quarta-feira, julho 31, 2013

World Press Photo



Últimos dias para visitar e conhecer, no Teatro da Caixa, em Brasília (DF), as fotos premiadas no World Press Photo deste ano (2013). Conflitos, muitos conflitos - a organização responsável por selecionar as mais tocantes fotos publicadas pela imprensa mundial durante o ano passado não perderia a oportunidade de "denunciar" as mazelas decorrentes de guerras e confrontos armados como os da Faixa de Gaza, Síria e de outras paragens.  

O mundo é foda! Sim, é. Um homem violento abandonado por sua mulher pode jogar ácido no rosto da ex-esposa e da própria filha, desfigurando-as. Há conflitos armados por toda a parte. Doenças, etc, etc. Por sorte, há também assuntos mais amenos: ensaios sobre pinguins,  atletas olímpicos em ação; cenas cotidianas. E tome mais desgraça. Mesmo assim, é um programa imperdível. E gratuito.  

Ao sabor da seca e torta poesia do Cerrado


"A idéia de uma cidade do futuro atravessa os séculos"

Nova oportunidade dos brasilienses assistirem ao documentário Sob o Signo da Poesia (2011), de Neto Borges. O filme de 77 minutos traz depoimentos de artistas que ou nasceram na capital federal ou adotaram a cidade. Gente como o  poeta Nicolas Behr, o cineasta Vladimir Carvalho, o livreiro Ivan Presença, o músico Renato Matos, o artista plástico Bené Fonteles, o rapper Gog, entre muitos outros. Às 20h, no Espaço Cultural do Shopping Brasília, de graça.




O semifosco foi conferir e atesta: EX-CE-LEN-TE. Impossível a quem vive na cidade não sair se sentindo um pouco mais brasiliense depois de assistir ao inspirado documentário de Neto Borges e acolher a definição do cineasta Vladimir Carvalho, para quem Brasília, fruto do encontro de gênios do modernismo brasileiro, por muito tempo foi como que um "tubo de ensaio da utopia" - utopia interrompida com o golpe militar de 1964. 

Já para quem não conhece a capital federal e tiver a oportunidade de assistir a essa homenagem visual à cidade e a seus artistas, creio que ficará a curiosidade de descobrir se Brasília vai além dos velhos clichês repassados a todo instante nos meios de comunicação e, de fato, possui a pujança criativa revelada por Borges. 

Filmadas com apuro técnico e bom gosto, as imagens são belíssimas (homenagem aos artistas plásticos do Cerrado?). Os depoimentos, por sua vez, são carregados da verdade de quem vive a cidade, abrindo-se para o que ela tem de bom e de ruim. Poesia inspirada. Muitas histórias: o texto do projeto arquitetônico de Lúcio Costa, vencedor do concurso que escolheu a concepção da futura capital revisado por Carlos Drummond de Andrade; JK hospedando Tom Jobim e Vinicius de Moraes no Catetinho quando tudo não passava de barro e os dois, além de atenderem à encomenda de compor uma sinfonia (menor), compondo Água de Beber, Camará à beira de uma fonte. Tantos personagens...   

A certa altura, alguém (não me recordo quem. Bené Fonteles? Carvalho?) afirma que Brasília não é para principiantes. Lógico. Se isso, à época, era o moderno, a vanguarda que (talvez) não vingou, poucos, ainda hoje, entendem a dura poesia concreta do urbanismo local e a deselegância discreta do cerrado (nem tudo que é torto é errado: vide as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado-Nicolas Behr). 

Daí que, ainda hoje, como bem diz o músico Renato Matos (pai da cantora-rapper brasiliense Flora Matos, bombando em Sampa entre os alternativos do Baixo Augusta) tem muita gente que chegou a Brasilia e até hoje não abriu as malas, deixadas fechadas em um canto, prontas para partir em um breve sempre adiado.  Esses precisariam fazer um esforço de compreender esse filme. 

segunda-feira, julho 29, 2013

E a Anglo American, hein?




Quase quatro meses após o acidente que matou pelo menos quatro trabalhadores de um terminal portuário privado perto do Porto de Santana, a cerca de 20 quilômetros de Macapá (AP), dois funcionários continuam desaparecidos e as autoridades seguem tentando identificar as causas do acidente. O deslizamento de parte do terreno onde a empresa multinacional Anglo American armazena milhares de toneladas de minério de ferro ocorreu na madrugada de 28 de março. O material caiu sobre o píer flutuante onde atracavam os navios que transportam o minério vendido pela empresa a países do Oriente Médio, Ásia e Europa.

sábado, julho 27, 2013

Let´s Don´t Worry


KCT! O que dizer? Atraso, problemas com o som, dois corpos tentando ocupar o mesmo lugar, banho de cerveja quando você não está podendo beber nem água gelada, baforada de cigarro na cara, patricinhas de salto agulha fazendo social e tagarelando sem parar... nada foi capaz de ofuscar o brilho da apresentação gratuita dos músicos do projeto/banda Playing For Change, ontem (26) a noite, em Brasília. Afinal, "let´s don´t worry my brother [...] we must find a peace [...] and you have got the good vibration"* Agora, o semifosco aqui,ainda sonado, inadvertidamente deletou o outro e melhor vídeo já editado, de forma que, para meus três leitores que não estiveram lá, resta esse aí abaixo e o arrependimento.




