sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Autor de reportagens em quadrinhos vem a Flip em julho

O quadrinista maltês Joe Sacco é um dos oito autores internacionais que já confirmaram presença na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano em que o homenageado será o modernista Oswald de Andrade.


Maltês, Sacco concilia sua formação como jornalista ao talento para contar histórias em quadrinhos (hqs) na hora de produzir verdadeiros livros-reportagens como Palestina - Uma Nação Ocupada (ed. Conrad, 2000) e Gorazde - A Guerra na Bósnia Oriental (ed. Conrad, 2001), ambos frutos de suas viagens a territórios em conflito e premiados com o prêmio HQ Mix.

É de se esperar que Sacco, seja uma das grandes sensações desta 9ª edição da festa, mantendo a tradição dos últimos anos, quando quadrinistas como Robert Crumb e Gilbert Shelton (2010) e Neil Gaiman (2008) levaram os admiradores em busca de um autógrafo a passar horas em filas intermináveis.

Na edição de Palestina - Na Faixa de Gaza que tenho em casa, o prefácio, com o título de Homenagem a Joe Sacco, é assinado por ninguém mais, ninguém menos, que o crítico literário e ativista pró-independência da Palestina, Edward Said, considerado um dos maiores intelectuais do século XX.

"Quanto mais eu lia de forma compulsiva os gibis [da série] Palestina, mais me convencia de que esse era um trabalho político e estético extremamente original, diferente de todos os outros no longo, muitas vezes túrgido e irremediavelmente distorcido debate entre palestinos, israelenses e seus respectivos defensores", anota Said sobre o trabalho de Sacco.

Os outros nomes já confirmados pelos organizadores do evento, um dos mais importantes do mercado editorial brasileiro, são o escritor argentino Andrés Neuman (cujo O Viajante do Século é, segundo os jornais El País e El Mundo, é um dos cinco melhores romances escrito em língua espanhola durante o ano de 2009); o jornalista norte-americano David Remnick, autor de, entre outros, A Ponte, apontada como a mais completa biografia do presidente Barack Obama.

Entre os estrangeiros convidados pela organização, também já confirmaram presença na 9ª edição da Flip - que este ano acontece entre os dias 6 e 10 de julho -, a argentina Pola Olaixarac, o angolano Valter Hugo Mãe, o jornalista e cineastra Claude Lanzmann, o crítico italiano Franco Moretti e o francês Emmanuel Carrére. A organização do evento ainda não divulgou a relação de palestrantes nacionais.

The book is on the table já era

 Você se sentiria tranquilo com sua filha matriculada nesta escola? Omito o nome da respeitada instituição de ensino, mas se alguém duvidar de que o texto abaixo é sério e quiser saber mais sobre a escola, basta clicar sobre a frase abaixo.


 
   Conversa inicial para conhecer um estrangeiro, ganhar tempo e não passar vergonha quando não souber responder algo ou mesmo como dispensar quem não é interessante com classe são algumas das dicas da rede de escolas de inglês [...]

   O Brasil é um dos países que mais recebem turistas durante o período de Carnaval e, dentre eles, com certeza há muitos homens e mulheres à procura de brasileiros e brasileiras para curtir a festa a dois. O problema é quando o idioma se torna o grande impasse para novos relacionamentos. Pensando nisso, a [ ...] – rede de franquias de escolas de inglês - resolveu preparar um guia simples de paquera em inglês para  ninguém passar vergonha no Carnaval e ainda causar uma boa imagem aos turistas estrangeiros. 

   “A idéia foi criar um guia prático, com palavras e frases curtas, que permitam que a pessoa se comunique de forma simples, mesmo que ela não fale nada em inglês. Dessa forma ela conseguirá ao menos se apresentar e mostrar interesse, depois é só dizer que não fala muito bem o inglês”, brinca Leiza Oliveira, diretora da rede. 

   As dicas estão disponíveis no site da [...]. O guia está dividido em três partes.

1º Fase – Para conhecer alguém: Para quando você quer se aproximar daquela pessoa, ao menos para se apresentar e não sabe nem por onde começar. Serve também para os casos em que a pessoa recebe uma “cantada” e não consegue corresponder, pois não sabe nem o que dizer. Dentre as frases que todo estudante deveria saber Would you appreciate any drink? (Aceita uma bebida?) e I cannot speak English very well but I can’t lose the opportunity to talk to you (Eu não falo muito bem o inglês, mas não posso perder a oportunidade de falar com você!)

2º Fase – Ganhar tempo e procurar um intérprete: Você percebe que o assunto acabou, que não está mais entendendo nada do que a outra pessoa esta falando, mas não quer deixá-la escapar, pois está muito interessado (a). Então, nessa hora, você diz alguma coisa que te permite ganhar tempo, até aparecer alguém que saiba falar melhor o inglês. Coisas do tipo I need to go to the toilet, could you wait, please (Eu preciso ir ao banheiro! Me espere!) 

3º Fase - Escapar de uma cantada sem ser mal educado: O estrangeiro ou estrangeira que chegou em você não te agradou? Basta dispensá- lo (a) sem ser mal-educado. Para tanto, é importante saber pronunciar algo como So sorry, I have to go now, it was nice to talk to you ( Com licença, minha amiga (o) esta me esperando)

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

127 Horas

Pra início de conversa, jamais saiam de casa sem dizer a suas mães aonde vão. Depois, estejam certos de que por mais autossuficientes que forem, mesmo que sejam um "super-herói americano", vocês sempre vão precisar, "ops!", de outras pessoas.


