segunda-feira, maio 28, 2012

Nó na Orelha


Apresentação do Criolo, de graça, em Brasília. 

Sem palavras.

Ou melhor, umas poucas palavras: um dos melhores shows a que já assisti. Na verdade, uma celebração que atraiu cerca de 12 mil pessoas ao CCBB. Celebração principalmente  de reconhecimento ao talento do (ex-??) rapper paulista Kleber Gomes, 36 anos, 24 deles dedicados ao rap (se fosse pra ter medo dessa estrada eu não estaria há tanto tempo nessa caminhada). Se acham que estou exagerando, cliquem aqui para ler parte da avaliação da reportagem do Correio Braziliense, que classificou o episódio como "uma noite memorável".

Minha dúvida quanto a me referir a Criolo como rapper ou ex-rapper se deve ao fato de que seu último disco, o hypado Nó na Orelha, vai do samba ao reggae, passando até por um impensável bolero. E foi justo este ecletismo,  aliado à qualidade musical e  ao frescor das letras, que  motivaram várias publicações especializadas a elegerem Nó na Orelha o  melhor disco de 2011. Com isso, Criolo ampliou seu público (acho que) para muito além do que, a esta altura do campeonato, ele podia esperar.  Tanto que sempre diz que, inicialmente, este seria seu último trabalho, pois pretendia abandonar a carreira musical. 

Agora, depois de tudo que lhe aconteceu nos últimos meses (Chico Buarque cantando a versão do rapper para sua música, Cálice; Caetano convidando Criolo para um show; toda a atenção da mídia), o desafio vai ser corresponder e não se deixar levar pela expectativa em torno de seus próximos trabalhos.






Com recorde de público no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a esperada apresentação de Criolo foi antecedida por duas atrações locais. A primeira a tocar foi a excelente baixista Paula Zimbres. Conhecida por tocar na banda que acompanha Ellen Oléria, a Pret.utu, Paula desta vez subiu ao palco na companhia de sua banda, a Água Forte, com que toca os jazz com influências de MPB e música erudita que ela própria compõe. O público diversifica que a esta altura já lotava o gramado do CCBB ouviu respeitosamente, entendendo a proposta do evento, que não à toa se chama Todos Os Sons. Infelizmente, não gravei. 

Em seguida, veio outra atração local, o Sistema Criolina, que tocou no esquema Live P.A, ou seja, em português claro, djs como Pezão e Barata tocando com músicos da qualidade do multiinstrumentista Dillo Daraujo. O público se acabou de dançar, ficando no ponto para Criolo. 




E para aqueles que insistem em dizer que em Brasília não há grande opções de cultura (leia dois posts abaixo), enquanto os três shows aconteciam no CCBB lotado (demorei cerca de 20 minutos para conseguir deixar o local, tamanho era o congestionamento), ao lado do Museu da República, na região central, rolava o show da já histórica banda Little Quail. Também de graça. Também muito bom. E com fãs entusiasmados gritando junto as conhecidas letras da banda de rock formada em 1988 por Gabriel Thomaz (guitarra e vocalista, hoje na Autoramas), Zé Ovo (baixo) e Bacalhau (bateria, hoje também no Ultraje a Rigor). 




Tudo isso num só domingo. E olha que sábado a noite já tinha rolado, na quadra da Acadêmicos da Asa Norte, o divertido show da banda Del Rey, projeto "paralelo" do vocalista e apresentador da MTV, China (ex-Sheik Tosado) com os integrantes da banda pernambucana Mombojó e que homenageia os tremendões Roberto e Erasmo Carlos, tocando em ritmo rock´n´roll alguns dos maiores clássicos da dupla. 



E há quem diga que fica em casa por falta de opções...

quarta-feira, maio 23, 2012

Kassin na área



Provando, como afirmo no post abaixo, que Brasília tem sim opções culturais além do que alguém minimamente responsável é capaz de dar conta, hoje (23), além do bloco carnavalesco Sargento Pimenta, na choperia Stadt Bier, a capital federal também recebe o compositor e produtor musical Kassin, que apresenta o bem-recebido disco Sonhando Devagar, lançado no ano passado e apontado por muitos críticos como um dos melhores trabalhos autorais de 2011.