* Permita não se preocupar meu irmão [...] Temos de encontrar a paz [...] e você tem uma boa vibração

quinta-feira, julho 25, 2013

Soul Samba de Sá


Eu ia escrevendo "esta noite, a potente voz grave de Sandra de Sá preencheu de swing e simpatia o teatro lotado da Caixa Cultural, em Brasília, levando os fãs a cantarem junto com ela os maiores sucessos da carreira desta carioca que já faturou cinco prêmios Sharp como melhor cantora brasileira (88; 90; 93; 95 e 2005)"..., mas quer saber, além de já ser tarde, todos - até meus três leitores - conhecem a nêga. E melhor que ler uma pretensa e rudimentar crítica musical minha é conferir a própria Sandra de Sá cantando durante o show. Outra coisa é que, além do vídeo-testemunho da apresentação (abaixo), este texto vale pelo título. Ou não, embora eu modestamente defenda que Sandra deveria me pagar um royaltie e usá-lo em um próximo disco em que explicitasse ainda mais suas influências de soul e samba.

Eis um primeiro vídeo. Depois baixo outro. Pra quem não foi, é isso ou conseguir um ingresso e ir pessoalmente conferir amanhã (26/07) este "aperitivo" acústico que a cantora está apresentando na companhia de dois excelentes instrumentistas, ansiosa, conforme ela mesma demonstrou, para trazer o show e a banda completa à capital federal.    

 

quarta-feira, julho 24, 2013

(Republicando) Nomes Anacrônicos




Enquanto a madrinha Naninha se ocupava da cozinha...
Muito se falou em Fonseca, Braz, Pessoa, Bernardes, Vargas, Dutra, JK, JQ, JG, Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo, Tancredo, Sarney, em ambos os Fernandinhos, em Itamar e em outros cujos nomes o tempo encarregou de apagar do seletivo caderno goiabada da dinda.
Foram tempos conturbados durante os quais a Tia Mariquinha ficou viúva, doou todos os seus bens e passou a morar com os filhos. E Noeme, após se casar com Ocozias, deu à luz Edilva, Edjanira, Edila, Edirce, Esmênia e Edsonina. 
Longe dali, Hitler se casou com Stalin e gerou Franco, Salazar, Peron, Getulio Vargas, Mussolini e uns outros tantos ainda em processo de reconhecimento.
O tempo passou na janela e Maurício, que sempre achou seu nome extremamente comum, decidiu que seu filho se chamaria Hermenegildo. Gildo nasceu à mesma época que Otogilson, Otovilmo e Otomilton. Que, além de serem irmãos, são primos dos também irmãos Edson, Edla, Edvane e Edlene. Ingborg não. Embora só brincasse com eles e até se parecesse um bocado, Ingborg é irmão dos gêmeos Ricobert e Rigobert. Com quem não se parece nem um pouco.
Mas Pinochet, Videla, Stroessner, Castello Branco e Fidel também não se pareciam. Pelo menos, não fisicamente.
Orozimbo Neto afina motores automotivos, vive em Santos, onde enche a cara de cachaça e não tem absolutamente nada que ver com a história pessoal da madrinha Naninha. Mas entrou na dança porque Bimba, que também se chama Orozimbo, afina pianos e tem parentesco com os supra-citados. Desconfio que ambos jamais saberão da existência um do outro. 
Os amigos só chamam Formaggio pelo carinhoso apelido de...queijo. 
Ainda hoje se fala muito de Vargas, Dutra, JK, JQ, JG, Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo, Tancredo, Sarney, de ambos os Fernandinhos, de Itamar, de Pinochet, Videla, Stroessner e de Fidel. Mas as pessoas os chamam por nomes nem um pouco carinhosos.
Quando fundou a Fazenda Bom Jardim dos Cristais - onde fica a cozinha em que, ainda hoje, em tempos pós-modernos, a madrinha Naninha segue se ocupando de seus doces e bolos - Zezeca não imaginava que iria dar início a esta pitoresca saga familiar em busca do nome mais esdrúxulo. 
Tampouco Cabral, o portuga, sabia.

terça-feira, julho 23, 2013

Playing For Change em Brasília



Notícia quase boa demais para ser verdade: músicos do projeto Playing For Change tocam nesta sexta-feira (26), de graça, na área externa do Museu da República, em Brasília (DF). 