Eis, aparentemente, as duas principais mensagens contidas no filme 127 Horas, do diretor inglês Danny Boyle, sobre a história real do montanhista Aron Ralston, um solitário amante de paisagens selvagens e atividades radicais que, após um acidente, fica preso em um cânion isolado no meio do nada sem que ninguém saiba onde ele se encontra ou quando deveria voltar à cidade grande e ao trabalho 

Exímio construtor de sagas visuais cujos títulos mais conhecidos (Cova Rasa, Trainspotting e Quem Quer Ser Um Milionário?) contém algumas cenas memoráveis - como o imáginário mergulho de um drogado (Ewan McGregor) numa privada imunda, em Trainspotting -, Boyle volta a explorar o sentimento de desajuste de seus protagonistas. Além disso, seus cacoetes estilísticos estão todos presentes: edição veloz, cores vivas `estourando´, rigor pop na escolha da trilha sonora (tocada alta) e cenas de pormenores (o interior da câmera filmadora ou do cantil d´água) aparentemente desnecessárias não fosse a soma de tudo isso a marca estética de Boyle.

Estética, aliás, muito apropriada, pois, além do roteiro, é a edição vertiginosa e algumas técnicas de direção que impedem que o filme caia numa incrível mesmice. Na vida real, tudo o que restava ao verdadeiro Ralston fazer durante os cinco dias em que passou com o braço direito preso sob uma rocha era controlar seu estoque de água, seus batimentos cardíacos, a lenta passagem das horas, o nível das baterias da câmera filmadora e da única lanterna que tinha consigo e a resposta de seu corpo às mudanças de temperatura.

Agora, embora eu tenha escrito muito sobre o diretor, acredito que a razão maior do sucesso do filme é a ótima atuação do ator James Franco, o Duende Verde do blockbuster Homem Aranha. A interpretação de Franco não deixou muita margem para que Boyle, mesmo que quisesse, caisse na armadilha de ser piegas ao contar a história de redenção de Ralston. Bom nas cenas em que relembra seus erros do passado, ótimo nas cenas em que arranca risos nervosos da platéria e conquista a empatia do público para o sujeito que, na vida real, devia ser visto como um verdadeiro misógino. Franco é um forte candidatos ao Oscar  de melhor ator  (nas bolsas de aposta, só perde para Colin Firth, de O Discurso do Rei) e, a meu ver, merece ao menos um prêmio de consolação pelo "Ops" sarcástico que solta no meio de um depoimento alucinado.
 
E só pra terminar, voltando à capacidade de Boyle de filmar sequências marcantes, digo que a deste 127 Horas é, sem sombra de dúvidas, a do imprevisível mergulho no poço existente em uma caverna.
 

Transparência semifosca

Holanda? Alemanha?? Polônia?!?!?! Quem serão as pessoas que acessam o semifosco a partir destes países? Como terão chegado aqui? A explicação, talvez, esteja em Hollywood.
Visualizações do blog por país durante o mês de fevereiro
Brasil - 788

Portugal - 78
Estados Unidos - 36

Holanda - 32

Alemanha - 22

Polônia - 16

Hungria - 9

França - 8

Reino Unido - 8

Finlândia - 5


E a fórmula do sucesso parece ser mesmo estampar mulher bonita e escrever pouco. Enquanto um texto mediano como o que publiquei em 12 de fevereiro de 2007 - sobre meu gradual desencanto - foi acessado 12 vezes durante o último mês, os dois mais acessados, pela ordem, continham uma foto da atriz ucraniana Milla Jovovich (310 acessos) e apenas reticências (15 visualizações). Ou seja, uma foto de Jovovich vale 25 vezes meu mea culpa.

Para se ter uma idéia do poder de atração da atriz, mesmo tendo sido publicado em novembro de 2010, o post sobre o filme Homens em Fúria ficou a frente da minha avaliação sobre o filme Cisne Negro, publicada na semana passada. E de acordo com as estatísticas fornecidas pelo google, os desavisados chegam ao meu blog ao pesquisar, no buscador, a palavra chava Milla Jovovich. Em seguida estão as buscas ao palhaço Tiririca.

domingo, fevereiro 20, 2011

Rock sem firulas

Proclamada a capital do rock durante a década de 1980, Brasília, hoje, é a capital da diversidade musical. Tem gente tocando de tudo, para todo tipo de público. E o melhor: quase sempre trabalho autoral.

Para alguns mais radicais, sair a noite e pagar para ouvir alguém fazendo cover é um sacrílégio. Ou, na melhor das hipóteses, algo muito careta. Diz-se que é um comportamento típico de quem só vai a show em que pode aplaudir o próprio conhecimento musical. Na maioria das vezes, limitado.  

Junte esta disposição do público ao bom poder aquisitivo de boa parte dos jovens que se juntam para tocar (o que facilita o acesso à informação) e a existência de uma escola de música pública de prestígio nacional e de vários outros cursos, e o resultado é um clima propício para o surgimento de novas bandas. Algumas delas muito boas, como a Móveis Coloniais de Acaju (na minha opinião, um dos melhores cds de 2010). Outras, boas. Caso da Suite Super Luxo (clique aqui para ouvir e aqui para ouvir e baixar), que tocou no Balaio (201N) na madrugada deste domingo (e olha aí entre os amigos dos caras o manezinho Jean Mafra, com quem já tomei umas no Mercado Municipal, em Floripa. Gostei da música Rosebud).