Caçando o que fazer


_  Ah! Brasília não tem o que fazer".

_ Sério. E o caderno de 30 páginas encartado toda sexta-feira no jornal, com a agenda cultural da semana? É ilusão minha?

_ Ah, mas nem se compara com São Paulo. 

_ Puta que pariu. Não, não se compara. Assim como os 140 quilômetros de trânsito paulistano lento também não se compara com nada.

_ ...

 ******

Depois de sete anos vivendo na capital federal, com um breve intervalo de dez meses em que não mais me readaptei à cidade de São Paulo, conclui que o Distrito Federal é vítima de duplo preconceito.

O primeiro, externo, é perpetuado por quem não conhece ou conhece superficialmente a cidade. E, mesmo assim, sai reproduzindo clichês. Além disso, os estereótipos e chavões também são disseminados por muita gente que, como eu, veio morar na cidade em busca de oportunidades de emprego ou estudo, mas segue desprezando-a. 

(Não que Brasília - e o Distrito Federal como um todo - não mereça ser criticada. Mas há motivos e motivos para tanto. E, sinceramente, ouvir quem insiste em compará-la com a capital paulista, por exemplo, é algo que, hoje, me torra a paciência) 

Na semana passada, em três situações, me vi sentado à mesa diante de pessoas saudosas da pauliceia desvairada, apontando a falta de opções culturais em Brasília. Irritado, no sábado de manhã, me propus a ver o que havia para ver e fazer na cidade e do que eu dava conta.

Para começar, escolhi um dos 32 filmes atualmente em cartaz na cidade. Lógico que, entre eles, há muita porcaria, mas isso não é uma exclusividade brasiliense. Para meu teste, por acaso, me dei bem. Aliás, superbem. 

Assisti ao excelente Habemus Papum, do diretor italiano Nanni Moretti, um filme sensível e engraçado que narra as incertezas com que o Vaticano tem que lidar quando o papa recém-eleito sofre uma crise e um bloqueio no dia em que se apresentaria aos fieis. Quando as luzes se acenderam, constatei que quase todos na plateia tinham um sorriso no rosto.

Sai do cinema e tive que correr para chegar a tempo do segundo programa escolhido, o primeiro dos dois espetáculos do Festival Teatro Brasileiro, que, até o dia 3 de junho,  trará 16 peças gaúchas a quatro cidades do Distrito Federal e a outras quatro de Goiás.

Primeiro assisti a Automákina - Universo Deslizante, do grupo De Pernas Pro Ar. A interação do ator Luciano Wieser com a bem bolada máquina-cenário (que também faz às vezes de instrumento musical (!)) e com os bonecos-autômatos com máscaras que lembram o rosto do próprio ator é interessante, mas tenho dúvidas se compreendi a questão central da peça, "a arte da sobrevivência". 

Na sequência, sem intervalo, seguiu-se a apresentação do espetáculo Miséria, Servidor de Dois Estancieiros, da Oigalê Cooperativa de Artistas Teatrais, que conquistou o público com a bem-humorada história do ferreiro Miséria, seus dois patrões e os personagens que lhes cercam.

A noite de sábado ainda reservava vários shows. Para mim, o  que mais prometia era o do Sargento Pimenta, bloco carnavalesco carioca que toca clássicos dos Beatles como All You Need is Love e Yellow Submarine em ritmo de samba (e que, hoje (23), se apresenta na choperia Stadt Bier). Fora as festas, como a sempre bombada Makossa, apresentações musicais em bares e shows , para mim, de gosto duvidoso, como o do "romântico" Tiaguinho.