E não é só. Além do P.F.C., a programação da sexta edição do Festival da Mulher Afro Latino Americana e Caribenha – Latinidades inclui shows, na sexta-feira, da cubana Krudas Cubensi e da curitibana Karol Conka. Já no sábado (27), vai rolar, de Brasília, a Banda Funkeando, o DJ Chocolaty e o grupo El Patito Feo, seguidos por Black Alien e pela DJ Donna. 

Tudo na faixa, talvez ainda sob esta lua cheia que esta semana preencheu o céu seco da capital.





segunda-feira, julho 22, 2013

O brinquedo do diabo


Quando eu iria imaginar a existência de um filme como este curta the devil´s toy, filmado ao melhor estilo Nouvelle Vague de clássicos franceses como Os Incompreendidos*, lançado apenas quatro anos antes, pelo cultuado cineasta francês, François Truffaut. 

*(Os Incompreendidos é sobre um garoto de 12 anos que, com dificuldades de relacionamento com os pais, passa a cabular, bolar, gazetear aulas para zanzar pela cidade e cometer pequenos delitos que acabam o levando a ser internado em um reformatório. Grande clássico da temática rebeldia juvenil)



Dedicado "às vítimas da intolerância", o curta foi filmado nas ruas de Montreal, Canadá, por Claude Jutra, ainda em 1966. Sinal de que a repressão ao ócio criativo e o empenho de milhares de jovens dispostos a demonstrar que "Skateboarding is not a crime" não é de hoje. E de que tampouco a perseguição ao "carrinho" começou no Brasil, onde, em 1988, o então prefeito de São Paulo, o ex-presidente da República, Jânio Quadros, proibiu a prática do esporte em toda a cidade (assista no fim do post trecho do excelente documentário brasileiro Vida Sobre Rodas) 

Hoje motivo de piadas, o episódio, na época, levou centenas de crianças e adolescentes à desobediência civil, gerando matérias e mais matérias na mídia. Mesmo assim, até o ano passado, tramitava na Câmara Municipal de Santos (SP), um projeto de lei para restringir o ir e vir de skatistas, limitando o deslocamento a locais predeterminados.

quarta-feira, julho 17, 2013

Não basta ter. É preciso ostentar




Que ligações pode haver entre o sucesso do Funk Ostentação na capital paulista e o fato da cidade responder por 71% do total de carros blindados em todo o país? 

Falhamos e, aparentemente, perdemos. Quando digo nós, me refiro aos antiquados humanistas que ainda acreditam que mais vale Ser que Ter. Falhamos em transmitir nossas boas intenções, valores e crença no ser humano. Com isso, assistimos à sucessivas gerações se rendendo em quantidades cada vez maiores ao canto da sereia do capitalismo e da publicidade, para a qual Ter é a essência e o fim mesmo do Ser. Alguns ainda resistem, é verdade, mas é preocupante ver o antigo inconformismo juvenil empacotado, etiquetado e posto à venda.  

Não que o materialismo seja algo novo, mas depois dos yuppies, dos metrosexuais, das fashion victim´s, um novo fenômeno cultural vem chamando a atenção da mídia. Trata-se do Funk Ostentação, corrente do estilo musical (Funk) que primeiro conquistou a periferia das grandes cidades brasileiras para, a partir daí, se espalhar por entre todos os estratos sociais.

Mesmo que inicialmente criticados pelas letras que ora retratavam as dificuldades e a violência da realidade periférica, ora simplesmente faziam apologia ao crime (os chamados Proibidões), alguns MCs (mestres de cerimônia, aqueles que cantam acompanhados por um DJ) hoje tocam em boates e clubes chiques aos quais, até há pouco tempo, não teriam acesso. Além disso, fazem sucesso entre playboys e patricinhas com os quais, de outra forma, só teriam contato na condição de empregados ou atendentes. 

Como no já tão analisado caso de jogadores de futebol saídos da periferia, com o sucesso "artístico" veio o aparente sucesso financeiro. E com o livre acesso à área vip, a assimilação dos valores da elite e o desejo de com ela se parecer. Há MCs surfando a crista da onda que chegam a fazer até cinco apresentações por noite, por um cachê médio de R$ 5 mil por meia hora de show. Alguns jovens recém-saídos da adolescência afirmam que, em um bom mês, cerca de R$ 200 mil pingam em suas contas. Grana automaticamente reinvestida não propriamente para assegurar um futuro tranquilo ou aprimoramento pessoal, mas sim em objetos símbolos de status que servem para exibir ao mundo todo, de forma primária, sua ascensão econômica. Pior. Como disse um MC durante o programa A Liga, da tv Bandeirantes, essa ostentação serve não só como cartão de visitas e marca pessoal, mas também como forma desses jovens se sentirem incluídos na sociedade que lhes negava o básico, como uma educação pública de qualidade.