A acústica do local não era adequada. A ausência de um palco fazia com que só quem se amontoava próximo aos músicos visse a apresentação. O público, pequeno - mesmo para a banda, que já tem um fã-clube consolidado na cidade -, era composto quase que totalmente por jovens metidos a modernos recém saídos da adolescência abusando da produção e da "atitude". Contudo, os bons riffs de guitarra, a levada dançante, com influências de surf music, e o entrosamento da Suíte Super Luxo contagiam até quem não a conhecia.

Eu, na minha "ignorãças" de espectador semifosco, só continuo achando que a banda atrairia muito mais fãs se tratasse o vocal com o mesmo esmero com que parece tratar a parte instrumental. E mesmo que não estejam se importando com novos fãs que busquem o novo, mas com a comodidade de um vocal claro, seria uma demonstração respeitosa com os que tem ido às apresentações e apostado no bom trabalho do grupo. Toda vez que assisto a Suíte saio com a impressão que a banda merecia um vocalista melhor porque apesar da energia do atual, as letras - legais - soam incompreensíveis em meio à parede sonora erguida pela bateria e baixo (ainda mais com o som estourando como estava no Balaio e nas outras duas apresentações a que assisti. Felizmente, os caras gostam de tocar alto, mas, pra isso, é preciso redobrar os cuidados com a acústica).

De qualquer forma, "simbora"...Já de olho na agenda dos caras.

(amanhã baixo o vídeo da apresentação, que ficou péssimo, mas serve para dar uma idéia do clima do show)

Quando o Canto é Reza

Já escrevi aqui sobre o programa Ídolos, da Record, e comentei que não acredito na fórmula de tentar formar e lançar novos astros da música por meio de reality shows. Na ocasião, escrevi que "é preciso ser muito ingênuo para acreditar que participar ou até mesmo vencer um programa de auditório baste para transformar alguém na nova estrela da música popular brasileira". Hoje, acho que o caso da cantora Roberta Sá confirma o que eu dizia, mas também que uma oportunidade destas pode ser um bom cartão de visita, desde que trabalhada com inteligência e senso de oportunidade.

Há apenas dez anos, a potiguar era uma ilustre desconhecida estudante de comunicação social de 20 anos que frequentava aulas de canto e se apresentava para amigos e parentes por diversão. Então, incentivada por sua professora de canto, ela decidiu se submeter ao teste de seleção de novos participantes do programa Fama, da Rede Globo. Foi aprovada, mas ficou pouco tempo no ar e passou longe de vencer a disputa. Mesmo assim, a partir daí, sua história virou biografia.

Três anos após ter participado do Fama e ainda sem contrato com uma gravadadora, a cantora chamou a atenção do escritor de telenovelas Gilberto Braga e emplacou uma canção na trilha de uma novela das 20 horas. Assim, Roberta voltou à programação platinada pela porta da frente enquanto o nome do vencedor da edição do Fama do qual ela participou só o google saiba responder. Mas ainda não foi desta vez que ela se rendeu ao caminho mais fácil. Seguiu aparando arestas e pavimentando um caminho certeiro. Em 2008 foi indicada para o Grammy Latino como artista revelação do ano.

Hoje, com quatro elogiadíssimos cds gravados (um deles, ao vivo) com esmero, Roberta é apontada por muitos especialistas como uma das melhores intérpretes do país. Provavelmente, é por isso que ela não encontra dificuldades para contar com participações ilustres em seus projetos. Grandes compositores e instrumentistas como os do Trio Madeira, com quem gravou, no ano passado, o disco "Quando o Canto é Reza" (2010), ourivesaria com os sambas de roda do compositor baiano Roque Ferreira. Coisa fina mesmo, por mais que dilua a espontaneidade do trabalho original.

O próprio compositor disse ao jornal O Estado de S. Paulo que não ficou plenamente satisfeito com a suave e virtuosa interpretação que Roberta e o Trio Madeira deram a suas canções. Segundo ele, o resultado final ficou "light". "E samba de roda não é light", explicou ele. Mesmo assim, além de boas críticas, o cd vem obtendo um bom resultado de vendas e shows como o que o grupo fez no Teatro Nacional, em Brasília, na última quinta e sexta-feira, estavam praticamente lotados. 

No palco, Roberta passa a impressão de ainda estar em formação. Fato positivo, já que suscita a pergunta sobre o que ela estará fazendo daqui a mais algum tempo já que, com tão pouco tempo de estrada, já tem personalidade e domínimo para produzir um trabalho tão belo quanto este "Quando o Canto é Reza". Sem dúvida alguma, Roberta Sá foi o ponto alto da agenda brasiliense deste final de semana.





sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Garage Fuzz comemora, em Santos, seus 20 anos

Um dos pilares do Hardcore brasileiro - IG

Banda underground mais respeitada do Brasil - +Soma

Uma das maiores bandas de hardcore do Brasil,  respeitada pela velha e pela nova geração que acompanha o estilo - Terra



Fama é uma coisa. Prestígio, outra. E a banda santista Garage Fuzz (clique aqui para ouvir o som no myspace) é uma prova disso. 

Com 20 anos de existência, o grupo é um dos mais respeitados e influentes da cena alternativa brasileira, agradando a fãs de punk, hardcore e de rock indie. Seus discos são lançados no exterior, os caras tocam em outros países com regularidade e recebem elogios de gente como Jello Biafra, mas, no Brasil, ainda são pouco conhecidos do grande público, mesmo entre boa parcela da garotada que diz curtir o barato.

Na entrevista ao site +Soma, linkada acima,  o vocalista Alexandre Cruz, vulgo, Farofa, explica que todos os cinco integrantes tem atividades profissionais paralelas de onde tiram o caraminguá do sustento e que não tem maiores pretensões quanto ao sucesso da banda. Até porque, o reconhecimentos de que gozam (!) é para poucos.

