quinta-feira, dezembro 24, 2009

A Voz das Carrocinhas

Eita país, debochado. “Brasileiro à tona na maré alta da última etapa do capitalismo”, o pernambucano João do Morro é mais um destes artistas populares que, a exemplo da banda Calypso, se beneficiam da pirataria e da reprodução viral de seu trabalho na internet e, de repente, caem nas graças da mídia.

Autor de versos perolados como os da música Papa Frango (A moda agora é ganhar sapato do frango,calça do frango, camisa do frango / Sem discriminação!/ A minha roupa, quem me deu foi o frango), Morro ganhou as carrapetas pernambucanas musicando letras sarcásticas e de duplo sentido com uma mistura de samba, funk, axé, brega e até rock.


A “visão de mundo do artista”? Vai da afetiva recordação das assaduras causadas pelas “cuecas de copinho” (Quem não se lembra das cuecas de copinho/ um kit de três cuecas/ de um pano vagabundinho”) à observação atenta de alguns costumes contemporâneos (se pra um salão, ela não pode/ compra biliro e enche o cabelo de bobe/ olha essa menina o que eu vou te contar/ se tu não pode dar chapinha/ passe o ferro de engomar).


Por princípios (que, graças a Deus, não os tenho!) eu deveria ter detestado sua música, mas algo que me soou como uma mistura de Roberto Ribeiro, Moreira da Silva, Mamonas Assassinas, É o Tchan e Calypso acabou me conquistando. Como já bem recomendava Tony Tornado, pra tocar o povão é preciso dar na veia das empregadas. Neste sentido, João do Morro, ex-açougueiro, ex-camelô, tá em vantagem.




segunda-feira, dezembro 21, 2009

As capas das semanais

"O mundo parece diferente para pessoas diferentes, dependendo do mapa que lhes é desenhado pelos redatores, editores e diretores dos jornais que lêem."
(Bernard Cohen, The Press and Foreign Policy, 196


















sexta-feira, dezembro 18, 2009

Ídolos

Pois é, eu vi Ídolos, da Rede Record. E no que pese a contradição da tv do bispo almejar criar ídolos, minha modesta opinião é que o programa foi uma das boas realizações televisivas deste ano

Não que eu acredite na fórmula. É preciso ser muito ingênuo para acreditar que participar ou até mesmo vencer um programa de auditório baste para transformar alguém na nova estrela da música popular. Não é por aí. Ninguém até hoje foi capaz de sintetizar esta receita.

Apesar disso, o programa teve o mérito de reunir alguns jovens cantores de muito talento e que, bem orientados, demonstraram personalidade artística, escolhendo muito bem o repertório, elaborando junto com a banda que os acompanhavam novos arranjos e apresentando interpretações bem pessoais para grandes (ou nem tanto) sucessos populares.

Caso de Diego Moraes, apontado desde o início pelos jurados como o candidato com maiores chances da vencer o programa e, assim, ganhar o prêmio de lançar um disco pela gravadora Warner Music Brasil e receber assessoria empresarial para se lançar no cenário artístico.

Na final, contudo, para surpresa de Calainho, (que há muito só faltava pedir para que outros concorrentes deixassem a disputa em reconhecimento ao talento de Diego), deu Saulo, o gago. O garoto que, em 2008, havia ficado pelo caminho logo nas primeiras fases do programa. E que, na final, quase foi massacrado pelos jurados por ousar cantar uma música em inglês.

Se daqui a um ano ainda ouviremos os nomes de Saulo (1º), Diego (2º), Hellen Lyu (3º), Priscila Borges (4º) ou de Dani Moraes (5º), só o tempo dirá.









































domingo, dezembro 13, 2009

Idéias que valem a pena compartilhar

Já conhecem o Ted? Não. Bom, pra começo de conversa, o correto seria perguntar pela TED, já que, inicialmente, a sigla dizia respeito às conferências que, desde o distante ano de 1984, especialistas em tecnologia, entretenimento e design proferiam ou na Califórnia (EUA), ou em Oxford (Inglaterra).

Desde o princípio, a proposta era permitir que pessoas de destaque em suas áreas de atuação pudessem partilhar suas experiências e idéias com uma audiência seleta, capaz de refletir e espalhar novas práticas.

A idéia deu certo e atraiu muita gente boa disposta a resumir, em no máximo 18 minutos, alguns dos aspectos mais importantes das descobertas, invenções, idéias e ações que julgam mais importantes para os nossos dias e para o futuro.

Com o advento das novas tecnologias de informação e comunicação e a crescente valorização da idéia de formação de redes, não tardou para que um grupo de pessoas se propusesse a disponibilizar gratuitamente, pela internet, o conteúdo destes encontros. Surgiu assim o Ted.com, um site reunindo as “idéias que valem a pena espalhar”.

Com o site e a popularização da internet, o que antes ficava restrito a uma seleta platéia de convidados agora está ao alcance de qualquer interessado com acesso à rede mundial de computadores.