Culturalmente, é impossível não notar o paralelo entre o Funk Ostentação e a trajetória do Rap comercial norteamericano, sucesso absoluto nas paradas musicais de todo o mundo. Criado a partir de conceitos da música jamaicana e desenvolvido nas ruas de comunidades negras dos Estados Unidos como um dos elementos da cultura hip-hop, o Rap, inicialmente, também se caracterizou por um discurso (nem sempre bem-articulado) contestatório e realista que chocava uma grande parcela do público. Com o tempo e a profissionalização, foi sendo assimilado pela classe média e pelo mercado norteamericano e, consequentemente, pelo show business mundial. A ponto de, hoje, alguns dos maiores sucessos musicais em escala global virem de artistas do gênero, tais como Jay-Z, cujo último disco, lançado há poucos dias, ocupa o topo da parada britânica, a frente do cantor inglês Rod Stewart. Um dos maiores milionários do show business, Jay-Z é casado com a cantora Beyoncé, cujos discos produziu - o que demonstra que a influência do Rap vai muito além dos artistas que, embora domesticados e ideologicamente nulos, continuam fazendo cara de mau enquanto inauguram suas próprias grifes e assinam produtos como tênis e perfumes. E cujos videoclipes cheios de mulheres, carrões, bebidas caras e ouro inspiram o Funk Ostentação. Enquanto isso, o rap brasileiro realmente relevante segue, até agora, o viés mais politizado de continuar denunciando mazelas nacionais como a desigualdade social e a violência, inclusive policial. De forma que, do ponto de vista do conteúdo, no Brasil, o Funk Ostentação está muito mais próximo do chamado Sertanejo Universitário, com "caipiras" endinheirados falando sobre carrões, bebidas e "pegar" mulher, do que do Rap ou do próprio Funk.

Exibido nessa terça-feira (16), o programa A Liga que citei acima e que motivou esta reflexão foi um dos melhores produtos telejornalísticos a que assisti nos últimos tempos. Sem fazer sensacionalismo ou apologia, mas também sem se furtar a apontar as contradições entre o discurso do Funk Ostentação e a realidade dos jovens fãs do gênero, conseguiu o que poucos conseguem: provocar questionamentos entre quem o assistiu. Tanto que aqui estou eu, escrevendo este longo post a partir de apenas uma parte das questões que me ocorreram enquanto assistia às declarações de alguns dos principais nomes do gênero. 

Na íntegra do programa postada no youtube, a maioria dos internautas que comentaram revelaram ter se identificado com o que viram. Alguns criticaram o estilo musical. Apenas um, contudo, questionou a questão da ostentação. Eu, da minha parte, gostaria de ver algum especialista se aventurar a traçar um paralelo entre a popularização do Funk Ostentação e as quase duas décadas de estabilidade e crescimento econômico brasileiro do qual esses jovens se beneficiaram direta ou indiretamente. Deve haver alguma relação, já que, há pouco tempo, seria impensável adolescentes se vangloriarem por ostentar marcas cujo único conceito embutido no logotipo é o status de possuir um produto caro e acessível a poucos (O fetiche por marcas não é novo, mas, até há pouco, elas precisavam se esforçar por embalar seus produtos em conceitos como qualidade, potência, eficácia ou liberdade).

De sobra, daria para enveredar pela tão propagada quanto artificial ascensão da nova classe média que, como os proeminentes funkeiros, se caracteriza pela despolitização e "melhoria" medida em função do acesso a bens de consumo como tvs de tela plana, carros, etc - enquanto os filhos da antiga classe média saem às ruas para pedir melhor saúde, educação e transporte público.  

Também não consigo imaginar que garotas admitissem publicamente, em cadeia nacional, que é melhor ser vista pagando mico dançando de graça em um palco, ao lado de um funkeiro,  do que estar "junto à ralé" na pista de uma boate. Ou um sujeito rir enquanto é chamado de trouxa por pagar bebidas a duas garotas que acaba de conhecer e que, juram, no fim da noite, darão um jeito de despistá-lo. Ou pais jurando que é preferível ver seus filhos de 12, 13 anos, cantando as letras de apologia a cordões de ouro, relógios caros, champagne ou whisky do que letras "violentas", como se a ostentação, em um país de tantas desigualdades, não fosse uma das brutais violências.

Que ligações haverá - se é que há - entre o sucesso do Funk Ostentação na capital paulista e o fato da cidade responder por 71% do total de carros blindados em todo o país? Será correto artistas estimularem jovens a portarem (se, por meio nem sempre lícitos, puderem ou conseguirem) jóias ou produtos caros quando o número de homicídios dolosos cresceu 18% em relação ao mesmo período de 2012 após 11 anos seguidos de queda?


segunda-feira, julho 15, 2013

blogueiros voluntários?