No domingo, perto da hora do almoço, peguei a bicicleta e fui conferir a exposição de fotos Laços de Família: Etnias do Brasil, na Biblioteca Nacional. Pedalando pelo Eixão fechado ao tráfego de veículos, pensava em ir também ao Conjunto Cultural da República (aquele em formato de bola, no centro da Esplanada dos Ministérios), onde estão em cartaz as exposições O Egito Sob o Olhar de Napoleão e outra de quadros do artista plástico Willy Bezerra de Mello. No final das contas, como tinha uma almoço marcado e perdi algum tempo apenas vendo o movimento de pessoas caminhando pelo Eixão, acabou não dando tempo. 

A tarde, segui para a Caixa Cultural para assistir a mais uma peça do festival de teatro. A da vez foi O Amargo Santo da Purificação, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, que levou algumas pessoas às lagrimas com o excelente e comovente espetáculo sobre a vida do político e líder da luta armada contra o regime militar, Carlos Marighella.

Para ver um filme, três peças e uma exposição, (mais um dvd em casa) durante apenas um dia e meio, tive que preterir quase uma centena de outras opções. Mas, entre um programa e outro, tive o privilégio de rodar a pé, de ônibus e de bike pelo arborizado Plano Piloto, sob sol e céu azul, enquanto, em boa parte do país, as pessoas tiritavam de frio. No fim das contas, comprovei para mim mesmo que, conforme afirmava, Brasília tem sim o que oferecer.  Inclusive barato ou de graça. Basta disposição e acesso à informação.

sábado, maio 19, 2012

Racionais canta Marighella

Enquanto não solta seu aguardado novo disco, o mais influente grupo do rap brasileiro, o Racionais, antecipa, na internet, um aperitivo do que vem por aí. Musicalmente, nem é tudo isso, mas em um tempo em que o rock nacional já não cumpre o papel de catalizar (nem que para fins comerciais) a rebeldia artístico-musical, ver os caras musicando "pros mano, pras mina e pros boy" o discurso "extremista" do militante - ou "terrorista"- de esquerda", Carlos Mariguella, não deixa de ser provocador.

segunda-feira, maio 14, 2012

Correio ressucita Brandon Lee


Desatenção. Em seu site, o Correio Braziliense usa foto de ator morto em 1993, durante as filmagens do filme O Corvo, para ilustrar o programa do recém-lançado O Corvo, protagonizado por John Cusack e que nada tem que ver com a personagem maquiada abaixo.

O corvo (The raven, Hungria/Espanha/EUA, 2012) 

Sinopse: O escritor Edgar Allan Poe está à procura de um assassino que se espelha nos crimes dos contos escritos por ele. 

Diretor: De James McTeigue Gênero: Suspense Duração: 111 minutos

Elenco: Com John Cusack, Luke Evans e Alice Eve


sexta-feira, maio 04, 2012

Românticos do Planalto Central


Ando preguiçoso. Levei quase um mês para editar e disponibilizar os vídeos e escrever algo sobre as apresentações dos brasilienses Alysson Takaki e Ingrid Cardozo no teatro da Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, em Brasília (DF), no dia 5 de abril. Enfim, aqui estão.

O show foi o primeiro do ano do projeto GRV360º|ConectandoCriações, promovido pelo selo GRV Discos, empresa brasiliense que conta com mais de 30 artistas em seu catálogo e opera também uma loja e uma agência promotora de eventos.

Gratuito, o show lotou o excelente Teatro Eva Herz e serviu para que Takaki lançasse seu segundo cd, Querer Sem Fim. Produzido pela competente Larissa Vitorino (que, no show, se destaca tocando guitarra ao lado da afinada banda que acompanha Takaki), o disco pode ser ouvido na íntegra no site da GRV. Não é muito minha praia, mas deu pra notar que Takaki agrada em cheio àquela  parcela do público que curte um som mais intimista e romântico. Ouça aqui e tire suas próprias conclusões.

