto da praia, elas nao podem estar grandes, e se dá conta de que Zancudo desperta tao vagarosa e silenciosamente que o som das ondas é amplificado como se fossem surfáveis. Tanto quanto as que espera encontrar em outro ponto.

Leite deixa a namorada dormindo, apanha a máquina fotográfica e segue sozinho para a praia semi-deserta. Ao longo de uma corrida de meia hora, o surfista encontra apenas cinco pessoas caminhando pela areia escura e grossa. As ondas já começam a aumentar e, a cerca de 2,5 quilômetros da pousada Macondo, Leite enfim se depara com um dos motivos que o trouxeram até este ponto de difícil acesso do sul da Costa Rica: ondas solitárias de 1 metro na série se formam e abrem tanto para a direita quanto para a esquerda.

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Apesar de ansioso, Leite volta à pousada para tomar o café da manha com sua namorada. Ele calcula que, quando voltar à praia, já com a maré subindo, encontrará ondas ainda maiores um pouco além do ponto onde esteve há pouco. De qualquer forma, é preciso esperar pelo momento certo, determinado pela maré. Na Costa Rica, mais que no Brasil, é o próprio oceano quem dita a melhor hora para o surf.

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Durante o café, Leite conversa um pouco com o dono da pousada, o italiano Daniele Giuseppe Borello, que há 14 anos deixou o frio e as fábricas onde trabalhava para se fixar em Zancudo. Há dois anos chegou Patrícia, sua namorada. Com a ajuda dela e de outro conterrâneo, Luiggi, o restaurante Macondo acabou sendo escolhido como a melhor cantina italiana de Zancudo - é bem verdade que, além dela, Leite só viu uma outra, mas, de qualquer forma, a comida é excelente e faz jus ao título.



Daniel se queixou por o governo costarriquenho nao investir em melhorias no acesso à praia, asfaltando a única estrada que vem de Golfito - a mesma que liga Golfito a Pavones, uma praia mundialmente conhecida pela qualidade de suas ondas e a qual Leite, apesar da proximidade, desistiu de ir devido à dificuldade de transporte - ou disponibilizando mais barcos públicos, já que, hoje, há um único que sai de Golfito ao meio-dia e leva meia hora para chegar a Zancudo. Se perdem este barco e o ônibus que parte quase a mesma hora, os turistas e moradores que querem chegar a Zancudo tem de apanhar uma lancha particular, pagando muito mais caro.

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Ao comentar o fato da maioria dos estabelecimentos comerciais em pontos turísticos costarriquenhos pertencerem a estrangeiros, Daniel comentou o fator óbvio do maior poder aquisitivo de quem chega vindo de países com moedas fortes, mas também deixou escapulir um comentário muito utilizado no Brasil em outros tempos. "A los ticos les gustan hacer lo vago", disse ele, ou seja, os costarriquenhos sao chegados a nao fazer nada.

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Finalmente Leite e namorada seguiram para a praia. Caminharam cerca de dois quilômetros sob sol forte, seguindo pela areia, entre o mar e a vegetaçao que encobre a estrada e as casas de Zancudo. Quando pararam, uma série de ondas se erguia no mar, a pouco mais de 50 metros da areia.

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Leite vestiu sua lycra de olho na série, simulou um alongamento e se atirou ao mar. A correnteza facilitava a remada até o fundo, mas mesmo assim, Leite sentia os braços pesados após meses sem surfar. Quando chegou no outside, sentado na prancha à espera de sua primeira onda, ele virou para admirar a praia. Vista do mar, a vegetaçao que avança sobre a areia parecia ainda mais exuberante.

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Quando voltou sua atençao para o horizonte, Leite pressentiu a ondulaçao avançando em sua direçao. Virou a prancha em direçao à praia e começou a remar, prevendo o ponto em que a massa de água iria dobrar-se sobre si própria. Conforme a onda se ergueu, a força do mar impulsionou ao surfista brasiliense que, ao chegar atingir a crista, se pôs de pé sobre a prancha.