Para celebrar as duas décadas de distorções e perrengues, a banda se apresenta em Santos no próximo dia 25 (sábado). Os ingressos antecipados custam R$ 20, mas o preço está sujeito a alteração.  Dava tudo para ir a este show e mandar ver no `pogo loko´, mas...

A apresentação acontece na Tribal Clube, Rua Júlio de Mesquita, 165, a partir das 23 horas.

Sinal Fechado










"Porque sei o quanto nós, pais da classe média, suamos para bancar os estudos dos filhos, vou te dar um trocado. Toma aqui. Afinal, você merece. Ao invés de ficar aprendendo micagens e malabarismos mambembes, você estudou com o tanto de afinco necessário para se formar em um bom e caro colégio e ser aprovado em uma boa faculdade. Não é pública? Não tem problema. Seus pais sabem que a educação é o melhor investimento que podem fazer para o seu futuro e ficariam orgulhosos de te ver assim, coberto de farinha, tinta e ovos, pedindo dinheiro num cruzamento a esta hora do dia. Toma aqui dois reais. É pouco, mas se cada novo amigo seu conseguir transpor o isolamento dos motoristas e fazê-los abaixar o vidro para este bafo alcoólico, com certeza vai ganhar ao menos uma moedinha de R$ 0,50. De grão em grão a galinha enche o papo. Quem vai negar algum dinheiro para jovens bens criados e saudáveis como vocês? Tem quem negue? Ah, não liga pra estes chatos que vem com esta história de trote solidário. Se não forem velhos, são daqueles que vão pra universidade estudar e não vão comer ninguém durante todo o tempo em que estiverem por lá. Vai, toma aqui. Mas é pra comprar cerveja, hein! Não vai gastar com cachaça senão você não segura a onda do que há de vir pelos próximos anos. E cuidado com aqueles pivetes ali. Este mundo tá cheio de maldade".

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

A Iluminada

...e no nono dia, já descansado, Deus criou Natalie Portman.

Exageros à parte, com sua atuação em Cisne Negro, a atriz israelense prova ser uma das melhores atrizes da atualidade. Já tendo recolhido vário prêmios de prestígio, como o Globo de Ouro, é difícil não apostar que, no próximo dia 27, ela vá receber também o Oscar de melhor atriz. Não vi ainda a nenhum dos filmes com as demais indicadas, mas não consigo imaginar, neste ano, um desempenho melhor.

No suspense psicológico dirigido por Darren Aronofsky (dos ótimos Réquiem para um Sonho e O Lutador), Portman dá tal dimensão a sua personagem, Nina, que acaba por torná-la uma versão feminina do alucinado Jack Torrance incorporado por Jack Nicholson em O Iluminado.
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Aliás, os dois roteiros tem muito em comum. Enquanto Torrance perde a razão durante uma estada no Hotel Overlook, Nina não dá conta da pressão de querer ser a melhor dançarina de sua companhia e de disputar com as outras bailarinas o papel de protagonista da peça Lago dos Cisnes. Além disso, tem que lidar com as cobranças e o assédio de seu diretor (Vincent Cassel, em mais uma ótima atuação), com a superproteção de sua mãe (Barbara Hershey) e com a exposição pública e o medo de errar. Fora os suplícios físicos decorrentes da intensa rotina de ensaios e exercícios, de uma sugerida bulimia e do fato de, aos 20 anos, ainda ser virgem e solitária.

É a partir do conflito psicológico gerado por todo este stress que se desenvolve a paranoia e a história de Nina. E, no caso, o tema do balé dramático Lago dos Cisnes representa à perfeição esta dualidade: para ganhar o papel principal, Nina terá que superar sua ânsia por perfeição técnica e sua fragilidade e inocência – perfeitos para que desempenhe o cisne branco, amoroso e delicado – e permitir vir à tona traços de sua própria personalidade como a intuição e a ambição exigidas na interpretação do selvagem e sedutor cisne negro.

Li em algum lugar e concordo que o filme é como um palco montado para destacar todo o talento de Portman, que desde seu primeiro filme de expressão, O Profissional (1994), de Jean Luc Besson, tem revelado inteligência artística para escolher os papéis e os diretores a que se entrega. E no que pese todo oba-oba em torno da tórrida cena em que, no filme, ela divide a cama com outra dançarina, é, a meu ver, numa cena simples, a que ela chora no banheiro ao ligar para a mãe para contar que foi selecionada para dançar os cisnes, que se confirma o quanto ela é boa.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Um Cara Que Discute (e descreve) A Relação

Releve a primeira impressão que a capa e o ótimo título do primeiro livro do publicitário Gabito Nunes podem suscitar: "a manhã seguinte sempre chega" não é um livro de auto-ajuda e o autor não promete nada além de se esforçar para entregar ao seu leitor um texto leve e divertido. Qualidades que não impedem que, ao fim do livro, a conclusão seja que sorrir a dois exige esforço e que, mais cedo ou mais tarde, você também vai quebrar a cara - se já não quebrou - para então começar tudo de novo.



E como se diz por aí, o importante não é o que se conta, mas como se conta. Admirador de escritores marginais como John Fante, Charles Bukowski, Jack Kerouac, Carpinejar e Caio Fernando Abreu, o gaúcho tem um texto que se aproxima da informalidade de um bom bate-papo entre amigos.



