terça-feira, agosto 31, 2010

Para além do brega paraense

StereoScope é uma banda de Belém, capital do Pará, que vem ganhando respeito e fans Brasil afora misturando Jovem Guarda à surf music e a outras influências da música pop. Hoje (30/08), o grupo tocou de graça para menos de 50 pessoas que, na maioria, davam a impressão de estarem de bobeira pelo Sesc Consolação, em São Paulo (SP). Pena, pois os quatro músicos mereciam uma platéia maior.

Com três discos na praça (Rádio 2000, de 2003; O Grande Passeio do StereoScope, de 2006 e o recente Conjunto de Rock), Jack Nilson (vocal e guitarra), Marcelo Nazareth (guitarra), Ricardo Maradei (baixo) e Daniel Pinheiro (bateria) já disseram estar interessados em desconstruir "os lugares-comuns do rock" (Jack Nilson). Não chegaram a tanto, mas as canções, de aparente simplicidade melódica são, de fato, uma boa surpresa.

A qualidade do som dos vídeos postados não está boa, mas dá para ter uma idéia de como a banda, com oito anos de carreira, se porta no palco. Para conhecer o som dos caras, vale acessar o site da gravadora Trama, que disponibiliza os dois primeiros cds para audição e para baixar. O endereço é http://tramavirtual.uol.com.br/stereoscope (Ouça com Atenção: a faixa A Lira, do álbum Rádio 2000)


segunda-feira, agosto 30, 2010

Make Me Smile - Steve Harley & Cockney Rebel

Há dias em que você acorda crente... e se dá conta de que só crendo... E então te dá vontade de revirar sua coleção em busca de uma música pop batida e perfeita com a qual você possa dançar agarrado com sua crença. E mesmo não sabendo dançar, teu credo neste dia é tão forte que te conduz ao ritmo da velha balada. Dois pra lá, dois pra cá, você se surpreende querendo crer que, talvez, a letra escrita há várias décadas exista apenas para descrever esse exato momento em que tudo parece estar ao alcance das tuas mãos. Mesmo quando, casualmente, este momento de epifania se dá numa segunda-feira e uma nuvem de poluição cobre a cidade e esconde o sol.

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sábado, agosto 21, 2010

Mart´nália é acometida por "síndrome de Vanusa" durante show em Brasília

O sujeito quando não é rico ou popular tem que ao menos procurar estar ligado e contar com alguma sorte. Ano passado, almoçando em um shopping de Brasília, me deparei com o Luiz Melodia na mesa ao lado. De um comentário despretensioso surgiu um convite para ir à apresentação que o músico faria naquela mesma noite, durante a festa de 21 anos da Fundação Cultural Palmares. Imagina você chegar a um show do Melodia e dizer aos produtores que ele mesmo o convidou...Quase não deu certo, mas isso é uma longa história e o importante é que, no fim, entramos eu e minha namorada.

Este ano, para minha surpresa, algo parecido voltou a acontecer. Com o detalhe de que eu havia chegado a Brasília a menos de 12 horas, aproveitando uma promoção de passagens aéreas a R$ 1 a volta. Só por viajar barato eu já estava satisfeito, mas aí encontrei um amigo e, a seu convite, fui parar no show Mães D’Água — Yèyé Omó Ejá, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional.

Atenção TV Brasil, atenção tevês públicas: como é que ninguém transmite um evento como este? Para celebrar os 22 anos da fundação, o diretor artístico Fábio Espírito Santo e o maestro Ângelo Rafael Fonseca bolaram o inédito encontro de sete cantoras negras que representassem e exaltassem os atributos de Yemanjá.

A proposta resultou no encontro de Alaíde Costa, Daúde, Luciana Mello, Margareth Menezes, Mart´nália, Paula Lima e Rosa Maria que, individualmente ou em duplas e, ao fim, juntas, interpretaram canções de Dorival Caymmi, Edu Lobo, Vinicius de Moraes, Baden Powell, entre outros. Com o luxuoso acompanhamento de uma orquestra completa.