A meu ver, no entanto, a surpresa da noite ficou por conta da voz cristalina e grave da jovem Ingrid Cardozo, que surpreendeu e conquistou a atenção do público. Mesmo sem entender nada do assunto (o que me dá a possibilidade de escrever besteiras subjetivas), eu diria que a menina promete, faltando-lhe apenas definir logo sua identidade artística e se projetar mais no palco, dando mais de si à interpretação. Nem só de momentos delicados e de voz afinada se faz um bom show.










quinta-feira, maio 03, 2012

Deputado do DF pode ser processado por tortura

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) inocentou a auxiliar de ensino infantil Tatiane Alves de Jesus da acusação de denúncia caluniosa contra o atual vice-presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Márcio Michel Alves de Oliveira (PSL). A auxiliar afirma ter sido torturada na época em que o deputado, conhecido como Doutor Michel, chefiava a 35ª Delegacia de Polícia, em Sobradinho (DF). O caso chegou à Corregedoria da Polícia Civil que inocentou o então delegado e determinou que Tatiane respondesse pelo crime de denúncia caluniosa. 

Com a decisão da Justiça em favor de Tatiane, cabe agora ao Conselho Especial do tribunal decidir se o deputado responderá criminalmente às acusações de tortura. Michel nega as acusações. O caso ocorreu em 2009. À época, Tatiane cursava o segundo semestre de pedagogia e trabalhava como empregada doméstica em uma casa de um condomínio em Sobradinho. 

No dia 15 de julho de 2009, a residência foi assaltada por homens encapuzados que fizeram Tatiane refém, trancando-a em um quarto. No dia seguinte, Tatiane compareceu à delegacia para prestar depoimento na condição de vítima e testemunha. Entretanto, segundo ela, os policiais queriam que ela admitisse participação no assalto. A ex-empregada doméstica afirma ter sido mantida incomunicável das 13h do dia 16 (dia seguinte ao assalto) até as 18h do dia 17 de julho. 

Depois de ser ameaçada e coagida pelos policiais, ela foi levada para a sala do então delegado Michel. Ela afirma que o delegado bateu em suas mãos por duas ou três vezes com um cassetete de borracha. Ele também ameaçou bater nos pés, caso ela não dissesse os nomes dos assaltantes. Sob tortura, Tatiane acabou assinando um termo de confissão. 

“Eu contei o que havia acontecido, mas o Doutor Michel não acreditou na minha versão. Eu fiquei por mais de 24 horas na delegacia e durante esse tempo fui torturada psicologicamente e fisicamente, com golpes de cassetetes nas palmas das mãos”, contou à Agência Brasil. Três dias após ter sido solta e orientada por um advogado, ela prestou queixa contra o delegado na Corregedoria da Polícia Civil. No local, Tatiane disse que sofreu ameaças por parte dele, que ordenou que ela não contasse o que havia ocorrido para ninguém. 

A denúncia também foi apresentada ao Núcleo de Controle da Atividade Policial do Ministério Público do Distrito Federal. No mesmo dia, Tatiane se submeteu a exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML), mas, como já tinham se passado três dias da prisão, nenhum hematoma foi encontrado. Sem provas concretas, a corregedoria concluiu que a professora não havia sido torturada e que Michel era inocente. Tatiane acabou sendo denunciada pelo crime de denúncia caluniosa, cuja pena varia de dois a oito anos de prisão. 

Para o promotor de Justiça, Mauro Faria, contudo, os autos do processo demonstram que “longe de ser o fato noticiado inexistente e de ser o [ex] delegado inocente, […] o crime de tortura ocorreu”. Em audiência no dia 28 de março, o promotor argumentou que Tatiane deveria ser absolvida e uma ação penal ajuizada contra Michel. 

“Mesmo que a acusada tivesse sido autora do roubo na casa da ex-patroa, o procedimento policial seria criminoso, pois não se pode torturar nem mesmo aos denunciados culpados para, assim, descobrir práticas criminosas.” 