Acho que não entendi...

Ao participar, hoje (15), do programa de entrevistas Roda Viva, da TV Cultura, o presidente do PT, Rui Falcão, foi questionado sobre marketing eleitoral, alto custo das campanhas publicitárias e, principalmente, sobre quem paga pelo serviço do marketeiro João Saldanha. Falcão disse que o PT paga Saldanha pelos programas que ele produz para o partido. Não entrou em detalhes sobre a assessoria à presidenta, como no episódio das manifestações populares (já ouvi quem fale em um 33º ministro "sem pasta"). Concordou com a afirmação de que o custo das propagandas é alto, mas disse que esse é um serviço especializado "regulado pelo mercado" e, talvez, justificado pelo tamanho das equipes e sazonalidade com que é feito. Na sequência, o petista defendeu a necessidade de mudanças no sistema político para garantir e permitir novas e mais constantes formas de os partidos políticos se dirigirem ao eleitorado e de promover o debate político. 

Daí veio a pergunta sobre se Saldanha, bom marketeiro quando se trata de rádio e tv, não precisa se atualizar para lidar com as redes sociais. Mais que discordar, Falcão explicou que o trabalho da legenda na internet não se limita ao desenvolvido pela equipe de Saldanha. O argumento seguinte eu não entendi. Ou fiz não entender à espera de que alguém desenhe para eu compreender ...

Segundo Falcão, há, nas redes sociais, três diferentes (não lembro a palavra exata que ele empregou), digamos, usuários: os hackers, "com quem o PT não trabalha"; os partidários e.... os "grandes blogueiros voluntários" como Luiz Nassif, Paulo Henrique Amorim e Luiz Carlos Azenha. Atenção. Foi o petista quem confundiu rede social com blogueiros, não o semifosco aqui. Foi ele também que garantiu que o PT não trabalha com hackers, do que se conclui que `trabalha´ com os demais ... voluntários (?!)

Como não confio nas minhas opiniões nem quando penso ter entendido algo e como a cópia do programa ainda vai demorar um pouco para chegar à rede, fui checar se outras pessoas tinham ouvido o mesmo que eu como reagiram. Suzana Guaranikaiowá confirmou, no twitter, o que eu imaginava ter escutado: "Vi Rui Falcão falando de blogueiros voluntários e "estabelecidos" como os grandes Nassif, PHA e Azenha".  

Então ele, de fato, citou os três ao dizer que o PT não conta apenas com Saldanha para propaganda na internet. Mas em que contexto? Por quê? Não estou bem certo. Já o Cândido Cunha concluiu, também no twitter, que "Rui Falcão está entregando a galera dos tais blogs progressistas". Conclusão semelhante a de Rodrigo Terra, que escreveu que "agora o Rui Falcão entrega os "blogueiros progressistas" a serviço do PT e do governo Dilma".

O verbo entregar ou outros de idêntico sentido surgem em outras mensagens postadas na rede. Não serão muito fortes para atribuir a uma declaração que pode ter sido mal interpretada? 

Não para Deborah Alvim, que classificou como "impagável" a citação aos blogueiros que, nomeados pelo presidente do PT nessas condições, ela acabou por identificar como profissionais "chapa branca". Por quê? A melhor resposta vem de Henrique Costa: "Rui Falcão acaba de comprometer os blogueiros progressistas com o governo, citando um por um aqueles com quem o governo trabalha". 

Imagino que não pegue bem para jornalistas serem citado nesses termos, digamos, pouco claros. Partindo do princípio de que os profissionais da área dependem da credibilidade que inspiram, é de se imaginar que os três não tenham ficado nada satisfeitos com a declaração de Rui Falcão que eu não entendi, mas que suscitou conclusões como a de Jesus Artur Barbosa: "Quando ler alguma matéria de Nassif e de PHA, já sabe: marketeiros do PT".


Agora, seria oportuno não compreender um oportuno e idêntico ato falho que  viesse a ser inadvertidamente cometido por alguém ligado ao PSDB. E olha que não tem faltado oportunidades para uma infeliz e esclarecedora declaração como essa do petista. Só nas últimas semanas, o Roda Viva entrevistou, praticamente na sequência, FHC e Serra. Sobre o quê? Não me lembro, como também não lembro de mais nada que o presidente do PT disse há pouco - nada além disso mesmo que não entendi e de que ele afirmou ainda não ter ouvido o clamor das ruas por mudanças. Pois é. Só me lembro do que não entendi e do que Rui não ouviu. Mesmo assim, gostaria de ouvir quem são, na opinião do PSDB, nossos grandes jornalistas e blogueiros. É de se imaginar que o partido também acredite haver muitos deles. Eu próprio, mesmo não sendo tucano, me lembro de um que, nas últimas eleições, publicou vários textos defendendo (aparentemente, de graça) o nome do sujeito que ele próprio, jornalista, acreditava ser o melhor candidato tucano à prefeitura de São Paulo.  

