terça-feira, outubro 02, 2012

Cláudio Willer e a "geração beat" no Sebinho


Sebinho. O inapropriado diminutivo não dá conta do tamanho do lojão que ocupa todo o térreo e o subsolo do bloco C da 406 Norte, em Brasília. Muito menos do tamanho do acervo de livros, revistas em quadrinhos, cds, lps, dvd, vhs, camisetas, entre outros objetos culturais acumulados ao longo de 26 anos, tudo disposto em infinitas prateleiras. Pra arrematar, há ainda um café-restaurante bem sortido (embora não muito barato) que costuma ficar cheio do meio da tarde até o a noite e um auditório de tamanho razoável.

Hoje (2), o Sebinho recebeu o poeta, ensaísta e tradutor Cláudio Willer, autor do livro A Geração Beat (LP&M) e tradutor de importantes obras, como a coletânea Escritos de Antonin Artaud (ei! peraí! onde foi parar o meu exemplar? quem está com ele?)

Willer veio a capital federal falar sobre a poesia e a rebelião na geração beat (ah, vá! Eu já falei bastante aqui neste blog sobre o grupo de escritores que, a partir de 1950, romperam com o cânone literário, anteciparam em dez anos movimentos culturais como o hippie e do qual a obra mais popular é o livro On The Road, de Jack Kerouac, que inspirou o filme Na Estrada, de Walter Salles). 

E como ficou claro ao fim de duas horas, quando se trata de geração beat, o problema de Willer não é a falta de assunto, mas sim o contrário. Falta é mais tempo para ele apresentar todos seus argumentos necessários a convencer aqueles que ainda não estão certos do valor literário não apenas da obra de Kerouac, mas de outros beats, como o grande poeta Allen Ginsberg, autor de Uivo ("vi os expoentes de minha geração destruídos pela loucura / morrendo de fome, histéricos, nus / arrastando-se pelas ruas do bairro negro...")

"Kerouac é um autor colossal que até hoje paga uma enorme preço por ter escrito a obra máxima [da ficção] segunda metade do século XX. Obra que inspirou rebeliões e que, por isso mesmo, é atacada até hoje por críticos que não aceitam a confusão entre a vida e a poesia. Ele tinha uma enorme sensibilidade auditiva e sua escrita, bem como trechos de outros autores beat, são exemplos de uma escrita caracteristicamente polifônica, em que os autores buscam uma linguagem que extrapole a lógica do discurso aristotélico", disse ao falar do autor de On The Road. 

Sobre Ginsberg: "Ginsberg conseguiu ser expulso da Tchecoslováquia e de Cuba, ao mesmo tempo em que era vigiado e considerado suspeito pelo FBI e por Hoover. Não fossem a cirrose e o conseqüente câncer que o matou, teria, hoje, 85 anos. Estaria no front, participando dos debates políticos deste milênio. Estaria marchando em Wall Street, junto com o Occupy"

Como não poderia deixar de ser, tão logo o microfone foi aberto para que a plateia fizesse perguntas, veio a inevitável questão sobre o que Willer achou do filme Na Estrada, de Salles. "Um filme baseado em qualquer obra literária sempre é algo arriscado porque o filme estará sujeito a duplo julgamento: do filme por si próprio e da comparação com o livro. Há cenas belíssimas, bons atores - embora o ator principal, que interpreta Kerouac, tenha sido mal escolhido - e o roteiro tenha conseguido resolver certas coisas de maneira muito eficiente. Mesmo assim, achei que ficou faltando algo".  

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