Na última sexta-feira (27), o juiz Carlos Pires Soares Neto, da 4ª Vara Criminal, considerou improcedente a denúncia contra Tatiane e decidiu pela absolvição da auxiliar. O juiz também determinou que cópias do processo sejam remetidas ao Conselho Especial do TJDFT, órgão competente para processar e julgar, nos crimes comuns e de responsabilidade, os deputados distritais, além do governador, vice-governador e secretários de governo do Distrito Federal e Territórios.

Procurado pela Agência Brasil, o deputado distrital negou as acusações. “Não houve nada disso. Eu não torturei ninguém e se ela [Tatiane] foi absolvida [da acusação de denúncia caluniosa] é porque as provas não foram suficientes para condená-la. Agora, cabe apurar se as acusações que ela atribui a mim ocorreram e eu vou me defender se o conselho julgar necessário.” 

Composto por 17 desembargadores, entre eles os representantes dos advogados e do Ministério Público, o conselho é presidido pelo presidente do TJDFT, o desembargador João de Assis Mariosi. Em função do feriado, até esta quarta-feira (2), a documentação ainda não havia sido encaminhada.


Deputado nega ter torturado ex-empregada doméstica

Vice-presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o deputado distrital Márcio Michel Alves de Oliveira, o Doutor Michel, nega ter torturado a ex-empregada doméstica Tatiane Alves de Jesus em 2009, período em que ele chefiava a 35ª Delegacia de Polícia, em Sobradinho (DF). 
Na última sexta-feira (27), o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) absolveu Tatiane da acusação de denúncia caluniosa contra o ex-delegado e determinou que cópias do processo sejam remetidas ao Conselho Especial do tribunal, órgão competente para processar e julgar, nos crimes comuns e de responsabilidade, os deputados distritais. Caberá ao conselho decidir se o deputado responderá criminalmente à acusação de ter torturado Tatiane para, segundo ela, obter uma falsa confissão de participação em assalto.

“Eu não torturei ninguém e se ela [Tatiane] foi absolvida [da acusação de denúncia caluniosa] é porque as provas não foram suficientes para condená-la. Agora, cabe apurar se as acusações que ela atribui a mim ocorreram. Eu vou me defender se o conselho julgar necessário e provar que o que ela diz não passa de uma falácia”, disse o deputado e delegado aposentado a Agência Brasil.

Michel diz estar convencido da participação de Tatiane no assalto à casa onde ela trabalhava como empregada doméstica. “Mesmo a Justiça tendo absolvido, eu tenho certeza de que ela participou do roubo junto com as pessoas que entraram na casa. Os indícios e as contradições no depoimento dela me levaram a não ter dúvidas quanto a sua participação”, comentou o deputado, que admite que nenhum dos assaltantes presos confessou a participação de Tatiane.

“Ela disse que os assaltantes a prenderam sozinha em um quarto da casa, mas era um cômodo com uma janela com menos de 1 metro de altura que dava para um matagal. Por que ela não fugiu? Além disso, é muita coincidência que os assaltantes morassem no mesmo bairro da Cidade Ocidental em que ela vivia e fossem praticar o roubo em Sobradinho. Enfim, o delegado não trabalha com provas reais e, sim, com indícios e o conjunto de indícios nos levaram a crer que ela estava de conluio com as pessoas que praticaram o roubo”, contou.

Ao longo de 27 anos na Polícia Civil, 15 deles como delegado, Michel respondeu a pelo menos cinco denúncias por abuso de poder, tendo sido inocentado pela Corregedoria da Polícia Civil em todas elas. “Só não responde a denúncias quem não trabalha. Agora estão querendo manchar minha imagem. Como não me pegam em negociatas, estão querendo me pegar pela minha vida profissional. Não vão conseguir.”

Para Michel, o resultado do exame de corpo de delito deixou claro não haver provas de que Tatiane tenha sido torturada. “Ela foi ao IML e nada foi constatado. Como uma pessoa que diz ter sido torturada não tem marcas? Por isso ela foi indiciada por falsa comunicação de crime. Se não há marcas, como provar a tortura? Eu teria que ser muito hábil para torturar sem deixar marcas. E eu nem sou hábil nem torturador. Eu era delegado.”