Realmente, não sei porque os partidos pagam tanto aos publicitários. 

(no mais, o programa se desenrolou entre altos e baixos, tanto do entrevistado, quanto dos entrevistadores e, por horas, apareceu entre os assuntos mais comentados, no Brasil, no twitter) 

sexta-feira, julho 12, 2013

WikiRebels (documentario sueco sobre o WikiLeaks e Assange)


Se você acha que o assunto WikiLeaks não te diz respeito; se por desconhecer a história do soldado Bradley Manning você crê que o analista Edward Snowden é o primeiro e único a assumir o risco de passar o resto de seus dias na cadeia por ter vazado à imprensa documentos sigilosos norte-americanos; se não compreende que, sem transparência, o termo democracia não passa de uma palavra vazia e, principalmente, se você ainda não entendeu as implicações do provável monitoramento de telecomunicações pessoais e comerciais enquanto os governos fazem o possível para que as pessoas não tenham acesso integral à informações que deveriam ser públicas, bom... você deve assistir ao documentário WikiRebels, produzido pela emissora sueca SVT. E, se possível, também deve ler os livros WikiLeaks - A Guerra de Julian Assange Contra os Segredos de Estado (ed. Verus), e CypherPunks - Liberdade e o Futuro da Internet (Boitempo Editorial). 

O primeiro foi escrito por dois jornalistas do prestigiado periódico inglês The Guardian e coloca no chinelo a trilogia de ficção Millenium (aquela de Os Homens Que Não Amavam As Mulheres) já que, por mais inacreditável que soe a história e os declarados propósitos do criador do site de compartilhamento WikiLeaks, Julian Assange, tudo aconteceu de fato. Já o segundo livro é mais difícil, técnico, por se tratar da transcrição de conversas de Assange com os ciberativistas Jacob Appelbaum, Andy Muller-Maguhn e Jéremie Zimmermann - especialistas que, há muito, vem denunciando o que agora parece estar se tornando óbvio: 

"Uma guerra furiosa pelo futuro da sociedade está em andamento. Para a maioria, ela é invisível. De um lado, uma rede de governos e corporações que espionam tudo o que fazemos. De outro, os cypherpunks [entusiastas do uso da criptografia, ou mensagens cifradas, nas telecomunicações, sobretudo na internet], ativistas e geeks virtuosos que desenvolvem códigos e influenciam políticas públicas [...] Empresas como Google e Facebook monitoram todas as atividades de seus usuários para melhorar a eficácia da publicidade dirigida. O crescimento deste mercado criou bancos de dados muito amplos e precisos que têm sido requisitados regularmente pelos governos para combater o crime, mas também para controlar a dissidência política. O barateamento das tecnologias de armazenamento de dados também tem estimulado órgãos de inteligência a fazer monitoramento massivo das comunicações de cidadãos, algumas vezes com expressa autorização do Legislativo e do Judiciário"  

Se ao ver a duração total do vídeo (57minutos) você imaginar que o assunto não vai te prender a atenção, que não te interessa, faça um teste: posicione o cursor sobre a barra de rolagem do vídeo em 24 minutos e 56 segundos, aperte o play e assista ao menos até 32 minutos e 35 segundos. Se não se sensibilizar para a importância do tema, então você realmente não irá compreender porque, agora, no caso de Edward Snowden, é incompreensível, para não dizer covarde, a dúbia posição das autoridades brasileiras, que alegam repudiar a hipótese da agência de inteligência norte-americana (NSA) ter 'grampeado' as comunicações por telefones e e-mails de milhares de brasileiros, mas, ao mesmo tempo, se negam a sequer analisar o pedido de refúgio de Snowden, que corre o risco de ser preso justamente por ter revelado o que o governo brasileiro considera inadmissível.



quinta-feira, julho 11, 2013

A Arte do Skatista Zen


"Acredito que os governantes constroem a cidade pensando em votos, não nas pessoas. O legal do CityZen foi mostrar uma São Paulo mais bonita, de uma forma que o cidadão comum não consegue enxergar"- Guilherme Guimarães, in CemporcentoSkate

São Paulo zen?

Não. Não se trata do santo católico. Por mais contraditório que pareça, o documentário esportivo CityZen, distribuído junto com a edição de junho/julho da revista CemporcentoSkate, é mesmo a respeito da capital paulista, a "city" onde vivem ao menos dez milhões de almas. Algumas pra lá de sebosas e pouco afeitas à filosofia oriental.