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Dropando para a direita, de costas para a onda aberta a sua frente, Leite relaxou o corpo e apenas permitiu que a prancha deslizasse ligeira sobre o mar. Tentou fazer o mínimo de movimentos possíveis e seguiu assim até que a onda perdesse a força.

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Quando se jogou de cima da prancha, mergulhando no Oceano Pacífico, Leite já podia dizer ter iniciado sua primeira surf trip pela Costa Rica. E voltou para o outside pensando sobre se todo o resto da viagem seria fácil assim.

sábado, março 15, 2008

Playa Zancudo/Golfito - Costa Rica

Após duas noites na capital costarriquenha, San José, o surfista brasiliense Carlos Leite e sua namorada seguiram para o sul do país em um monomotor Cessna Caravan. A aeronave da empresa aérea Sansa parte do aeroporto internacional Juan SantaMaría, em Alajuela, e é uma opçao relativamente barata às péssimas estradas locais.


De aviao, gastando a partir de US$ 69 (tarifa promocional, comprada com bastante antecedência), é possível fazer em uma hora o percurso que, de carro, tomaria em torno de sete horas e, de ônibus, todo um dia. A experiência de sobrevoar a bem-preservada regiao de Golfito em uma pequena aeronave por si só vale o custo da passagem.

De Golfito à praia de Zancudo há duas alternativas. Ou pegar um ônibus e dar uma grande volta ou apanhar, ao meio-dia, a lancha pública que atravessa a baia em menos de meia hora. Qualquer que seja a opcao, vale a pena, se possível, checar antes os horários de transporte. No caso de Leite e sua namorada, que só chegaram a Golfito já no meio da tarde, a sorte contou a favor, pois puderam aproveitar uma lancha particular que saia para levar um norte-americano e que lhes cobrou muito menos que os habituais US$ 40 por pessoa.

Em Zancudo nao é difícil encontrar onde se hospedar. Há várias alternativas ao longo da principal e única estrada de terra que atravessa o local. Algumas estao mais próximas ao cais onde as lanchas atracam, mas há várias cabinas, pousadas e hotéis numa distância de três quilômetros. Carlos Leite se hospedou na Macondo, onde, além das suítes, funciona um legítimo restaurante italiano.
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Todo o esforço para chegar é recompensado pela beleza de uma praia ainda pouco explorada pelos turistas. Além de caminhar com sua namorada por uma praia semi-deserta, Leite pode experimentar a sensaçao de surfar sozinho, escolhendo as ondas que queria pegar.

quinta-feira, março 13, 2008

San Jose - Costa Rica

Antes de partir rumo ao Pacifico, o surfista brasiliense Carlos Leite decidiu passar alguns dias na capital costarriquenha, San Jose. Ele e sua namorada se hospedaram no albergue da juventude Pangea Hostel (US$ 30 o casal) e, demonstrando que seus interesses excedem o surf, partiram para conhecer alguns pontos turisticos da capital e, principalmente, como o proprio Leite afirmou em seu mais desavergonhado portunhol. "observar o cotidiano de los josefinos".


Pela proximidade com o albergue, Leite e sua namorada iniciaram o passeio pelo Museu de Los Ninos (avenida 9 com calle 4). Transformado em um importante equipamento cultural, o "castelo" abrigava a antiga penitenciaria central. Hoje, alem de um local dedicado as criancas (acesso pago), abriga uma galeria onde artistas plasticos costarriquenhos e estrangeiros expoem suas obras. A visita ao patio central e as galerias e gratuita. Alem do que, ali funciona o Cafe del Museo, onde Leite e sua namorada gastaram menos de US$ 4 (1.900 colones a um cambio de 500 por US$ 1) para almocar.
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Do museu, Leite seguiu para as pracas de La Cultura e de La Democracia, dois pontos de grande movimento na capital. Tambem visitaram o Teatro Nacional, inaugurado em 1897, onde o surfista posou para fotos ao lado de figuras igualmente ilustres em suas respectivas carreiras.