Abaixo, a título de demonstração, postei dois dos vídeos de que mais gostei: o da escritora peruana-chilena Isabel Allende e o da pouco conhecida (no Brasil) ativista Majora Carter, que em um discurso emocionado, explica de maneira clara os conceitos de Justiça Ambiental e sustentabilidade ao contar como bairros habitados por minorias raciais ou sociais sofrem mais com os efeitos de políticas urbanas impensadas. Para assistí-los aqui mesmo, é só clicar sobre o nome delas nas janelas abaixo.
No site http://www.ted.com/ há centenas de outras palestras. Proferidas em inglês, elas são traduzidas por voluntários de diversos países. Caso as legendas não apareçam automaticamente, basta selecionar o idioma desejado, clicando em view subtitles e escolhendo a opção Portuguese (Brazil)). No caso do vídeo de Allende, talvez seja necessário primeiro colocar legendas em espanhol e só depois optar pelo português.





sexta-feira, dezembro 11, 2009

Dito e Feito

Algumas das frases que marcaram a (minha) semana:
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“Vou lutar pela mudança definitiva de certos usos e costumes da política brasileira. Com as atuais regras eleitorais, não disputarei mais nenhuma eleição. O país necessita de uma ampla e profunda reforma política”
Do ainda governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, acusado de comprar o apoio político de deputados distritais com dinheiro de propina paga por empresas contratadas pelo GDF
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“Até um panetone vira um presente simpático se você colocar nele um bilhetinho bem pessoal”
Da sempre chic Gloria Kalil, aparentemente indiferente à implicância política de se introduzir papeizinhos pessoais em panetones
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“Quero saber se o povo está na merda e eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra. Esse é o dado concreto”
Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se orgulha de falar “a língua do povo”
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"Minha ideia é reiterar e ampliar também o conceito da Semana de Arte Moderna [de 1922]"
Da ex-musa do axé, Daniela Mercury
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"O cigarro parece meu amigo, mas é meu inimigo"
Baby, personagem de Glória Pires no novo filme de Anna Muylaert, `É Proibido Fumar´
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"A mola é o desafio que move o ser humano"
Da apresentadora Bernadete Alves...ah! Só eu e a Lídia a conhecemos mesmo

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Paraísos Artificiais

MAGNÍFICO! Eis o mínimo que posso dizer do romance "As Viúvas das Quintas-Feiras", da jornalista argentina Claudia Piñeiro. Meu amigo Carlos Leite trouxe de Buenos Aires uma cópia pirata do filme (que, na Argentina, estreou em agosto deste ano) e acabou por me deixar curioso sobre o livro que, por coincidência, está em promoção na livraria Leitura.

Vencedor do prêmio Clarín de 2005 e sucesso de vendas em seu país, a história se passa em um condomínio fechado nas cercanias de Buenos Aires e é, segundo o escritor José Saramago, a "análise implacável de um microcosmo social em acelerado processo de decadência", em meio a sucessivas crises econômicas que atingiram o país vizinho nas últimas duas décadas do século passado.

"Altos de La Cascada é o bairro onde vivemos". "Um bairro fechado, isolado por um alambrado perimetral escondido por detrás de arbustos de variadas espécies, com campo de golfe, quadra de tênis, piscina, duas club houses. E segurança privada". "Mais de duzentos hectares protegidos, nos quais só podem entrar pessoas autorizadas". "Ao redor do conjunto, a cada cinquenta metros, há câmeras que giram cento e oitenta graus". "As ruas têm nomes de pássaros".

"Não há calçadas. Circulamos de automóvel, moto, quadriciclo, bicicleta, carrinho de golfe, scooter ou patins e, quando caminhamos, o fazemos pela pista de rolamento. Em geral, qualquer pessoa que esteja caminhando sem traje ou equipamento esportivo é empregada doméstica ou jardineiro".

Hábil, Cláudia Piñeiro constrói personagens críveis por meio das quais descreve, de forma sutil, porém irônica, os códigos e valores tão caros à classe média ocidental, tão preocupada com as aparências e com o futuro.
"Todos os que viemos morar em Altos de La Cascada dizemos ter feito isso buscando o "verde", a vida saudável, o esporte e a segurança. Com essa desculpa, inclusive diante de nós mesmos, acabamos por não confessar por que viemos. E, com o tempo, já nem nos lembramos. A vinda para La Cascada produz um certo esquecimento mágico do passado. O passado que resta é a semana passada, o mês passado, o ano passado. Vão-se apagando os amigos da vida inteira, os lugares que antes pareciam imprescindíveis, alguns parentes, as recordações, os erros. Como se fosse possível, em certa idade, arrancar as folhas de um diário e começar a escrever um novo".
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Recomendo! E deixo aqui o link para quem quiser ler o primeiro capítulo do livro de 252 páginas publicado pela editora Alfaguara. Abaixo, trailler do filme baseado no livro e dirigido por Marcelo Piñeyro (o mesmo de Plata Quemada e Cinzas do Paraíso).

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Twittando

Enquanto ouço ao longe o ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciar, no Congresso Nacional, que novos pelotões de fronteira serão criados na Amazônia, leio no site Waves que a surfista cearense Silvana Lima obteve a única nota dez do primeiro dia do Billabong Pro Marui 2009, realizado na praia de Maui, no Havai.
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Olho para o deputado Raul Jungmann sentado ao lado de Jobim, quase dormindo, e me pergunto, "será que com a chuva que caiu ontem em São Paulo está dando onda em Santos?".
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Em mais de duas horas ouvindo Jobim falar, a única novidade é:
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A diferença entre os valores gastos pelo governo brasileiro com a manutenção das tropas militares nacionais no Haiti e o valor reembolsado pela Organização das Nações Unidas (ONU) já ultrapassa R$ 414 milhões, segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim.
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Segundo o ministro, desde 2004, ano em que o Brasil assumiu o comando da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), o país já gastou mais de R$ 703 milhões para manter seu contingente no país. Deste total, a ONU reembolsou pouco mais de R$ 288 milhões.
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“O Brasil está aportando recursos para o Haiti, já que o reembolso feito pela Onu está aquém do valor empenhado pelo governo brasileiro”, declarou o ministro durante audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados que acontece neste momento.