Gabito não vai ganhar nenhum grande prêmio literário com este livro, mas os cerca de 50 mil acessos mensais ao seu site - "caras como eu", no qual a maioria das crônicas foi originalmente publicadas - e a pilha de exemplares à venda nas livrarias indicam que o cara encontrou seu espaço como escritor. Principalmente entre o público feminino.



Tudo Que direi A Minha Filha

Até onde tenho notícias, não possuo herdeiros biológicos. Quanto mais uma garota adolescente toda macia e perfumada, tarada pela iniciação ginecológica. Chegará minha vez de pagar pelos hímens complacentes que despedacei em lugares apertados e abafados pela voz esganiçada do Axl Rose. Mas graças ao bom deus não é o momento.

Já pensou ter de cercear o namoro da sua garotinha com a Sthefany Meyer e seus vampiros punheteiros tão em alta? Você atende a campainha esperando um genro cordato e dá de cara com um Nosferatu júnior, um Batman anêmico, o filho do Zé do Caixão. Seria demais pra mim. Não é Halloween, meu filho! E é sem travessura ou gostosura com filha minha! No jantar de apresentação eu já faria minha especialidade. Macarrão alho e óleo. Com alho extra. Eu mereço.

Pais podem ser muito tiranos, mas não lhes tiro a razão. E olha que já tive de pedir em namoro uma garota que saía há poucas semanas sob a mira de uma faca de pão. Pai tirano é comigo. O fato é que pais agem pela emoção diante de tudo que pode ocorrer com suas filhas. Recentemente, tive notícia de uma menina de pai rígido que resolveu se aventurar escondida e retornou pra casa paraplégica, vítima desses moços velozes e furiosos que mal controlam a própria ejaculação, quanto mais um volante. É duro.

Uso a razão toda vez que escrevo uma crônica sobre o comportamento amoroso de homens e mulheres. Quem forma opinião deve ter a mente elástica, deve ponderar e selecionar os vocábulos. Mas se tivesse de falar à minha filha, o sermão seria outro. Homem é homem, minha filha. Pau é pau, não confunda. Pau é diversão, como o Palhaço Pirulito que animava suas festinhas, lembra? Ele vinha, fazia aquela algazarra toda, seus olhinhos brilhavam e choravas toda santa vez que ele recebia o ordenado, despintava a cara de pau e saía. Mas ele era um palhaço, minha filha. Tinha de ir embora. Era engraçado, prazeroso, lúdico, eu sei. Mas era um palhaço e fuzarquear era sua única serventia.

Um palhaço vai te acompanhar no pronto-socorro de madrugada e segurar sua mão na hora do benzetacil na bunda? Imagina um palhaço ralando pra botar bife e batata frita na mesa? Palhaço lava o banheiro? Se sua mãe falecer, o palhaço estará no velório a te abraçar forte? Não. Homem é como o papai. O palhaço é um pau. Você desfruta e o deixa ir, sem dedicar um mililitro de lágrima. Combinado?

Um dia você vai se deparar com um homem. E tenha cuidado ao diferenciá-lo dos Palhaços Pirulitos da vida. Se mostre uma mulher de valores fortes e definidos, pois um homem requer ao seu lado um alguém de conduta compatível com a dele. Pessoas que prestam buscam nada menos que pessoas que prestam. Essa é a única verdade que direi à minha filha, sem me preocupar em ter uma visão ponderada e anti machista. Sente em cima, lamba e esfregue na cara quantos paus você quiser, dê sem dó ou restrição, em todas posições possíveis e impossíveis, sempre com camisinha ou exame de HIV em dia. Mas jamais esqueça: todo pau é um palhaço, não um homem. Homem te ama, te cuida, te protege. Homem não te persegue, anda do seu lado. Homem não te abandona.

Tudo isso, claro, após seus 25 anos, quando ela terminar a faculdade e estiver apta a namorar. E três vivas para o ensino à distância.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Bem na Foto

Das três exposições de maior repercussão atualmente em cartaz em Brasília (DF), a do fotojornalista Alan Marques é, a meu ver, a mais interessante. Dica para os amigos da capital: se o tempo for escasso e estiverem em dúvida sobre ir ver as esculturas da japonesa Mariko Mori (no CCBB), a mostra dedicada à obra do tropicalista Hélio Oiticica (no mesmo Museu da República onde estão as fotos de Marques) ou as 88 fotos em que Marques condensa sua impressão visual dos oito anos do governo Lula, recomendo a última.

Em `Nunca Antes, Uma viagem em 88 fotos da era Lula´, é possível conferir não apenas o registro que Marques fez do ex-presidente ao lado de personalidades como seus pares, os ex-presidentes norte-americano, George Bush, francês, Nicolas Sarkozy,  e da Argentina, Cristina Kirchner, o músico Lenny Kravitz ou o skatista brasileiro Minerinho, mas também (e principalmente) de Lula à vontade ao lado de cidadãos comuns. Há ainda fotos de manifestações sociais, paisagens, cenas do cotidiano brasiliense e uma imagem aérea dos destroços do avião da Gol que caiu em meio à floresta matando todos seus ocupantes para lembrar daquele que o próprio ex-presidente classificou como o "pior e mais difícil momento de suas duas gestões". 

 
Nascido em Brasília e fotografando política desde 1992, Marques disse, numa entrevista ao site Brasiliaagenda, que o ex-presidente Lula foi uma figura interessante do ponto de vista fotográfico. "Ele sempre rompia o protocolo e adorava o contato com o povo. Cobrir o mandato do ex-presidente petista era estar sempre atento aos seus movimentos e rompantes. Porque ele poderia a qualquer momento fazer algo inesperado que daria uma boa foto ou uma grande dor de cabeça para o fotógrafo desatento".