Leite e namorada tambem se perderam nos corredores do Mercado Central, patrimonio historico cultural josefino, e passearam pelo bairro Otoya, onde, seguindo rumo ao Zoologico Nacional Simom Bolivar, admiraram casas antigas, visivelmente inspiradas na arquitetura europeia.










A noite, sem muitas opcoes, o casal tentou, sem sucesso, se comunicar com viajantes de varias partes do "mundo mundial", gastando seu parco ingles. De qualquer forma, o bar do Pangea oferece cafe gratuito todo o tempo e computadores com acesso a internet, alem de uma fauna humana bem diversificada.

O plano de Leite: seguir de aviao ate Golfito, no sul do pais, e, de la, apanhar um barco ate a praia de Zancudo.
Pura Vida!

sexta-feira, março 07, 2008

Sexta-feira, 07 de marco de 2008


Sete horas de voo separam o aeroporto de Guarulhos, em Sao Paulo, do Aeroporto Internacional Juan Santa Maria, em Alajuela, na Costa Rica, America Central. A partir do Brasil, e possivel viajar escolhendo entre duas companhias aereas.

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A Taca costuma cobrar sempre alguns dolares a mais do que sua concorrente, a Copa Air, que alem de mais barata e de fazer escala em Panama City - ao contrario da Taca, que voa por Lima, no Peru - deixou de cobrar pelo transporte de pranchas desde que o peso nao exceda o limite estabelecido para voos internacionais. Exemplo a ser seguido por outras companhias, inclusive brasileiras. Ainda mais porque ja ha um projeto de lei neste sentido tramitando no Congresso.

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A cidade de Alajuela e a porta de entrada para a Costa Rica. Para os mais afoitos, e possivel inclusive ir dali direto as praias, seja as da costa do Pacifico, seja as do Caribe. No meu caso, optei por comecar a viagem pela capital, San Jose. Da para sentir a real de viver na Costa Rica, o cotidiano do seu povo, ja que, diferentemente do que acontece no litoral, nao ha tantos gringos pelas ruas e ainda se ouve mais o espanhol que qualquer outro idioma, sobretudo o ingles.

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Onibus ligam Alajuela a San Jose por menos de 1 dolar, mas para quem estiver carregando sua prancha, o melhor e ou apanhar um taxi por, em media, 20 dolares, ou, para quem, como eu, vai se hospedar em albergues - hostels ou backpacker, como sao conhecidos aqui - combinar previamente o traslado - ou shutler - na hora de reservar um quarto. Em media, em San Jose, os albergues cobram 8 dolares por pessoa, mais 4 dolares pela capa com pranchas.

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Na capital tambem ha opcoes de hospedagem para todos os bolsos. Nao apenas por uma questao de economia, mas principalmente de oportunidade de se relacionar com pessoas de culturas distintas. Em San Jose, os dois mais conhecidos sao o Toruma e o Pangea.

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Bem, o resto vai ter de ficar para depois, pois ja estao desligando os micros e eu nem sequer descobrir as teclas certas para pontuar este texto.

domingo, março 02, 2008

domingo, 02 de março de 2008


Férias

A segunda vez é sempre a melhor. Mesmo quando sua segunda é a primeira dela.
Nesses casos, você deve tirar vantagem da experiência prévia, do fato de estar menos ansioso, para garantir que ela, desde a sua primeira vez, fique tao satisfeita quanto você. Isso porque embora a vida nos reserve grandes surpresas (como você, a esta altura, se dar ao luxo de uma segunda vez), embora a vida seja espetacularmente surpreendente, nada é capaz de te garantir uma terceira viagem a Costa Rica. Por outro lado, é fácil prever que ela, da mesma forma que você há apenas um ano e meio, vá querer uma segunda, quiçá, várias outras.
Como dizem por aqui, Pura Vida.