São Paulo, todos sabem, é caótica, superpovoada, engarrafada, poluída, cinza, claustrofóbica, egoísta. Só que, há três anos, o filmaker Guilherme Guimarães e o skatista argentino, Steban Florio, decidiram aproveitar a oportunidade de fazer o filme promocional de uma marca de skate (Vibe) para mostrar que a cidade também é desafiadoramente transcendental aos olhos de quem se dispõe a explorá-la sobre um skate, usufruindo de modo particular de sua arquitetura e transformando suas imperfeições em obstáculos a serem transpostos.

Inspirados no sensacional vídeo de skate 1st and Hope, filmado pelas ruas de Los Angeles ao som do inspiradíssimo Beck, Guimarães e Florio arregimentaram cinco skatistas patrocinados pela marca (Léo Fernandes, Murilo Romão, Rafael Gomes, Wagner Ramos e o próprio argentino). Em seguida, definiram cinco rotas cortando bairros do centro de São Paulo que serviram de locação para que um atleta fosse filmado andando e manobrando forte. Detalhe: embora algumas gravações tenham se estendido por quase três anos, com várias tentativas até a concretização de manobras dificílimas, os skatistas eram filmados sempre usando a mesma roupa. O objetivo era dar a impressão de que cada uma das sessões havia sido filmada em um único dia. Meta atingida graças ao apuro da edição final e ao trabalho do colorista Alex Yoshinaga, que conseguiu dar uniformidade à luz, amenizando a impressão de cortes.

Mas esses detalhes pouco importam aos meus três leitores, não afeiçoados a vídeos de skate. Para esses meus amigos, tão exigentes em termos artísticos, eu pediria apenas a fineza de, caso assistissem ao filme (que, infelizmente, ainda não está disponível no youtube), atentarem para o apuro da fotografia, uma singela homenagem à arquitetura da cidade que amamos odiar. Ou para a eficiência da trilha sonora composta pelo músico Yoka a partir do estilo de cada um dos cinco skatistas e levando em conta alguma particularidade do bairro onde cada sessão foi gravada. E, principalmente, para a proposta dos dois "maloqueiros", Guimarães e Florio, que, com um despretensioso vídeo de skate, dedicaram três anos de trabalho para "tentar retratar a diversidade sociocultural paulistana", sobretudo da região central, onde a "sensação caótica" combina tão bem com o mais urbano dos esportes.

A meu ver, muitos publicitários, diretores de cinema e fotógrafos poderiam aprender algo com CityZen. E não só. Muitos gestores públicos notariam que o skate é capaz de dar vida à lugares mortos e degradados, como bem demonstra a Praça Roosevelt, em São Paulo, cuja recente reforma tem a ver com a persistência do mesmo skatista argentino Steban Florio.






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segunda-feira, julho 08, 2013

Escolha Você O Seu Próprio Melhor Lugar do Mundo


Ano que vem eu volto a Paraty para vender camisetas com o slogan "Fui à Flip e não assisti a nenhum debate". Ou então "Fui à praia em busca de inspiração".

Exagero à parte, do pouco a que assisti este ano, um bate-papo em particular desceu quadrado. Desde então estou tentando digerir o raciocínio do experiente jornalista e escritor carioca Ruy Castro. Para resumir sua fala de mais de uma hora basta citar a canção Cariocas, da gaúcha Adriana Calcanhoto.

"Cariocas são bonitos
Cariocas são bacanas
Cariocas são sacanas
Cariocas são dourados
Cariocas são modernos
Cariocas são espertos
Cariocas são diretos
Cariocas não gostam de dias nublados
Cariocas nascem bambas
Cariocas nascem craques"  

E o Rio é aquilo. E o Rio é não sei o que e mais um pouco. E se não é mais é por sei lá que causas externas. Razões que, segundo Castro, parecem superadas - mesmo que os fatos das últimas semanas, como a queda da popularidade do governador e do prefeito, as manifestações populares, a revelação de que as promessas do milionário carioca não passam disso e os novos confrontos em áreas ditas pacificadas contradigam o discurso otimista que norteou a mesa organizada pelo jornal paulista Folha de S.Paulo, com o improvável tema O Rio Voltou Mais Belo Que Nunca, Desta Vez Para Sempre (ou algo assim). 

Veja bem, a questão nem é o Ruy Castro, que se propôs a ir a Paraty falar sobre as diferenças entre escrever crônicas, biografias e reportagens - proposta recusada pelo jornal paulista, que optou pelo infundado, mas aplaudido tema. Inteligente, articulado e bem-humorado, Castro é conhecido por ser um ferrenho defensor das qualidades pretéritas e presentes do Rio de Janeiro. Tanto que eu mesmo fui à Casa Folha sabendo de antemão o que iria ouvir e, admito, de espírito armado.