E é justamente o lado informal, supostamente espontâneo, de Lula o que salta à vista de quem visita a exposição. Há quem invoque razões éticas e ideológicas para não gostar de Lula, mas o que ninguém nega é que, em termos de popularidade e de identificação com o povo, ninguém supera "o cara". Para muitos, Lula dentro de alguns anos será lembrado como hoje nos referimos a Getúlio Vargas e JK. As fotos de Marques ajudam a entender o porque disso.

 
Nunca Antes - uma viagem em 88 fotos da era Lula
Imagens e textos-legenda do fotógrafo Alan Marques
Museu Nacional - Conjunto Cultural da República - Brasília (DF)
até 27 de fevereiro - grátis


***

Resta agora, na mesma linha, esperar pelo que virá dos arquivos de Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial de Lula e o acompanhou para todos os lados, no Brasil e no exterior.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Deu nos telejornais. A tristeza e a desolação tomaram conta do Rio de Janeiro. Populares choram as perdas. Autoridades locais divulgam às câmeras as providências adotadas para contornar a “tragédia”. Independente das iniciativas governamentais, o brasileiro não desiste nunca e o povo já fala na união de todos, na crença de que Deus não vai faltar numa hora desta.

Redes de TV acionam seus helicópteros em busca da melhor imagem aérea. E, no chão, dá-lhe cenas da “gente humilde e batalhadora” da “comunidade” chorando. Felizmente, apesar dos prejuízos econômicos, não houve mortes. Não? Como assim? Não passavam de 880 as vítimas fatais?

Ah, não. Você não entendeu. A “tragédia” em questão é o incêndio que destruiu fantasias e carros alegóricos de três escolas carnavalescas do Rio de Janeiro. Só pode ser provação. Juízo Final: depois das águas que levaram vidas, casas, bens pessoais e sonhos, as chamas consumiram um galpão da Cidade do Samba, ameaçando a realização da “maior e mais alegre” festa popular brasileira. Até mudança de regulamento teve que ser aprovada e anunciada com destaque como se fossem mudanças nas regras previdenciárias.

Lamento o trabalho perdido dos foliões. Solidarizo-me com a tristeza dos que amam sua escola e vem no episódio uma tragédia. Dou graças a Deus por ninguém ter morrido. Torço para que as pessoas possam desfilar com alegria na Marquês de Sapucaí, mesmo que vestindo suas roupas do dia a dia e sem os carros alegóricos que foram queimados (não ganhariam, com certeza, mas imaginem o efeito catártico se isso acontecesse). E é só. Eu que não gosto de Carnaval (mas gosto de samba) vejo as notícias e não sinto piedade ou horror, de forma que o substantivo “tragédia” aplicado por alguns jornalistas me parece um exagero. Principalmente depois do que aconteceu na região serrana do estado, onde seguem as buscas aos corpos dos desaparecidos. Fossem outros tempos, alguém teria sugerido que este ano não haveria clima para festejar o Carnaval. Imagina só quanto de dinheiro não deixaria de ser movimentado. Quantia que poderia ser parcialmente usada para reconstruir as regiões atingidas e ajudar os sobreviventes, diriam os cínicos e as polianas.

Moral deste texto: o incêndio é notícia de destaque? É. É lamentável? Óbvio. Tem implicações? Sem dúvida, mas é preciso bom senso para relativizá-las. Para a mídia não fica bem a falta de critérios. Trágico foram as mortes causadas pelo descaso, assunto que, aos poucos, começa a ser substituído por outros na pauta do dia.

sábado, fevereiro 05, 2011

RockAntygona

O cartaz da peça é bacana. A trilha sonora a cargo da banda Vulgue Tostoi e a presença de um dj em cena (Marcello H, da própria Vulgue) são um chamariz para os "mudérnos". Luís Melo é um excelente ator. O texto, do grego Sófocles, é um clássico que há milênios prende a atenção de platéias de todo o mundo. E ainda assim, RockAntygona, uma adaptação da clássica tragédia grega Antigona, não funciona.

Apresentada em Brasília no último final de semana, a peça dirigida por Guilherme Leme tem cerca de uma hora de duração. Embora fiel ao texto original escrito pelo grego Sófocles, peca por não explorar melhor a motivação das personagens e o contexto político que sustenta a ação. A suposta "estética contemporânea" também não acrescenta nada de substancial ao trabalho de palco.

Do original, as nove personagens são resumidas a apenas três:  Creonte, Hémon e Antigona. Já a função do coro, que, no antigo teatro grego cumpria a função de contextualizar e comentar a ação, é desempenhado pelo Dj. Com a opção por uma encenação clássica, contudo, a proposta de tornar a música uma personagem acaba se perdendo.

Antigona é a sobrinha de Creonte, que assume o trono de Tebas após os herdeiros diretos do ex-rei Édipo, os irmãos Etéocles e Polinices, matarem um ao outro em combate. Ao assumir, Creonte proibe que a família enterre Polinice, que havia se casado com a filha do rei de Argos, Andrastos, com quem armou um ataque contra sua própria cidade-natal, Tebas.