Apesar de algumas deficiências técnicas, o show foi ótimo e mesmo a Luciana Mello, que eu já havia visto antes e não gostado, me surpreendeu positivamente. O único senão foi de Mart´nália, acometida por algo pior que a "Síndrome de Vanusa" já que, tráida por um problema no monitor escondido na frente do palco, revelou não saber a letra da canção O Mar Serenou, de Candeia. Atrapalhada, ao invés de parar e recomeçar após acertarem a letra no prompt, decidiu seguir em frente com um "nã-nã-nã ...quem samba na beira do mar é sereia". Constrangedor para ela, para os músicos da orquestra que seguiam atônitos e para parte da platéia que a aplaudia como que a incentivá-la a não se abater.

A letra é realmente difícil e coisas assim acontecem, mas que Mart´nália é uma cantora limitada ninguém há de negar. Contudo, tem carisma e, em sua carreira solo, tem sabido como nenhuma outra cantora recente (depois de Marisa Monte) escolher o repertório e os músicos que a acompanham. Ontem, com uma orquestra, a receita quase desandou. E cantando ao lado de uma Margareth Menezes ou junto de uma Paula Lima, sua voz sumia. Ainda assim, foi das mais aplaudidas e soube encarar com gaiatice uma segunda tentativa de interpretar a mesma canção para que ficasse registrada no DVD que a Fundação Palmares deve lançar em breve. Atenção mais uma vez tevês públicas: isso é política cultural afirmativa. E, como sugestão, que nos próximos anos a festa ocorra em um espaço aberto já que quem financia o evento é o Ministério da Cultura. Isso permitiria que mais gente visse os shows e, ao mesmo tempo, levaria mais gente a conhecer a fundação e a refletir sobre a luta antiracismo.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Poderia e deveria ter rendido muito mais, mas este é um tempo acelerado e superficial...


Conflito em torno do cumprimento de direitos humanos é inevitável, diz filósofo argentino

Agência Brasil - 18/08/2010 - 17:20

São Paulo – As divergências e os conflitos em torno do estabelecimento e do cumprimento dos direitos humanos são inevitáveis, garante o filósofo argentino Enrique Dussel, fundador da Filosofia da Libertação, corrente filosófica criada na América Latina no final da década de 1960. Para Dussel, como os direitos são conquistados mediante a mobilização dos grupos excluídos e, em geral, questionam a legitimidade de direitos já consagrados, o choque de interesses é inevitável.

“Quando as vítimas [de um sistema] se dão conta de que seus direitos não estão incluídos na lista de garantias vigentes, elas rompem com o consenso”, disse Dussel à Agência Brasil, ao participar da 1ª Semana de Educação em Direitos Humanos, evento realizado pela Universidade Metodista e que ocorre até amanhã (19), em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

Segundo ele, não há como estabelecer uma lista de direitos fundamentais que sirva adequadamente a todas as épocas e situações. “O consenso em torno dos direitos em vigor, num determinado momento histórico, é fruto de um movimento anterior e toda vez que os dominados – aqueles que não participaram do acordo que definiu esses direitos – passam a exigir um novo direito, os dominadores passam a reprimir essa nova consciência crítica. Está gerado o conflito”, afirmou.

“Durante os conflitos, o direito já consagrado, muitas vezes, perde sua legitimidade enquanto as novas exigências, quando legítimas, pouco a pouco, passam a ser aceitas, terminando por se tornar o novo consenso. De qualquer forma, sempre haverá excluídos”, comentou Dussel, que hoje é professor da Universidade Metropolitana do México, país onde se exilou em meados da década de 1970, fugindo da perseguição sofrida durante a violenta ditadura militar argentina. Para ele, a América Latina experimenta a oportunidade de uma “segunda independência”.

“A experiência política latino-americana é uma novidade na história mundial. É algo muito, muito importante, a eleição de um indígena [Evo Morales] para a presidência da Bolívia; um operário [Luiz Inácio Lula da Silva] no Brasil; um ex-guerrilheiro como Maurício Funes em El Salvador; um bispo progressista [Fernando Lugo] no Paraguai; um Rafael Correa [presidente do Equador] e um Hugo Chávez [presidente da Venezuela]. Temos um verdadeiro laboratório político aqui”, comentou Dussel, entusiasta de iniciativas como a criação, na Venezuela, do Poder Cidadão, criado para garantir a participação institucional da população na estrutura de poder e para fiscalizar os outros Quatro Poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário e Eleitoral).