Concordo que, cenograficamente, o Rio é lindo (assim como são Alter do Chão (PA), Pipa (RN),  Florianópolis (SC), Paraty (RJ), Brasília...) e que, por razões históricas e econômicas, o carioca, à força de muita divulgação, acabou associado à ideia-síntese do brasileiro (o que acho extremamente falso). 

Só que por mais que eu ache louvável este sentimento de pertencimento a um lugar, acho limitador um formador de opinião ficar reforçando estereótipos do tipo o Rio é maravilhoso enquanto "em Brasília, os filhos do poder seguem tirando meleca do nariz e as mulheres dos políticos saem às ruas de bobe nos cabelos". 

Entenda: não estou falando em defesa de Brasília. Tenho é preguiça para com esse papinho unilateral de "Ah, o Rio..."; "Ah, Paris à meia-noite"; "I Love NY". Ainda mais se a mesma frase reunir uma expressão de crença em um "novo protagonismo cultural" em tempos em que a digitalização permite à descentralização tanto da produção quanto do consumo cultural.

Ruy Castro tem suas razões pessoais e profissionais para amar o Rio de Janeiro. Woody Allen tem suas razões comerciais para fazer os guias de viagem cinematográficos a que vem se dedicando nos últimos anos (e já disse que quer rodar um filme no Rio. Basta o governo fluminense injetar dinheiro para termos mais uma peça publicitária para reforçar como o Rio é maravilhoso, mesmo com a ganância de seu setor hoteleiro). A questão, me parece, é cada um buscar seus motivos para louvar outros destinos menos óbvios. Pode ser o sorvete Marabaixo, de Macapá. As goianas. Um belo pôr-do-sol em Santos visto da Ponta da Praia. A loucura festiva de Belém. A água quente das praias nordestinas. As arquitetura grandiosa de Quito, no Equador. As seguras surpresas de Bogotá, na Colômbia. O pouco conhecido e barato caribe venezuelano....

quinta-feira, julho 04, 2013

Flip-se


ilustração, Alexandre Benoit - www.flip.org.br
by Alex Benoit

Embora já estivesse na cidade, no litoral sul fluminense, o semifosco não conferiu a palestra de abertura da 11ª Festa Literária Internacional de Paraty, ontem (4) a noite. Com isso, perdeu uma elogiada palestra do escritor amazonense Milton Hatoum (Dois Irmãos, Cinzas do Norte...). Convidado a falar sobre a obra de Graciliano Ramos, Hatoum foi além e, segundo as notícias publicadas hoje (5), envolveu a plateia ao analisar a construção de personagens como a cachorra Baleia e Fabiano (ambos de Vidas Secas), entre outros. E arrematou destacando a postura "ética e democrática" do autor alagoano. "Graciliano teve plena consciência das contradições sociais do seu tempo e viu nelas um impasse, que aparecia em questões como ausência e a ineficiência da educação brasileira" (extraído do suplemento especial de O Globo).

Como chegou à Tenda do Telão e se reuniu à "pipoca" (aqueles que não pagam ingressos nem mesmo para entrar no espaço de onde é possível acompanhar as palestras por meio de telões) mais tarde que de costume, para o semifosco a Flip deste ano começou com o show grátis de Gilberto Gil. Bom começo, embora o ex-ministro estivesse mais contido que de costume - acompanhado apenas por seu filho na guitarra e de um percussionista - e o som tenha apresentado problemas. O que gerou reclamações dos pipocas e de quem pagou para se acomodar confortavelmente na Tenda do Telão.

Sem entender o que gritava parte do público, Gil se saiu com a seguinte frase: 

_ O que foi gente? Estamos em assembleia? Vocês tem alguma queixa relevante ou é como nas manifestações? Tudo difuso? (logo veríamos que as manifestações populares dos últimos dias seriam o fio que perpassaria as poucas mesas a que o semifosco acompanhou hoje. Inspirados pela recente onda de protestos, os organizadores da Flip inclusive incluíram, de última hora, três mesas de debates para discutir às questões ligadas aos últimos fatos nacionais)

O show, leve, incluiu clássicos como Palco, A Novidade, Domingo no Parque e versões de Bob Marley e até uma inusitada versão de Imagine, de John Lennon. Hoje, horas após o show, Gil aproveitou sua participação no debate "Culturas Locais e Globais", com a historiadora Marina de Mello e Souza, para criticar a "torcida esbranquiçada" da Copa das Confederações. "Quase não se viam negros nos estádios", disse o músico, chegando inclusive a propor cotas de ingressos (ué! já não tinha?). 

Ah, o melhor...foi chegar a quarta-feira e as nuvens e o frio se afastarem de Paraty. Bom prenúncio.