Delirium Ambulatorium

"O que é a arte moderna, né? A gente não entende. Este aí, por exemplo. Eu acho que é um livro aberto. Acho que é isso. Agora, porque um livro sem nada escrito, um livro com as páginas em branco? Tipo não temos mais o que escrever, nem o que ler? Ou então pode ser algo sobre o final do livro com a popularização da internet...sei lá"

Meu pai diante de um quadro da série Metaesquema, do artista plástico Hélio Oiticica
 

Exposição Hélio Oiticica - "O Museu é o Mundo"
Museu Nacional do Conjunto Cultural da República
até 20 de fevereiro de 2011 - das 9h as 18h30 - entrada gratuita


Curadoria

"Poucos artistas refletiram sobre seu trabalho com a clareza e a acuidade de Hélio Oiticica. Todas as questões que emergiram ao longo de seu processo experimental, iniciado no limiar da dissolução do Grupo Frente (núcleo do Concretismo carioca), em 1958, estão registradas em anotações, textos, entrevistas, depoimentos e cartas. Em entrevista concedida ao Jornal do Brasil em maio de 1961: "Acho importantíssimo que os artistas deem seu próprio testemunho sobre sua experiência. A tendência do artista é ser cada vez mais consciente do que faz. É mais fácil penetrar o pensamento do artista quando ele deixa um testemunho verbal de seu processo criador. Sinto-me sempre impelido a fazer anotações sobre todos os pontos essenciais do meu trabalho".
No caso específico de Oiticica, podemos afirmar que obra e testemunho estão a tal ponto entrecruzados que é impossível separá-los sem incorrer em prejuízo para ambos, pois são fundamentais para sua qualificação como artista seminal da vanguarda brasileira dos anos 1950, 1960 e 1970. A trajetória poética de Oiticica desloca-se da fatura impecável, quase asséptica, de sua produção inicial, marcada pelo construtivismo internacional, para um construtivismo favelar.

Hélio Oiticica - "Museu é o Mundo" transborda os limites expositivos do Museu Nacional do Conjunto Cultural da República. Com obras espalhadas por Brasília, a exposição coloca o público em contato direto com a idéia do "Delirium Ambulatório", forma usada por Helio para despertar nele mesmo o estado de criação latente. Sua aspiração maiora partir dos Penetráveis (que começam com o Projeto Cães de Caça e vão até o fim de sua produção) era que fossem como espaços abertos e cósmicos, onde o indivíduo crie suas próprias sensações sem condicionamentos históricos ou visuais, ou seja, que encontre dentro de si mesmo a chava para um Exercício Experimental de Liberdade, como propunha Mário Pedrosa.

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Lixo Extraordinário

"O momento em que uma coisa se transforma em outra é o mais bonito"

É sempre bom lembrar que quando afirmamos gostar, detestar ou simplesmente não compreender uma obra qualquer estamos falando muito mais sobre nós mesmos do que sobre o objeto em si. Por isso, quando declaro que o documentário Lixo Extraordinário é comovente, estou referendando minha experiência junto à Associação dos Moradores de Cortiços do Centro de Santos (SP), ao Sindicato dos Servidores Públicos do Distrito Federal e minha própria trajetória pessoal.

A garota de apenas 17 anos e já mãe de dois filhos. A cozinheira dos restos encontrados no lixo. O catador que, a partir dos livros encontrados no lixo, sonha com uma biblioteca na sede da associação de trabalhadores. O jovem que vê na organização dos catadores a única maneira de alcançar, coletivamente, a redenção, que, em última instância, pode se dar no próprio lixão. Há milhares de brasileiros como estes espalhados por todo o país, buscando dias melhores para si e para os seus.

Indicado ao Oscar deste ano, o documentário - uma coprodução Brasil/Reino Unido - dirigido por Lucy Walker e co-dirigido por João Jardim e Karen Harley acompanha a execução de um projeto artístico desenvolvido pelo artista plástico brasileiro Vik Muniz com catadores de material reciclável que trabalham no aterro sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias (RJ) - anunciado como o maior do mundo e cenário de outro premiado documentário, Estamira, de 2004. Gramacho, no filme, é retratada quase como que uma nova Serra Pelada, com os catadores garimpando o material mais valorizado em meio a uma "cidade de lixo".

Vik é o cara conhecido por reproduzir obras famosas como Mona Lisa e a Última Ceia usando chocolate, geléia e açúcar no lugar de tintas. No projeto filmado ao longo de três anos para o documentário, ele fotografa alguns das centenas de pessoas que tiram seu sustento do lixão, amplia as melhores imagens e, com a ajuda dos próprios catadores, as reproduz usando os dejetos recolhidos no aterro (idéia copiada em recente novela da Rede Globo). O produto final é então fotografado, emoldurado e vendido por alguns milhares de dólares. Diga-se que, hoje, Vik é um dos artistas brasileiros mais valorizados no exterior.

Mas a força do documentário está, como de costume, na história dos desafortunados, dos que vivem à margem, e na coragem de Vik de se expor ao tomar consciência do quanto seu conceito inicial é superficial e vai ganhando consistência graças à convivência com seus "modelos". No começo do filme, o próprio artista afirma que Gramacho é o fim da linha, o lugar para onde vai "tudo que não presta", inclusive "pessoas". Ao final, Vik aparece convencido de que ao menos parte daquelas pessoas é forte o bastante para buscar um outro destino. Ao participarem da execução da obra de Vik, os trabalhadores percebem que, mesmo em meio às adversidades, executam uma atividade importantíssima.
 
Apesar de que 'quem gosta de lixo é intelectual, pois pobre gosta mesmo é de luxo', vale muito a pena ver o filme que, no fundo, não trata da pobreza, mas sim da Arte e da Vida, sem dicotomias. E com a ajuda de uma belíssima trilha assinada pelo Moby.
 

terça-feira, fevereiro 01, 2011

Antes da Fama

Só Garotos - Ed. Companhia das Letras - 272 páginas 

`Só Garotos´ não chega a ser um grande livro em termos de estilo ou de conteúdo, mas quem curte arte, música e cultura pop vai encontrar passagens interessantes em meio às memórias da poeta e performer norte-americana Patti Smith sobre o tempo em que namorou e morou com o artista plástico Robert Mapplethorpe, morto em 1989, em decorrência de complicações causadas pela Aids.