Tatiane e seu advogado, Gilberto Gonzaga, afirmam que o exame não constatou as marcas das agressões com cassetetes porque foi feito quatro dias depois da prisão.

"Só quero meu nome limpo", diz ex-empregada que acusa deputado do DF de torturá-la

A ex-empregada doméstica Tatiane Alves de Jesus disse que se sentiu aliviada quando soube, pela Agência Brasil, que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) a absolveu da acusação de caluniar o deputado distrital e ex-delegado de polícia Márcio Michel Alves de Oliveira, o Doutor Michel (PSL). Tatiane de Jesus afirma ter sido torturada pelo deputado distrital em 2009, quando ele ocupava o cargo de delegado em uma delegacia de polícia da capital do país.

Procurada esta manhã (3), Tatiane comentou jamais ter entendido como, de vítima e testemunha do assalto à casa onde trabalhava em 2009 e de autora da denúncia de que o delegado a teria torturado para que ela confessasse participação do roubo, acabou respondendo à acusação de denúncia caluniosa, crime cuja pena varia de dois a oito anos de prisão e da qual foi inocentada na última sexta-feira (27).

“É uma pergunta que nem mesmo o juiz soube responder quando eu fui denunciada. Eu pensei comigo: este é o Brasil. Um inocente pode ir pra cadeia enquanto vários culpados estão soltos”, lamentou a ex-empregada doméstica que, hoje, trabalha como auxiliar de ensino infantil. Ela espera que, com a absolvição do crime de denúncia caluniosa, Doutor Michel “pague por toda a mudança na minha vida”.

“Eu só queria meu nome limpo. Até porque preciso disso para prestar um concurso público. Para mim, o caso se encerrou aqui, embora eu espere que a Justiça seja feita”.

Na entrevista a Agência Brasil, Tatiane de Jesus lamentou que a ex-patroa dela tenha acreditado na versão da Polícia Civil. A ex-empregada repetiu tudo o que narrou nos vários depoimentos que prestou desde julho de 2009. Naquela data, sustenta, três homens armados invadiram a casa em que trabalhava, em um condomínio de classe média na cidade satélite de Sobradinho.

“No dia seguinte ao roubo eu fui à delegacia para servir de testemunha. Contei o que tinha acontecido, mas o Doutor Michel não acreditou na minha versão. Eu fiquei por mais de 24 horas na delegacia e, durante esse tempo, fui torturada psicologicamente e fisicamente”.

De acordo com Tatiane, o delegado e hoje vice-presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal pegou um cassetete e bateu nas palmas das mãos dela ao menos quatro vezes. “Ele dizia que sabia que eu não era bandida, mas que eu tinha cometido uma falha e que era melhor eu confessar ou, então, ele passaria a bater também nos meus pés e a situação ainda iria piorar. Ele queria [provar] que eu era a mandante do roubo. Eu assinei uma confissão admitindo ter ajudado os assaltantes, mas nem me lembro direito do conteúdo da confissão porque eu estava apanhando”.

A ex-empregada disse que ficou incomunicável na 35ª Delegacia de Sobradinho das 13h do dia 16 às 18h do dia 17 de julho.

À Agência Brasil, o deputado distrital Doutor Michel negou a acusação de tortura. Ele garantiu que, durante este tempo, Tatiane falou com várias pessoas que estiveram na delegacia. “Quando ele me soltou, ameaçou me matar se eu contasse a alguém o que tinha acontecido. Só que eu não tenho medo. Sinceramente, eu não tenho medo”, comentou Tatiane. Depois de liberada, Tatiane prestou queixa contra Michel na Corregedoria da Polícia Civil e se submeteu a exame de corpo delito no Instituto Médico-Legal (IML).

“O resultado apontou um laudo impreciso porque, além do tempo que havia passado, as mãos têm uma facilidade maior de esconder hematomas”, explicou Tatiane de Jesus.