domingo, agosto 15, 2010

A falta que um assobio faz

* (reproduzo abaixo um poema escrito pela jornalista e professora universitária santista, Lidia Maria de Melo, autora de, entre outros, "Raul Soares, Um Navio Tatuado em Nós", livro em que documenta o vergonhoso episódio do navio-cárcere que permaneceu ancorado na baía de Santos e no qual prisioneiros do regime militar foram mantidos presos entre abril e outubro de 1964. Segundo ela mesma, o poema abaixo começou a ser escrito em 2000, mas só foi concluído em 2009, de maneira que, apesar de algumas mudanças recentes, ainda representa o pensamento de muitos)



Um Assobio
Lidia Maria de Melo


Minha cidade mudou de cor.
Já foi vermelha, desbravadora,
mais que temida: foi respeitada.

Minha cidade tinha
um característico viço incomum.
Homens erguiam sacas de café, de açúcar
e tantos outros produtos
que garantiam sustento digno.

Minha cidade era de brios.
Já foi grevista, polêmica,
operária, dona de vida à toa na beira do cais,
artística, intelectual,
poética, teatral,
vanguarda política e musical.

Minha cidade foi palco de eternos e heroicos dribles,
célebres conquistas,
inesquecíveis vitórias.
Gerou discursos, comícios,
inflamadas assembleias.
Inspirou prosas e versos.
Minha cidade já teve siso, ares sombrios...
Minha cidade sempre se defendeu.

Nos últimos tempos, minha cidade contraiu
uma palidez preocupante,
uma cruel anemia.
Minha cidade ficou branca.
Mas não com ares de paz.

Seus meninos tombam, abatidos,
ainda no vigor dos hormônios.
Minha cidade virou manchete
na internet, rádios, jornais e emissoras de TV.

Minha cidade perdeu o sono
e morre de medo.
Minha cidade anda doente,
necessitada de intensivos cuidados.
Minha cidade precisa
é recuperar o bom humor de um assobio.

** (Agora que melodia mágica deve ser esta a ser assobiada para que nossa cidade recupere o bom-humor que permita a volta dos shows na praia e o uso adequado do Teatro Municipal e da Cadeia Velha? Que desestimule aqueles que pensam em promover abaixo-assinados para impedir o uso da Concha Cústica ou para fechar o Ouro Verde? Que devolva à Avenida Mário Covas, seu verdadeiro nome e aos jovens à esperança de poderem dar o melhor de si em sua própria terra?)

segunda-feira, agosto 09, 2010

FLIP

Fui, vi e voltei. Não plenamente satisfeito, mas tampouco insatisfeito. Digamos que, das seis edições da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) a que estive presente, a deste ano foi a mais...insossa. Culpa do menor espaço dedicado à ficção? Da ausência de boas polêmicas? Do meu desconhecimento (compartilhado por boa parte do público) a respeito da obra do sociólogo Gilberto Freyre?

Para os organizadores, "a diversidade de temas garantiu o sucesso" desta oitava edição da Flip. Segundo eles, entre 15 e 20 mil pessoas acompanharam as 19 mesas de debates e conversas que aconteceram entre a quarta-feira e o último domingo. Consequentemente, as receitas da festa saltaram de R$ 5,9 milhões em 2009 para R$ 6,3 milhões este ano. Um bom sinal, lógico, mas, para mim, a seleção dos autores convidados ficou mais irregular que as ruas de pedras da cidade.

Quem esperava que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se valesse do convite para proferir a conferência de abertura do evento para fazer proselitismo político acabou acompanhando a uma "conferência extremamente complexa", nas palavras do diretor de programação da Flip, Flávio Moura. Não achei isso e o próprio FHC repetiu mais de duas vezes não conhecer a fundo a obra de Freyre, mas o que importa é que ele respeitou o caráter do evento e se absteve de fazer política, salvo por uma ou duas alfinetadas sutis.