Na época em que se conheceram, Patti e Mapplethorpe não passavam de dois jovens dispostos a enfrentar, sem grana, a louca e efervescente Nova York em busca do sonho de viver da arte. "Muito pobres e muito felizes", nada parecia antecipar que pouco tempo depois o casal ficaria famoso após trocar pincéis e telas pela música e pela fotografia.

Enquanto Patti se consagrou como a "poetisa do punk" ao lançar, em 1975, o disco Horses, em que sublinhou com três acordes sua poesia e visão feminista, Robert acabou se tornando um dos expoentes da pop art, causando polêmicas com suas imagens embebidas na estética sadomasoquista gay.

No livro recém-lançado no Brasil, Patti espana a poeira de suas memórias dos anos 1960 e 1970 e, sem autocomiseração, relembra as noites dormidas em abrigos, muquifos e nos locais de trabalho, a falta de grana, pouca comida e impossibilidade de frequentar lugares como museus e cinemas. E, assim, registra a importância da amizade e do amor compartilhado com Robert durante os difíceis anos de formação de ambos.


"O verão de 1968 marcou uma época de despertar físico tanto para Robert quanto para mim. Eu ainda não havia compreendido que o comportamento conflituoso de Robert estava associado a sua sexualidade. Sabia que ele gostava profundamente de mim, mas me ocorreu que havia se cansado de mim fisicamente. Em certos aspectos, senti-me traída, mas na verdade fui eu quem o traí.

Fui embora de nossa casa na Hall Street. Robert ficou arrasado, embora não conseguisse explicar o silêncio que havia nos envolvido. De qualquer forma, não foi fácil para mim me livrar do mundo que compartilhávamos. Eu não tinha certeza de aonde ir em seguida e quando Janet me ofereceu para dividirmos o sexto andar de um prédio no Lower East Side, aceitei. Esse acordo, embora doloroso para Robert, foi muito melhor do que se eu fosse morar sozinha ou com Howie.[...] Pela primeira vez eu teria meu próprio quarto para arrumar como quisesse [...]

Incapazes de romper nossos laços, continuamos a nos ver. Mesmo enquanto minha relação com Howie cresceu e depois minguou, Robert pediu que eu voltasse. Queria que voltássemos como se nada tivesse acontecido e estava disposto a perdoar, embora eu mesma não estivesse arrependida. Eu não queria voltar atrás, especialmente porque Robert ainda parecia conter um tumulto interior que ele se recusava a declarar.

No início de setembro, Robert apareceu na [livraria] Scribner´s sem avisar. [...] Disse que queria conversar comigo. Saímos da loja e paramos na esquina da 48 com Quinta Avenida. "Volta, por favor", ele disse, "senão vou embora para São Francisco". Eu não podia imaginar porque ele queria ir para lá e a explicação foi desconexa, vaga. Ele então pegou minha mão. "Vem comigo. Lá tem liberdade". "Eu já sou livre", falei.

Robert me encarou com uma intensidade desesperada. "Se você não vier, vou ficar com um cara. Vou virar homossexual", ameaçou. Simplesmente olhei para ele, sem entender nada [...] Não mostrei compaixão, o que mais tarde eu lamentaria. Fiquei observando-o ir embora e desaparecer na multidão.

[...] Quando Robert voltou de São Francisco parecia ao mesmo tempo triunfante e pertubado. Como eu suspeitava, ele havia conhecido alguém, um menino chamado Terry, mas embora estivesse experimentando seu despertar sexual, ainda esperava que pudéssemos encontrar um modo de continuar nossa relação.

[...] No meu aniversário, Robert veio me ver sozinho. Trazia um disco novo. Colocou a agulha no lado um e piscou. Sympathy for the Devil [dos Stones] soou nas caixas e nós dois começamos a dançar. "Esta é a minha música, ele disse.

Aonde tudo aquilo levaria? O que seria de nós? Essas eram nossas perguntas juvenis. E aquilo nos levou um para o outro e nos tornamos nós mesmos. [...] Alguma coisa no ar da primavera e o poder restaurador da Páscoa fez com que Robert e eu voltássemos a ficar juntos. Ambos havíamos nos entregado a outras pessoas; hesitamos e perdemos todo mundo, mas encontramos um ao outro novamente. Queríamos, ao que parecia, o que já tinhamos antes, um amante amigo para criar junto, lado a lado. Ser leal, mas livre".

The Spankers em Brasília


Vem da fria capital da República Tcheca, Praga, uma das bandas mais legais da cena ska, gênero musical surgido na quente Jamaica, no final da década de 1950, e que, surpreendentemente, faz, em Brasília (DF), neste sábado (5), uma das oito apresentações já agendadas para sua temporada brasileira (uma delas em Santos, no dia 12)


Criada em 2008 e liderada pela simpática vocalista Tereza Krippnerova, a The Spankers funde influências do ska às do pop, do rock e do reggae. Resultado? Som pra cima, bom pra dançar. Pelas músicas disponíveis no myspace (Ouçam – http://www.myspace.com/spankersthe), dá para esperar um showzaço.

The Spankers - sábado (5) - 22h. - La Ursa (Setor Bancário Norte) - R$ 20