sábado, setembro 08, 2012

Aqui é só SUUCEESSOOOO!



Vinte minutos em um local público em que se ouvia ao fundo, em bom volume, como não poderia deixar de ser, uma tal de Club FM. Vinte minutos. Foi o máximo que suportei. Abandonei o recinto após ouvir um sujeito cantando que iria rolar um tal de tcha-tcha-tcha; um segundo propagando que queria o tchum (?) e também o tchá (??) e um terceiro tecendo loas ao tche-tche-re-tche-tche. Saí de fininho antes que as onomatopéias baixassem a níveis ainda mais infantilóides. 

É impressionante. Por que eu não imponho a ninguém (salvo, talvez, aos meus vizinhos) que ouça Criolo, Karina Buhr, Cartola, Chico Buarque, Luis Melodia, Racionais, Xis, Kings Of Leon, Led Zeppelin, Jorge Drexler, Jarabe de Palo, etc, etc, etc... mas estas pessoas "animadas" acham que tem o direito de me inflingir aquilo de que gostam? Já percebeu que ninguêm no ônibus NUNCA se sente no direito de sacar um celular do bolso e colocar Miles Davies ou Charlie Parker para todos os passageiros ouvir? Pelo contrário. Se há por aí um sujeito carregando as Bachianas de Villa-Lobos no telefone móvel ele as está ouvindo baixinho, envergonhado, sob o sigilo dos fones de ouvido. 

Pior que ao fim dos apenas vinte angustiantes minutos, no exato momento em que eu me perguntava como preencher a programação radiofônica com tanta poesia de gosto duvidoso, eis que um dos três sujeitos já citados volta a soar. Só que é a mesma música de antes. Só não digo quem ou qual porque, para mim, todos se parecem. Pior: melodicamente, as músicas todas se parecem. Só mudam as onomatopeias.

Já as personagens das letras ou são cornos que, traídos, caíram na balada e, por mais que suas conversões soem inverossímeis, viraram machos-alfa pegadores, ou então são sujeitos que deixaram ou foram deixados por uma mulher e a desejam de volta após uma insatisfatória e também inverossímil temporada como cafajestes-sensíveis. Qualquer que seja o caso, nenhum dos dois tipos se cansa de propagandear os benefícios da cerveja - o que ajuda a receber um convite para se apresentar na Festa do Peão de Barretos, evento no qual as mulheres desacompanhas costumam ser tão bem tratadas quanto nas letras de alguns funks.  

Por que digo que suas histórias são inverossímeis? Você consegue imaginar um tipo que chegue falando para uma mulher madura sobre a possibilidade de ambos fazerem juntos um tche-tche-re-tche-tche gostoso se dando bem? Talvez eu tente só para colocar minha tese à prova, pois acho que não é à toa o grande número de mulheres solteiras ou que preferem adiar os planos de ter filhos. Como educar uma criança com a ajuda de um sujeito que se refere ao ato sexual ou a carícias como o "tcha-tcha-tcha"? Uma dupla inclusive resgatou e publicizou a velha e grosseira expressão "tchaca-tchaca na buchaca", que adolescentes e adultos machos há décadas veem usando entre si de forma pejorativa. 

Enquanto isso, aqui mesmo em Brasília, a Kiss FM saiu do ar sem qualquer explicação. Do dia pra noite, a classic-rock radio deixou no dial um simples ruído. Isso aconteceu uma semana após quatro ou cinco pessoas que pouco tem em comum além do fato de trabalharem juntos elogiarem a programação e afirmarem ser ela (a Kiss) uma das poucas, senão a única, rádio musical que ouviam na capital federal.

Vai ver que nem os empresários e anunciantes que não curtem tcha-tcha-tcha acham mais necessário e justo impor suas preferências aos ouvintes. Pelo sim, pelo não, melhor eu não me esquecer mais dos fones de ouvido. 

Um comentário:

Anônimo disse...

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