Já a chilena Isabel Allende, autora de, entre outros, A Casa dos Espíritos, fez piada de si mesma e das mulheres chilenas em geral, contou que o poeta Pablo Neruda a incentivou a se tornar escritora dizendo que as características que a tornavam a pior jornalista em atividade em seu país seriam as mesmas que poderiam ajudá-la a se transformar em uma boa autora de ficção, evitou se alongar na descrição de sua pouca vivência com seu tio, o presidente morto durante um golpe militar, Salvador Allende, e defendeu a literatura como paixão. Infelizmente, não parecia estar em um de seus melhores dias e o jornalista Humberto Werneck não conseguiu extrair muito mais dela.





Mas pior sorte teve o experiente Silio Boccanera. Após anos como repórter correspondente no exterior, Silio tentou conduzir o bate-papo com o indiano Salman Rushdie para temas controversos como o extremismo religioso (sobretudo o mulçumano), as críticas que apontam uma "visão estereotipada" na obra de Rushdie e a situação iraniana. Em tom ríspido, o autor indicou ter vindo ao Brasil para falar de seu novo livro e não de política. O jornalista se fez de desentendido e seguiu a mesma linha, pouco interessado em divulgar a obra do indiano. Dá para condená-lo por isso? Acho que não, né?

Mas foi só as 17h15 de sábado que enfim as Musas baixaram sobre a Tenda dos Autores. Dando mais munição aos que defendiam que a Flip, por seu caráter, deve privilegiar os autores ditos "literários" (contistas, cronistas, romancistas e poetas), o poeta Ferreira Gullar fez a palestra "do ano".





Prestes a completar 80 anos e recém-agraciado com o Prêmio Camões, a maior distinção literária da língua portuguesa, Gullar esteve impagável. Seja ao ironizar os que colocam a atuação política acima da obra literária de qualidade intrinseca, seja ao contar as muitas história que vivenciou nas últimas seis décadas.

"Não adianta fazer poesia ruim, engajada, para não mudar nada. Se é para não mudar nada é preferível fazer boa poesia", disse pouco antes de ler um trecho de sua obra mais famosa, o Poema Sujo, de 1976, escrito quando achava que seria `desaparecido´ pelo regime militar. Aplaudidíssimo, Gullar não escondeu a fragilidade e o estranhamento com que recebia a homenagem.





Ainda no sábado, na sequência de Gullar, duas lendas-vivas subiram ao palco para, digam o que disserem os jornais que apoiam o evento, frustrar o público presente. Não foi preciso nem meia-hora para que os cartunistas norte-americanos Robert Crumb e Gilbert Shelton transformassem a mesa mais concorrida desta Flip na conversa com o maior índice de evasão dos últimos tempos. Ao menos na Tenda do Telão, que começou lotada e logo estava com metade dos assentos vazios. Culpa das piadinhas de Crumb sobre o tamanho das bundas das brasileiras? Penso que não e acho que o mediador, o editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, teve boa dose de responsabilidade para o fracasso da conversa, que não revelou absolutamente nada. Principalmente pela desastrada atenção que deu à esposa de Crumb, a também desenhista Aline Crumb, que convidada a subir ao palco, acabou monopolizando o encontro diante de um apático Shelton que poucas oportunidades teve para falar.

quinta-feira, agosto 05, 2010

com uma conferência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre as bases do pensamento do sociólogo Gilberto Freire, teve início, ontem a noite, a oitava edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, como o evento é mundialmente conhecido (seus organizdores já cogitam a criação de uma edição inglesa, o Flip UK). E a simples opção do tucano já rendeu ao evento sua primeira polêmica: além das críticas de autores de ficção e de ensaistas literários, como Marcelino Freire, que pela primeira vez não virá a cidade histórica, um grupo de cidadãos ontem se postou na entrada da Tenda dos Autores com camisetas e cartazes com frases contra a participação do sociólogo paulista que já pediu que esquecessem o que ele escreveu. Apesar disso, FHC frustrou os que esperavam polêmica, atendo-se a apresentar a um público heterogêneo sua avaliação do principal livro de Freire, Casa Grande E Senzala (ainda que, o tempo todo, destacando não ser um profundo conhecedor da obra de Freire). Entre as mesas desta quinta-feira uma das que promete ser das mais concorridas dos últimos anos: a da chilena Isabel Allende, autora de, entre outros sucessos, A Casa dos Espíritos.